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Coração de Papel

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Título: Coração de Papel
Compositor: Sérgio Reis
Ano: 1967

Atualmente, quem vê ou escuta Sérgio Reis identifica e pensa imediatamente em música sertaneja. Mas não foi sempre assim. Se estivéssemos, digamos em 1967, Sérgio Reis seria identificado com uma musicalidade urbana e com a Jovem Guarda. Inclusive, poucos sabem que ele começou cantando rock com o nome artístico "Johnny Johnson".

O seu primeiro sucesso foi "Coração de Papel", e deve-se a uma briga com sua então namorada, Ruth. Narram então a história da canção Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, na sua conhecida obra "A Canção No Tempo Vol. 2".

Magoado por haver brigado com a namorada Ruth, Sérgio Reis dedilhava o violão, enquanto aguardava o almoço, preparado por Dona Clara, sua mãe. Como estava demorando, resolveu escrever uma letra, mas logo desistiu da tarefa e, ao jogar fora o papel, comentou para Dona Clara:

"Meu coração está amassado como aquela bola de papel"

De repente, percebendo que a imagem poderia funcionar como motivo para uma canção, retomou o violão e compôs em poucos minutos "Coração de Papel", terminando-a antes mesmo do almoço ficar pronto.

Dias depois, vindo à sua casa o produtor Tony Campello, em busca de repertório para a dupla Deny e Dino, gostou tanto da composição que acabou sugerindo uma fita demo com o próprio Sérgio Reis, o mais indicado para cantar sua pungente melodia.

Aprovada por Milton Miranda, diretor da Odeon, "Coração de Papel" foi gravada por Sérgio Reis num compacto duplo, acompanhado pela orquestra de Peruzzi, com o reforço vocal dos Fevers, Golden Boys e Trio Esperança.

A música tornou-se um grande sucesso, levando Sérgio Reis a apresentar-se na TV Record nos programas da Jovem Guarda. No mesmo ano em que foi lançada, 1967, recebeu o Troféu Chico Viola por "Coração de Papel".

Apesar de bem executada nas rádios, a composição recebeu um impulso definitivo do Chacrinha, que durante oito semanas ofereceu um prêmio de mil cruzeiros novos ao calouro que melhor a interpretasse.



Coração de Papel

Se você pensa que meu coração é de papel
Não vá pensando pois não é
Ele é igualzinho ao seu e sofre como eu
Por que fazer chorar assim a quem lhe ama

Se você pensa em fazer chorar a quem lhe quer
A quem só pensa em você
Um dia sentirá que amar é bom demais
Não jogue amor ao léu
Meu coração que não é de papel

Porque fazer chorar porque fazer sofrer
Um coração que só lhe quer
O amor é lindo eu sei e todo eu lhe dei
Você não quis jogou ao léu
Meu coração que não é de papel

Porque fazer sofrer porque fazer chorar
Um coração que só lhe quer
O amor é lindo eu sei e todo eu lhe dei
Você não quis jogou ao léu
Meu coração que não é de papel

Meu coração que não é de papel
Meu coração que não é de papel



O Pequeno Burguês

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Título: O Pequeno Burguês
Compositor: Martinho da Vila
Ano: 1969

Em meados dos anos 60, o então sargento Martinho viu um colega de farda se formar em Direito. Sargentos advogados, naquele tempo, não era coisa comum, e os colegas de patente, orgulhosos do feito do companheiro, combinaram ir à formatura fardados para prestar homenagem ao sargento e advogado Xavier.

Ocorre que o formando resolveu tirar férias e não convidou nenhum dos amigos de trabalho para a formatura. Indignados com a desfeita, todos os sargentos, inclusive Martinho, resolveram dar um "gelo" no colega a quem tacharam de Novo Burguês. Ninguém falava com o coitado que, inocentemente,  não entendia o que estava acontecendo.

Certo dia, o rejeitado sargento Xavier encontrou-se com Martinho da Vila em um bar e resolveu passar o assunto a limpo. Depois de muita insistência, Martinho da Vila resolveu contar o motivo do desprezo.

Aliviado, o novo advogado esclareceu a situação: Na verdade, nem mesmo ele havia ido ao baile de formatura. Salário de sargento era baixo e não dava para comprar paletó, beca, anel e outras exigências formais para participar do evento. Informou, ainda, que recebera o "canudo", posteriormente, diretamente do diretor da faculdade.

Embora ganhasse a vida como sargento, Martinho da Vila já era um bom compositor na época e a história foi um grande argumento para compor "O Pequeno Burguês", um dos maiores sucessos do grande sambista de Vila Isabel e, até hoje, considerada um verdadeiro hino dos vestibulandos vitoriosos.

A história foi contada pelo próprio Martinho a Vila, no "Programa Sarau", apresentado pelo jornalista Chico Pinheiro.



O Pequeno Burguês

Felicidade!
Passei no vestibular
Mas a faculdade
é particular.
Particular!
Ela é particular!
Particular!
Ela é particular!

Livros tão caros,
tanta taxa pra pagar.
Meu dinheiro muito raro,
alguém teve que emprestar.

O meu dinheiro,
alguém teve que emprestar.
O meu dinheiro,
alguém teve que emprestar.

Morei no subúrbio,
andei de trem atrasado.
Do trabalho ia pra aula,
sem jantar e bem cansado.
Mas lá em casa a meia-noite,
tinha sempre a me esperar:
Um punhado de problemas
e criança pra criar.

Para criar!
Só criança pra criar.
Para criar!
Só criança pra criar.

Mas felizmente
eu consegui me formar.
Mas da minha formatura
não cheguei participar.
Faltou dinheiro pra beca
e também pro meu anel.
Nem o diretor careca
entregou o meu papel.

O meu papel!
Meu canudo de papel.
O meu papel!
Meu canudo de papel.

E depois de tantos anos,
só decepções, desenganos.
Dizem que sou um burguês
muito privilegiado.
Mas burgueses são vocês,
Eu não passo de um pobre coitado.
E quem quiser ser como eu,
vai ter é que penar um bocado.

Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado.
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado.
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado.


Fonte: Dr. Zem

Aurora

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Título: Aurora
Compositor: Roberto Roberti e Mário Lago
Ano: 1940

"Aurora", uma das mais populares marchinhas do Carnaval brasileiro, talvez seja a música carnavalesca composta mais próximo do Carnaval e, ao mesmo tempo, a mais distante do período momino. Explico: a marcha foi criada, acreditem, numa quarta-feira de cinzas, início de um período em que as pessoas, cansadas da maratona do Carnaval, geralmente entram na melancolia desse dia insosso e não querem mais ouvir nada referente à folia.

