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Perdão, Emília

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Título: Perdão Emília
Compositor: José Henrique da Silva e Juca Pedaço
Ano: 1889

Uma das mais antigas modinhas de que se tem notícia é a triste e melodramátrica "Perdão, Emília", cuja primeira gravação de que se tem notícia remonta ao ano de 1902. Em 1900 Melo Morais Filho, citado por Tinhorão, já se referia à música "Perdão, Emília", como uma canção popular e anônima.

O cenário em que a canção se desenvolve é um cemitério. No meio da noite, entra um vulto, vestido de preto, que se curva diante do sepulcro e pede perdão a Emília, por ter manchado-lhe os lábios e a honra.

Eis que então a voz de Emília passa a responder do sepulcro, lamentando ter se deixado apaixonar pelo "Monstro Tirano", afirmando que o pecado da sedução e do subsequente abandono não terá perdão.

E o vulto, ditado, aos pés do sepulcro, insiste no pedido de perdão.

A modinha, cheia dos moralismos e dos melodramas, cuida de uma realidade típica que durante séculos permaneceu na cultura popular europeia e brasileira: a da virgem pura que cede aos encantos daquele que jura eterno amor. Após consumado o ato e cedida a tentação, o varão despreza a quem tanto desejara, como se a cessão "desvalorizasse" a mulher, que, desgostosa, vem a morrer.

São as inevitáveis conexões entre sexo e culpa, presentes de maneira absolutamente dramática na cultura popular. E mostra um fato: a música é o reflexo da cultura de um país e de uma geração. E não foi á toa que a mesma modinha foi fravada e regravada, e até mesmo parodiada, diversas vezes ao longo do século XX.

Há referências de que seus autores verdadeiros sejam o português José Henrique da Silva e Juca Pedaço, no ano de 1889.



Perdão, Emília

Já tudo dorme, vem a noite em meio,
a turva lua vem surgindo além.
Tudo é silêncio, só se vê nas campas,
piar o mocho no cruel desdém.

Depois um vulto de roupagem preta,
no cemitério com vagar entrou.
Junto ao sepulcro, se curvando ao meio,
com tristes frases nesta voz falou:

"Perdão, Emília, se roubei-te a vida,
se fui impuro, fui cruel, ousado.
Perdão, Emília, se manchei teus lábios.
Perdão, Emília, para um desgraçado."

"Monstro tirano, por que vens agora,
lembrar-me as mágoas que por ti passei?
Lá nesse mundo em que vivi chorando,
desde o instante em que te vi e amei.

Chegou a hora de tomar vingança,
mas tu, ingrato, não terás perdão.
Deus não perdoa as tuas culpas todas,
castigo justo tu terás, então."

Mas eis que um corpo resvalando a terra,
tombou de chofre sobre a terra fria.
E quando a aurora despontou na lousa,
um corpo inerte a dormitar se via. (bis)

"Perdão, Emília, se roubei-te a vida,
se fui impuro, fui cruel, ousado.
Perdão, Emília, se manchei teus lábios.
Perdão, Emília, para um desgraçado."


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