O compositor Roberto Roberti, naquela inspirada quarta-feira de 1940, procurou eufórico o seu amigo Mário Lago, com o famoso estribilho da música, mas só tinha a famosa frase "Se você fosse sincera... Ô, ô, ô, ô  Aurora...", o resto complementava com o velho recurso do lá, lá, lá.

Aflito e antevendo o sucesso da música, apelou para o parceiro para que o ajudasse na conclusão da obra.

Mário Lago contou em entrevista que, mesmo sem muito interesse, ajudou rapidamente na complementação da marchinha que iria entrar para história do Carnaval um ano depois, nas vozes da dupla Joel e GauchoCarmen Miranda se encarregou de divulgar a marcha nos Estados Unidos, onde teve 17 gravações.

O  sucesso foi tanto que recebeu letra em inglês, versão gravada pelas Andrew Sisters. A música  também foi  incluída no filme "Segure o Fantasma", da dupla Abbot & Costello.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Mário Lago e Roberto Roberti, visite o blog Famosos Que Partiram.



Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)

Um lindo apartamento
com porteiro e elevador.
E ar refrigerado
para os dias de calor.
Madame antes do nome
você teria agora
Ô ô ô ô Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)

Um lindo apartamento
com porteiro e elevador.
E ar refrigerado
para os dias de calor.
Madame antes do nome
você teria agora
Ô ô ô ô Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)

Cajuína

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Título: Cajuína
Compositor: Caetano Veloso
Ano: 1979

Por trás da música "Cajuína" existe uma história comovedora e que serviu de inspiração para o seu autor, o tropicalista Caetano Veloso. O baiano contou, durante uma apresentação em um programa de televisão, que o argumento da letra foi inspirado em um encontro com o pai do compositor, poeta, escritor e jornalista Torquato Neto, um de seus principais parceiros na Tropicália, autor de várias músicas, dentre elas, o clássico "Pra Dizer Adeus", em parceria com  Edu Lobo.

Torquato Neto foi um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, tendo escrito o breviário "Tropicalismo Para Principiantes" onde defendeu a necessidade de criar um pop genuinamente brasileiro. Foi também importante letrista de canções icônicas do movimento como "Geléia Geral", musicada por Gilberto Gil.

No final da década de 60, quatro dias após o Ato Institucional Nº 5 (AI-5) ser decretado, Torquato Neto viajou para Londres, onde morou por um breve período. De volta ao brasil, no início dos anos 70, começou a se isolar, sentindo-se alienado tanto pelo Regime Militar quanto pela "Patrulha Ideológica" de esquerda. Havia rompido com os amigos Tropicalistas e do Cinema Novo, declarava se sentir mais deprimido e, por vontade própria, se internou no Sanatório do Engenho de Dentro, sendo tratado com doses fortes do calmante Mutabon D.

Em 1972, aos 28 anos, Torquato Neto trancou-se no banheiro e ligou o gás, sendo encontrado morto no dia seguinte pela empregada. Deixou um bilhete de despedida que dizia:

"Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Para mim, chega! Não sacudam demais o Thiago que ele pode acordar."

Thiago era o filho de Torquato Neto de três anos de idade.

Caetano Veloso, nesse período, estava afastado do amigo.

No final dos anos 70, excursionando pelo Brasil com o show "Muito", Caetano Veloso chegou à Teresina, cidade natal de Torquato Neto, e recebeu no hotel, a visita do Drº Heli da Rocha, pai do amigo falecido. Caetano Veloso contou como foi esse encontro e como surgiu a inspiração para compor a música "Cajuína":

Torquato Neto e Caetano Veloso

"Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio de Janeiro umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato Neto.
Torquato Neto estava, de certa forma, afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha chegada a Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio de Janeiro, com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool.
Eu não o vira em Londres: Ele estivera na Europa mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso.
No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do Tropicalismo, entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais frequentemente com Chico do que comigo.
Chico e eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato Neto ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste, mas pouco sentimental.
Quando, anos depois, encontrei Drº Heli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durante horas, sem parar. Drº Heli me consolava carinhosamente. Levou-me a sua casa. Dona Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia nada. Tirou uma Rosa-Menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente.
Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Drº Heli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei.
No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi 'Cajuína'."

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Torquato Neto, visite o blog Famosos Que Partiram.



Cajuína

Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina.
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina,
Do menino infeliz não se nos ilumina.
Tampouco turva-se a lágrima nordestina,
Apenas a matéria vida era tão fina.
E éramos olharmo-nos intacta retina,
A cajuína cristalina em Teresina.


Beijos Pela Noite

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Beijos Pela Noite
Carlos Lacerda, Jorge Amado e Dorival Caymmi

Foi em um encontro especial de vários amigos, em uma aprazível fazenda de propriedade de Carlos Lacerda chamada Quindins, em Vassouras, estado do Rio de Janeiro, que seria criada uma canção envolvendo parceiros improváveis.

Dorival Caymmi já iniciava sua carreira de grande compositor, já o escritor Jorge Amado e o político e jornalista Carlos Lacerda, entretanto, não tinham histórico musicais.

Talvez a beleza do ambiente e o papo agradável do grupo de amigos presentes, entre eles os jornalista Samuel Wainer e Otávio Malta, além de alguns aperitivos a mais, propiciaram, naquela noite enluarada, a criação da música "Beijos Pela Noite", uma comovente seresta, nas palavras de Fernando Lobo "música saída das confraternizações entre amigos, das emoções e das carências de pessoas sensíveis como Jorge AmadoDorival Caymmi e Carlos Lacerda".

A história do memorável encontro foi contada por Dorival Caymmi com detalhes no livro "Dorival Caymmi - O Mar e o Tempo", escrito por Stela Caymmi:

"... À noite, na varanda, [...] ocorreu a nós uma brincadeira. [...] Samuel tentou entrar com um verso ali, uma frase, uma coisa qualquer, mas não colou. A censura era entre eles, os letristas. Eu entrei com a melodia logo fácil e dei a partida na letra: 'aqui o teu corpo nos meus braços'.
Aí entrou Jorge 'nossos passos pela estrada, nossos beijos pela noite, e a lua'.
Quando cantei 'aqui...' estava com Quindins na cabeça, a ideia do lugar e sua beleza. Ocorreu tudo ao mesmo tempo. A gente nunca soube direito de quem partiu cada frase, se foi Malta, Samuel, Jorge ou Lacerda.Mas tem um pedaço que é bem Carlos Lacerda: 'Nosso amor adolescente poderá recomeçar'.
Todos davam palpites, mas os autores da letra mesmo foram Jorge Amado e Carlos Lacerda. O título 'Beijos Pela Noite' foi colocado depois. Jorge era o escriba da letra."

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Jorge AmadoCarlos LacerdaDorival Caymmi Samuel Wainer, visite o blog Famosos Que Partiram.



Beijos Pela Noite

Aqui, o teu corpo nos meus braços,
nossos passos pela estrada,
nossos beijos pela noite.
E a lua pelos campos, minha amada,
pelos bosques, pelas águas,
acompanha o nosso amor.

Hoje, já passado tanto tempo,
pela noite escura e triste,
pelas frias alamedas.
A chuva apaga a marca dos teus passos,
no caminho abandonado, a saudade é o meu luar.

Aqui, o teu corpo nos meus braços,
nossos passos pela estrada,
nossos beijos pela noite.
E a lua pelos campos, minha amada,
pelos bosques, pelas águas,
acompanha o nosso amor.

Um dia sentirás a mocidade,
no teu corpo fatigado,
da saudade dos caminhos.
E então, sobre a lembrança dos meus beijos,
nosso amor adolescente poderá recomeçar.

Aqui, o teu corpo nos meus braços,
nossos passos pela estrada,
nossos beijos pela noite.
E a lua pelos campos, minha amada,
pelos bosques, pelas águas,
acompanha o nosso amor.

Mora Na Filosofia

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Mora Na Filosofia
Monsueto Menezes e Arnaldo Passos
1955

"Mora na Filosofia", com uma letra extremamente bem elaborada, foi escolhido pelo júri como o samba com a melhor letra do ano, e com uma música mais do que perfeita, feito através da parceria de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos.

Hoje em dia, "Mora na Filosofia" é considerado um dos mais belos sambas da história da Música Popular Brasileira.

Qualquer decisão que se tome exige uma avaliação criteriosa, pensada, refletida. Não deixa de ser um exercício de filosofia. É esse o tema do samba que se tornou um clássico, composto por Monsueto Menezes e Arnaldo Passos, em 1955, gravado originalmente por Marlene, e na década de 70 recebeu a magistral interpretação de Caetano Veloso.

Na música o "eu lírico", depois de fazer suas análises de comportamento da mulher com quem vivia uma relação amorosa, resolve por fim àquela história, encerrar o envolvimento sentimental.

Eu vou lhe dar a decisão
Botei na balança e você não pesou
Botei na peneira e você não passou

Como se diz, geralmente, quando se chega a uma conclusão: já tenho o "veredito!". Com cuidado fez todas as apreciações necessárias no caso. Quando se coloca algo na balança e esse algo sequer mexe os ponteiros, indicando seu peso, é sinal de que não vale nada. A peneira é um instrumento que permite depurar o que é importante e útil. Se nada passar é porque nada serve, pode ser desconsiderado, preterido. Esse foi o resultado ao avaliar melhor aquela mulher, que até então tinha como seu amor.

Mora na filosofia
Pra que rimar amor e dor

A sabedoria popular já nos ensinou que não dá para compatibilizar prazer e sofrimento. Não dá para rimar essas duas expressões de sentimento e emoção. Não se ajustam, não se harmonizam, não combinam.

Se seu corpo ficasse marcado
Por lábios ou mãos carinhosas
Eu saberia, ora vá mulher
A quantos você pertencia

Imagina que, se beijos e carícias deixassem marcas no corpo, ele não teria dificuldade em perceber quantas foram às vezes em que ela se entregou a outros parceiros. Pede que não insista em querer enganá-lo.

Não vou preocupar em ver
Seu caso não é de ver pra crer
Tá na cara

No entanto, não faz disso uma preocupação. Nem precisa ter as provas, "ver pra crer", está estampada no seu rosto a prática da infidelidade, "tá na cara" que ela não é a mulher da sua vida.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Monsueto Menezes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Mora na Filosofia

Eu vou lhe dar a decisão:
Botei na balança e você não pesou.
Botei na peneira e você não passou.
Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor.
Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor.

Se seu corpo ficasse marcado,
por lábios ou mãos carinhosas.
Eu saberia, ora vai mulher,
a quantos você pertencia.
Não vou me preocupar em ver,
seu caso não é de ver pra crer.
Tá na cara!

Eu vou lhe dar a decisão:
Botei na balança e você não pesou.
Botei na peneira e você não passou.
Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor.
Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor.

Se seu corpo ficasse marcado,
por lábios ou mãos carinhosas.
Eu saberia, ora vai mulher,
a quantos você pertencia.
Não vou me preocupar em ver,
seu caso não é de ver pra crer.
Tá na cara!


Fonte: Crônicas "Pensando Através da Música" (Rui Leitão)

Enquanto Engomo a Calça

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Enquanto Engomo a Calça
Ednardo e Climério Ferreira
1979

A música "Enquanto Engomo a Calça", do cantor e compositor cearense Ednardo, em parceria com o piauiense Climério, é mais uma dessas obras que foram inspiradas em fatos banais do cotidiano dos seus autores. Sempre me perguntei de onde o cearense tirara a ideia para contar sua "história bem curtinha, fácil de cantar" e o pior, enquanto engomava as calças - engomar, no nordeste, é passar a roupa a ferro.

O próprio artista, em uma entrevista ao jornalista Francisco Pinheiro, no programa "Sarau", em homenagem aos seus quarenta anos de carreira explicou. O autor de "Pavão Misterioso" contou que na década de 70, em companhia dos seus amigos, os compositores Dominguinhos e Climério, lançaram-se a um desafio: Qual dos três faria mais músicas em um espaço de um mês.

Não sabemos quem foi o vencedor da aposta. Ednardo, talvez por elegância ou por esquecimento, afirmou que o resultado foi um improvável empate, mas lembra de que, encerrado o desafio, resolveu convidar os dois amigos para tomar uma cervejinha na praia. Antes de sair, sua companheira percebeu que a calça do cantor estava muito amassada e comentou:

"Ednardo, tua calça está muito amassada, me deixe engomá-la!"

O cearense declarou que aproveitou o verso e convidou Climério para compor uma música comentando:

"Climério, não repare não, mas enquanto ela engoma a calça vamos fazer mais uma música?"

Foi instantâneo, correram para o violão e compuseram, em poucos minutos, um dos seus grandes sucessos. Depois foram para seu programa praiano, sem calça amarrotada e com mais uma composição no seu brilhante acervo.



Enquanto Engomo a Calça

Arrepare não,
mais enquanto engomo a calça eu vou lhe contar,
uma história bem curtinha fácil de cantar.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou,
não foi passarinho,
foi o olhar do meu amor.
Me arrepiou todinho
e me eletrizou assim quando olhou meu coração. (2x)

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Arrepare não,
mais enquanto engomo a calça eu vou lhe cantar,
uma história bem curtinha fácil de contar.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou,
não foi passarinho,
foi o olhar do meu amor.
Me arrepiou todinho
e me eletrizou assim quando olhou meu coração. (2x)

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Ai, mas como é triste 
essa nossa vida de artista. 
Depois de perder Vilma pra São Paulo, 
perder Maria Helena pro dentista.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)


Fonte: Dr. Zem

Apesar de Você

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Apesar de Você
Chico Buarque
1970

"Apesar de Você"é uma canção escrita e originalmente interpretada pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque no ano de 1970, lançada inicialmente como compacto simples naquele mesmo ano.

A canção, por lidar implicitamente com a falta de liberdades durante a Ditadura Militar, foi proibida de ser executada pelas rádios brasileiras pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici. No entanto, seria liberada oito anos mais tarde, durante o final do governo de Ernesto Geisel. Além disso, a cantora Clara Nunes, que regravou a canção sem saber de seu tema implícito, viu-se obrigada a se apresentar nas Olimpíadas do Exército de 1971 para compensar o mal-entendido.

Antecedentes

Em março de 1970, Chico Buarque retornou ao Brasil após um auto-exílio de mais de um ano na Itália. Seu retorno foi influenciado por André Midani, diretor de sua gravadora, a Philips, que lhe assegurou "estar melhorando a situação no Brasil". No entanto, a realidade encontrada pelo cantor era bem diferente daquela descrita nas cartas de André Midani.

A tortura e o desaparecimento de pessoas contrárias ao Regime Militar eram frequentes, assim como o ufanismo presente em adesivos de carros como "Brasil, Ame-o Ou Deixe-o" e "Ninguém segura esse País", e em algumas canções populares como "Pra Frente Brasil", que só foi agravado pela conquista do tricampeonato da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 1970.

O cantor externou seu desapontamento na canção, onde a crítica à Ditadura Militar era disfarçada como uma briga entre namorados. Ao enviar a canção para o departamento de censura, Chico Buarque imaginou que a letra da canção seria vetada, mas acabou sendo liberada.

Recepção

A canção foi lançada no formato compacto simples e atingiu a marca de cem mil cópias vendidas. Além disso, o samba estourou nas rádios de todo o país. A canção virou mania nacional e acabou sendo regravada por Clara Nunes em 07/01/1971. Ela também acreditava que a letra da canção se tratava de uma briga entre namorados.

Discurso do deputado do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Lisâneas Maciel, em 1970 na Câmara dos Deputados, sobre a censura feita a canção "Apesar de Você".
Censura

Em fevereiro de 1971, o jornalista Sebastião Nery, do Tribuna da Imprensa, publicou uma nota em sua coluna dizendo que seu filho e os colegas dele cantavam "Apesar de Você" como se estivessem cantando o Hino Nacional Brasileiro. Como resultado, Sebastião Nery foi chamado para depor na polícia. Semanas depois, a execução pública da canção foi vetada pelo governo, que finalmente compreendeu sua mensagem. Os oficiais do Regime Militar invadiram a sede da Philips e destruíram as cópias restantes do disco. O censor que aprovou a canção também foi punido. Os oficiais do governo, no entanto, não destruíram a matriz, o que possibilitou a reedição da versão original da gravação. Num interrogatório, Chico Buarque foi indagado sobre quem era o "você" da letra da canção, e ele respondeu: "É uma mulher muito mandona, muito autoritária!".

A censura de "Apesar de Você" teve um impacto negativo no relacionamento entre Chico Buarque e os censores, que duraria até o final da ditadura. Chico Buarque seria implacavelmente marcado pelos censores, sofrendo suas letras as mais absurdas rejeições. A situação chegou ao ponto de ele se disfarçar, sob os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva, para aprovar três composições, uma das quais, "Acorda Amor", foi incluída no LP "Sinal Fechado" de 1974.

Descoberta a farsa, a censura criou novas exigências: Toda letra apresentada teria que ser acompanhada de cópias da carteira de identidade e do CPF do compositor.

Devido à censura, a canção só seria incluída num álbum do cantor em 1978, quando foi lançada como última faixa de "Chico Buarque" (1978).

Consequências Para Clara Nunes

De maneira semelhante, o presidente da Odeon, Henry Jessen, que era advogado, foi intimado para dar explicações sobre as intenções de Clara Nunes ao regravar a canção. Henry Jessen, que mantinha um ótimo relacionamento com os militares, fez um acordo com o governo para colocar um fim ao mal-entendido e provar que Clara Nunes não teve qualquer intenção político-partidária ao regravar "Apesar de Você". Ficou combinado que a cantora gravaria, num compacto simples, o "Hino das Olimpíadas do Exército", composto por Miguel Gustavo, publicitário responsável por "Pra Frente, Brasil". Também interpretaria a canção na cerimônia de abertura das Olimpíadas do Exército de 1971 em Belo Horizonte. Clara Nunes se apresentou ao lado de Luiz Cláudio, que não esteve ciente do motivo pelo qual seria acompanhado pela cantora.

Assim como Clara Nunes, outros artistas se viram obrigados a fazer publicidade para o governo. Em 1972, Elis Regina foi convocada pelos militares para cantar o Hino Nacional durante as festividades do sesquicentenário da Independência. Isto porque havia declarado à imprensa holandesa que o Brasil era governado por "gorilas". Temendo represálias, aceitou o "convite".

Regravações

Além de Clara Nunes, a canção também seria regravada mais tarde por Maria Bethânia, Benito Di Paula e Beth Carvalho.



Apesar de Você

Amanhã vai ser outro dia! (3x) 

Hoje você é quem manda falou, tá falado não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão, viu?
Você que inventou esse Estado, inventou de inventar toda escuridão.
Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. (Coro)

Eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia?
Como vai proibir quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando e a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro!
Todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza agora tenha a fineza de "desinventar".
Você vai pagar, e é dobrado, cada lágrima rolada nesse meu penar.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. (Coro)

Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria.
Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir que esse dia há de vir antes do que você pensa.

Apesar de você!!!

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. (Coro)

Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia.
Como vai se explicar vendo o céu clarear, de repente, impunemente?
Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente?

Apesar de você!!!

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. (Coro)

Você vai se dar mal, etc e tal... La, laiá, la laiá, la laiá…


Quero Que Vá Tudo Pro Inferno

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Quero Que Vá Tudo pro Inferno
Roberto Carlos e Erasmo Carlos
1965

"Quero Que Vá Tudo Pro Inferno"é uma canção dos compositores brasileiros Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Gravada e lançada em 1965, a música foi a primeira faixa do álbum Jovem Guarda de Roberto Carlos.

Lançada inicialmente em compacto simples em 1965, "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno"é tida como uma marco na carreira de Roberto Carlos. Ela se tornaria seu maior sucesso na fase da Jovem Guarda e um dos maiores hits de toda sua carreira. Febre nas rádios brasileiras, ela elevou Roberto Carlos a condição de fenômeno musical no país.

A música foi inspirada em Magda Fonseca, então namorada do cantor, que estava nos Estados Unidos para fazer um curso de inglês. A letra expressava tanto a saudade que o cantor sentia de Magda quanto um desabafo: Que tudo fosse para o inferno.

Roberto compôs inicialmente a primeira parte da canção e a apresentou ao parceiro Erasmo Carlos, que o ajudou no restante da letra.

Depois de dois meses, Roberto Carlos finalizou a canção e, em agosto, encaminhou uma fita com sua gravação para Magda Fonseca. Logo depois, o cantor apresentou "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" para Othon Russo, diretor de relações públicas da CBS, que pediu a ele que a gravasse imediatamente e que ela seria a faixa de abertura do próximo LP de Roberto Carlos, chamado "Jovem Guarda".

Em 1975, "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" foi regravada para o LP "Roberto Carlos",  novamente como faixa de abertura de seu álbum anual. Mas com o passar do tempo, a crescente religiosidade do cantor, aliada à superstição causada pelo transtorno obsessivo-compulsivo, fizeram com que o cantor, a partir da década de 80, banisse a canção de seu repertório. Roberto Carlos sequer mencionava o título da canção, pois sua doença fez com que ele evitasse pronunciar palavras como "mal" e "inferno".

Versões

O GNR regravou a música, criando um clipe especial para ela, em que se imitava os passos de dança da época do lançamento da musica original.

Buddy Mary McCluskey fez duas versões para a canção: "Que Se Vaya Todo Al Infierno" e "Quiero Que Todo Vaya Al Infierno".

Na novela "Vamp" de 1991, a personagem Natasha (Cláudia Ohana) canta essa música, que acabou indo para a trilha complementar da novela.



Quero Que Vá Tudo Pro Inferno

De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar,
se você não vem e eu estou a lhe esperar.
Só tenho você no meu pensamento,
e a sua ausência é todo o meu tormento.
Quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!

De que vale a minha boa vida de playboy,
se entro no meu carro e a solidão me dói.
Onde quer que eu ande tudo é tão triste,
não me interessa o que de mais existe.
Quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!

Não suporto mais você longe de mim,
quero até morrer do que viver assim.
Só quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!

Não suporto mais você longe de mim,
quero até morrer do que viver assim.
Só quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Ahhhhhh
E que tudo mais vá pro inferno!

Que País é Este

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Que País é Este
Renato Russo
1978

"Que País é Este"é uma canção da banda de rock brasileira Legião Urbana. Foi escrita por Renato Russo em 1978, quando o mesmo ainda pertencia a banda Aborto Elétrico. Porém, ela só foi lançada com o álbum do Legião Urbana"Que País é Este", de 1987.

Em um texto contido no encarte do álbum, a banda explica sobre a canção:

"Que País é Este" nunca foi gravada porque sempre havia a esperança de que algo iria realmente mudar no país, tornando-se a música então totalmente obsoleta. Isto não aconteceu e ainda é possível se fazer a mesma pergunta do título.

A música foi ranqueada na posição nº 81 da lista "As 100 Maiores Músicas Brasileiras" da Revista Rolling Stone Brasil.

Em 1987, ela foi a música nacional mais tocada no ano. Se incluirmos as músicas internacionais, ela foi a segunda música mais tocada, atrás apenas de "Livin' On a Prayer", de Bon Jovi.

História

"Que País é Este"é considerada uma das mais bem politizadas do nosso país, sendo uma das primeiras canções importantes da chamada "linha politizada" do rock brasileiro.

A música foi composta quando Renato Russo ainda pertencia à banda punk Aborto Elétrico. Porém, mesmo depois da dissolução da banda, essa canção continuou sendo apresentada por Renato Russo, desta vez nos shows da Legião Urbana, formada em 1983, em diversas cidades do país.

Renato Russo aproveitou-se do cenário político brasileiro para finalmente gravar a música.

Em 1987, o país vivia um momento complexo, como dificuldade de estabilização política naqueles três primeiros anos sem governo militar - comprometidos no seu ideal pela morte de Tancredo Neves e da utopia que ele simbolizava - o fracasso das duas encarnações do Plano Cruzado, o vazamento de Césio 137 em Goiânia, tudo isso em meio aos confusos trabalhos da Assembléia Constituinte.

Regravações

Em 1999, a banda Os Paralamas do Sucesso a regravou no álbum "Acústico MTV", lançado em CD e DVD.

Em 2005, a banda Capital Inicial a regravou no álbum "MTV Especial: Aborto Elétrico", lançado em CD e DVD. Também em 2005, a banda Titãs a regravou ao vivo para o álbum "Renato Russo - Uma Celebração".

Créditos de Gravação

  • Renato Russo: Violões, Voz, Teclados e Composição (Letra e Música)
  • Dado Villa-Lobos: Guitarras e Vocal
  • Renato Rocha: Baixo e Vocal
  • Marcelo Bonfá: Bateria, Percussão e Voz



Que País é Este

Nas favelas, no Senado,
sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição,
mas todos acreditam no futuro da nação.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

No Amazonas, no Araguaia iá, iá,
na baixada fluminense.
Mato grosso, Minas Gerais e no
Nordeste tudo em paz.
Na morte eu descanso,
mas o sangue anda solto.
Manchando os papéis, documentos fiéis,
ao descanso do patrão.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

Terceiro mundo se for,
piada no exterior.
Mas o Brasil vai ficar rico,
vamos faturar um milhão.
Quando vendermos todas as almas
dos nossos índios num leilão.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

Refazenda

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Refazenda
Gilberto Gil
1975

Em 1975 Gilberto Gil lançava um de seus mais inspirados trabalhos, o disco "Refazenda". Tive o privilégio de assistir a um show de Gilberto Gil quando o disco ainda estava saindo do forno, e assim, pude ouvir pela primeira vez músicas como "Refazenda", "Tenho Sede", "Lamento Sertanejo", "Pai e Mãe", e outras antes mesmo delas começarem a tocar no rádio.

Em outubro daquele ano, a revista Pop trazia um matéria com Gilberto Gil falando do lançamento, e o texto de apresentação dizia:

"Ele pesquisa o universo misterioso das religiões orientais, mergulha nos túneis escuros da mente, mexe na terra, conversa com o público das cidades do interior. Mas nunca se afasta do caminho: em todo o trabalho de Gilberto Gil há uma profunda preocupação com a cultura popular. Dentro dessa coerência, Gil agora vem de Refazenda."

Abaixo a transcrição da matéria:

"Gilberto Gil estava na Bahia, depois de uma excursão por várias capitais e cidades do interior. Uma noite, pintou num sonho a palavra Refazenda e a imagem um pouco confusa de uma fazenda encravada num vale, com vacas, galinhas, árvores e, ao mesmo tempo, cercada de um aparato tecnológico próprio das grandes cidades.

'Era um lugar de todos os homens, e ao mesmo tempo, de solidão total. Analisando depois, entendi tudo aquilo como a síntese da simplicidade e também como uma grande necessidade existencial dominando minha cabeça. Resolvi explorar a palavra Refazenda ao máximo, pois a acho muito bonita.'

Da dissecação da palavra, como forma, e do conceito Refazenda, resulta o novo LP (recém-lançado) e toda a direção do trabalho atual de Gil:

'É um LP muito simples, quieto, tranquilo. As canções são todas apresentadas com muita cautela, sem improvisações e sem as explorações vocais até certo ponto absurdas que já me permito fazer. Nunca explorei um filão. Sou discípulo direto de Luiz Gonzaga e Dorival Caymmi. Mas, por outro lado, já incursionei pelos experimentalismos, dodecafonismos, já usei os osciladores todos, já fui violeiro e também Jimi Hendrix.'

Mas, como ideia, o que significa o novo trabalho de Gil? O que é a Refazenda?

'Refazenda é, para mim, como um prêmio conceitual a tudo o que já fiz, fui e serei. Minha intenção é acentuar esta abertura total, buscar dar mais cor ao verde das matas, fazer tudo renascer: que as flores voltem aos campos e, se for na cidade, que seja Refazenda. Em suma, Refazenda é tudo o que eu quiser viver, fazendar, andar de ré.'

Por outro lado, Refazendaé também um oportuno toque sugerindo a volta à simplicidade, à natureza, uma nova proposta de equilíbrio ecológico. Na explicação do conceito, por escrito, Gil diz:

'Renda tecida com fios do milho, milho ouro, milho sol, (...) Esperança transmutada em verde de verdade, verdes notas mágicas, o encanto da fazenda nova. Reencantação. A árvore da trindade: abacate, tomate, mamão. Árvore milagrosa: um fruto diferente a cada estação. (...) Refazenda segue sendo a vontade de Deus para cada estação'.

Muito dessa ideia nasceu do próprio trabalho de Gil, um trabalho incansável de troca de informações que ele pretende continuar:

'Quero sair por aí conhecendo cidadezinhas do interior, levando espetáculos para pessoas que têm muito mais carência de um mundo de sonhos e fantasias como um show de Gilberto Gil ou outro artista qualquer. Uma apresentação dessas é muito mais densa que o circuito Rio-São Paulo. Alguém tem que fazer este trabalho de interiorizar a arte. Aliás, desde que voltei da Inglaterra tenho me dedicado a isso.'
E Refazenda 'também deve ser na cidade'. Ou na cabeça de cada um, mesmo que isso leve ao misticismo. 'Eu me considero um místico por excelência. Já abordei todas as seitas em busca do conhecimento, melhor entendimento entre matéria e espírito, céu e terra: candomblé, zen-budismo, ioga, etc. Cada nova fase é uma prisão voluntária à qual me submeti em busca da liberdade, sacou? Refazenda começa num vale e termina nos limites da mente...'"



Refazenda

Abacateiro acataremos teu ato
nós também somos do mato como o pato e o leão.
Aguardaremos brincaremos no regato
até que nos tragam frutos teu amor, teu coração.
Abacateiro teu recolhimento é justamente
o significado da palavra temporão.
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
amanhecerá tomate e anoitecerá mamão.
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também.
Abacateiro serás meu parceiro solitário
nesse itinerário da leveza pelo ar.
Abacateiro saiba que na Refazenda
tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar.

Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba

Abacateiro acataremos teu ato
nós também somos do mato como o pato e o leão.
Aguardaremos brincaremos no regato
até que nos tragam frutos teu amor, teu coração.
Abacateiro teu recolhimento é justamente
o significado da palavra temporão.
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
amanhecerá tomate e anoitecerá mamão.
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também.
Abacateiro serás meu parceiro solitário
nesse itinerário da leveza pelo ar.
Abacateiro saiba que na Refazenda
tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar.

Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba


Alegria, Alegria

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Alegria, Alegria
Caetano Veloso
1967

"Alegria, Alegria"é uma canção da autoria de Caetano Veloso que foi um dos marcos iniciais do Movimento Tropicalista em 1967. A música foi lançada, com "Remelexo" no lado B, em 1967 e também integrou o álbum "Caetano Veloso", do mesmo ano. O nome da música veio, por sua vez, de um bordão que o cantor Wilson Simonal utilizava em seu programa na TV Record, "Show Em Si... Monal". O cantor baiano aproveitaria para intitular também de "Alegria, Alegria" seu álbum que foi lançado em novembro de 1967, assim como os próximos três.

A Composição

Caetano Veloso, em parte inspirado pelo sucesso de "A Banda", de Chico Buarque, que havia concorrido no Festival de Música da TV Record do ano anterior, quis compor uma marcha assim como a canção de Chico. Ao mesmo tempo, queria que fosse uma música contemporânea, pop, lidando com elementos da cultura de massa da época.

A letra possui uma estrutura cinematográfica, conforme definiu Décio Pignatari. Trata-se de uma "letra-câmera-na-mão", citando o mote do Cinema Novo. Caetano Veloso ainda incluiu uma pequena citação do livro "As Palavras", de Jean-Paul Sartre: "Nada nos bolsos e nada nas mãos", que acabou virando "Nada no bolso ou nas mãos".

Como a ideia do arranjo incluía guitarras elétricas, Caetano Veloso e seu empresário na época, Guilherme Araújo, convidaram o grupo argentino radicado em São Paulo Beat Boys. O arranjo foi fortemente influenciado pelo trabalho dos Beatles.

"Alegria, Alegria"é considerada a 10ª maior canção brasileira de todos os tempos pela revista Rolling Stone Brasil.

Essa música tem um verso com apologia aos alucinógenos, no verso "sem lenço sem documento" faz ligação ao LSD.

Festival da Record

Apresentada pela primeira vez no Festival da Record daquele ano, a canção chocou os chamados "tradicionalistas" da Música Popular Brasileira devido a simples presença de guitarras. No ambiente político-cultural da época, setores de esquerda classificavam a influência do rock como alienação cultural, o que também foi sentido por Gilberto Gil quando apresentou "Domingo No Parque" no mesmo festival.

Apesar da rejeição inicial, a música acabou conquistando a maior parte da platéia. Acabou se tornando uma das favoritas, com as manifestações favoráveis superando as facções mais nacionalistas. A música acabou chegando em quarto lugar na premiação final.

Com o improvável sucesso de "Alegria, Alegria", Caetano Veloso se tornou de imediato um pop star, febre que só passou após alguns meses, embora a música tenha lançado Caetano Veloso para a fama, e sua carreira posterior só confirmado sua popularidade.



Alegria, Alegria

Caminhando contra o vento
Sem lenço, sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento
Eu vou

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome sem telefone
No coração do brasil

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não, por que não...

Garota de Ipanema

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Garota de Ipanema
Tom Jobim e Vinícius de Moraes
1962

"Garota de Ipanema"é uma das mais conhecidas canções da Bossa Nova e da Música Popular Brasileira, foi composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim.

Em 19/03/1963 foi lançada pela gravadora Verve Records e no ano seguinte, saiu no LP "Getz/Gilberto", interpretada por Astrud Gilberto em conjunto com João Gilberto e Stan Getz, com a participação de Tom Jobim ao piano.

A versão original da música, com o nome de "Menina Que Passa", era diferente e continha a seguinte letra, composta por  Vinícius de Moraes:

Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar

Porém, nem Tom Jobim nem Vinícius de Moraes gostaram da letra da canção. Então a versão definitiva foi refeita mais tarde por Vinícius de Moraes, inspirado em Helô Pinheiro, que passava frequentemente em frente ao Bar Veloso, hoje Garota de Ipanema, em Ipanema, Rio de Janeiro.

Tom Jobim e Vinícius de Moraes frequentavam assiduamente o bar, que dispunha de pequenas mesas na calçada. A Garota de Ipanema, Heloísa Pinheiro, morava na Rua Montenegro, 22 e somente dois anos e meio depois, já com namorado, ficou sabendo que era a inspiração da canção.

Provavelmente em retribuição à homenagem, Heloísa Pinheiro, quando se casou, convidou Tom Jobim e sua esposa Teresa para serem padrinhos.

Vinícius de Moraes e Helô Pinheiro
Outras Versões

Uma versão instrumental desta canção já foi feita para o filme "Garota de Ipanema", de 1967.

A versão em inglês desta canção se chama "The Girl From Ipanema", cuja letra foi escrita por Norman Gimbel em 1963. Já foi cantada por Frank Sinatra, Cher, Mariza, Madonna, Sepultura, Amy Winehouse e vários outros artistas.

Um dueto entre a cantora e apresentadora Xuxa e Daniel Jobim, neto de Tom Jobim, fez parte da trilha sonora e da abertura da novela "Aquele Beijo" (2011), da TV Globo, e de autoria de Miguel Falabella, exibida no horário da 19:00 hs.

"Garota de Ipanema" foi a única canção de outros autores a ter sido interpretada pela banda Casseta & Planeta. Era cantada por Hubert imitando Paulo Francis. Atração frequente dos primeiros espetáculos da banda, foi incluída no videocassete "Casseta Popular & Planeta Diário Em Conserto" (sic), mas não nos discos subsequentes.

A canção inspirou outra da banda americana The B-52's com "Girl From Ipanema Goes To Greenland" (Garota de Ipanema Foi Para a Groenlândia), presente no disco "Bouncing Off The Satellites" (1986). É uma metáfora, já que a "Garota de Ipanema", representa uma garota alegre e atraente e a Groenlândia, um lugar frio, representa uma personalidade fria. Resumindo, é uma garota atraente que se torna insensível.



Garota de Ipanema

Olha que coisa mais linda,
mais cheia de graça.
É ela menina,
que vem e que passa.
Num doce balanço
a caminho do mar

Moça do corpo dourado,
do sol de Ipanema.
O seu balançado
é mais que um poema.
É a coisa mais linda
que eu já vi passar.

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe!
A beleza que não é só minha,
que também passa sozinha.

Ah, se ela soubesse
que quando ela passa.
O mundo inteirinho
se enche de graça.
E fica mais lindo
por causa do amor.

Codinome Beija-Flor

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Codinome Beija-Flor
Cazuza
1985

"Codinome Beija-Flor"é a sexta música do álbum "Exagerado" de Cazuza, uma reflexão profunda feita em uma cama de hospital, caracterizando uma das mais profundas músicas da grande e relativamente curta carreira de um dos maiores gênios e poetas do cenário musical nacional.

É uma balada acústica, com a voz sendo acompanhada apenas por piano e violinos. A letra foi escrita por Cazuza quando deitado na cama do Hospital São Lucas, observava beija-flores na janela.

A música se analisada com o momento de Cazuza mostra claramente um estado de espírito diferente, mudando o estilo mais alegre dos tempos de Barão Vermelho, passando mais maturidade nas palavras e com seu lado poético a cada dia mais florescido.



Codinome Beija-Flor

Pra que mentir fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador
Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor

Ouro de Tolo

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Ouro de Tolo
Raul Seixas
1973

"Ouro de Tolo"é uma canção de Raul Seixas presente no álbum "Krig-ha, Bandolo!" de 1973. Em 2009, foi escolhida pela revista Rolling Stone a 16ª melhor na lista das 100 maiores músicas brasileiras.

O nome faz uma alusão a sua utilização durante a Idade Média quando falsos alquimistas prometiam realmente transformar chumbo em ouro, quando a linguagem da alquimia era, na verdade, metafórica ou simbólica, referindo-se à transformação espiritual do homem de um estado pesado, o chumbo, para outro de elevação, o ouro. Assim, transpondo para os próprios ideais e aspirações de Raul Seixas na época, percebe-se que ele indica que o verdadeiro ouro estava no despertar da consciência individual, visando à construção da Sociedade Alternativa, e não no discurso ufanista e triunfalista da Ditadura Militar da época. Logo, o disco voador ao final da letra seria uma referência a essa nova sociedade a ser construída.

Lançamento

Em 7 de junho de 1973, de acordo com uma estratégia de marketing proposta por Paulo CoelhoRaul Seixas convocou a imprensa para registrar sua aparição na Avenida Rio Branco, onde cantou a música "Ouro de Tolo". A cena foi exibida no horário nobre da TV, no Jornal Nacional.

A canção era um ataque no conformismo do país a respeito das ilusórias vantagens oferecidas pela Ditadura. Tornou-se sucesso instantâneo e foi gravado pela Philips com mais nove canções em "Krig-ha, Bandolo!", o primeiro LP solo de Raul Seixas, ainda em 1973.



Ouro de Tolo

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou o dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes
Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos

Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

Ah eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador


Moça

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Moça
Wando
1971

"Ele se foi, mas fico feliz em saber que fez uma música para mim!", essas foram uma das frases expressadas pela consagrada "Moça" que viveu uma história de amor com o cantor Wando, um dos ídolos românticos do Brasil que morreu 66 anos, em 08/12/2012.

A moça Sebastiana Gama, empresária, conhecida por Tiana Gama, encontrou Wando em 1971 durante um show em Santarém, PA. Na ocasião, os dois foram apresentados e tiveram um envolvimento. O encontro marcou a vida da empresária e inspirou um dos maiores sucessos de Wando ao compor a música denominada "Moça" na década de 70.

Quando nós nos conhecemos fomos a praia. Então estava deitada na areia e ele olhou para mim e falou:

"Você tem os cabelos tão lindos. Eu vou fazer uma música pra você!"

Mas não acreditei que isso iria acontecer, relatou Tiana Gama. Ele pegou o rascunhou e falou:

"Um dia você vai ver essa música que é para você!"

Depois daquele ano, a empresária perdeu o contato com o cantor. A música "Moça" foi lançada em 1975 no disco denominado "Wando", em seguida na trilha musical da primeira versão da telenovela "Pecado Capital". No mesmo ano, Wando esteve Santarém. Em entrevista a TV Tapajós, o cantor confirmou a origem da composição da letra.

"O segundo grande sucesso da carreira foi a música 'Moça' que teve uma concepção nessa cidade. 'Moça' foi uma música que começou a nascer aqui. É uma canção que devo muitas obrigações a ela porque abriu muitos caminhos do mundo para mim!"
(Wando)

Sebastiana Gama, a moça que inspirou a canção de Wando.
Tiana Gama ressalta o sentimento por ter contribuído com o sucesso e a história do cantor.

"Ele se foi, mas fico feliz em saber que fez uma música pra mim. Que todas mulheres ao ouvirem essa música saibam que foi feita com muita amor, eu sinto que foi amor porque se não, ele não teria feito!"
(Sebastiana Gama)

Mais ou menos no início dos anos 90, a Rede Globo colocou no ar um novo programa musical nas tardes de domingo para recordar e reapresentar cantores que estavam sumido do cenário artístico e outros que continuavam com grandes sucessos. Numa dessas apresentações, Wando era a bola da vez, e ao ser perguntado sobre o seu maior sucesso musical, "Moça", relatou com notoriedade, que de fato a música foi inspirada na cidade de Santarém, em homenagem a moça, que conheceu nos anos 70.

"'Moça'é uma música minha, que foi feita em Santarém, uma cidade que fica no Pará, depois de conhecer uma criatura que me olhou com os olhos de quem queria alguma coisa e com certeza foi correspondida e aconteceu às 3:00 da manhã!"
(Declarou Wando num bate-papo online com fãs)

Na conversa, o cantor não revelou o nome da moça. Mas, alguns santarenos já tinham conhecimento dessa história, que teria se passado com a Sebastiana Gama, a notável e inesquecível Tiana Gama.



Moça

Moça,
me espere amanhã.
Levo o meu coração,
pronto pra te entregar.

Moça,
moça eu te prometo.
Eu me viro do avesso,
só pra te abraçar.

Moça,
sei que já não é pura.
Teu passado é tão forte,
pode até machucar.

Moça,
dobre as mangas do tempo.
Jogue o teu sentimento,
todo em minhas mãos.

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder.
Eu quero, eu quero...

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder.

Moça,
sei que já não é pura.
Teu passado é tão forte,
pode até machucar.

Moça,
dobre as mangas do tempo.
Jogue o teu sentimento,
todo em minhas mãos.

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder.
Eu quero, eu quero...

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder.
Eu quero, eu quero...

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder!

Você Não Me Ensinou A Te Esquecer

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Você Não Me Ensinou a Te Esquecer
Fernando Mendes, José Wilson e Lucas
1979

Caetano Veloso abre a porta e toma um susto: Ouve uma de suas canções mais íntimas, "Mãe" - que de tão íntima ele nem teve a certeza de que deveria gravar - cantada de forma sentida e respeitosa por Fernando Mendes, compositor de clássicos bregas como "Cadeira de Rodas".

O motivo do encontro, testemunhado pelo Globo, era justamente o oposto: Surpreender Fernando Mendes ao mostrar, em primeira mão, a gravação que Caetano Veloso fez de "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer", um dos maiores sucessos de Fernando Mendes do fim dos anos 70, redescoberto como tema de amor do filme "Lisbela e o Prisioneiro", de Guel Arraes.

Fernando Mendes compôs e gravou "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer" em 1979, na época em que seguia os passos românticos do cantor Roberto Carlos. É uma sofrida canção de amor, simples e direta como os muitos sucessos populares que o cabeludo e cacheado, até hoje fiel ao corte, compositor teve ao longo de três décadas de carreira. Uma canção que se convencionou chamar de brega.

"Brega é o nome que o invejoso dá ao vitorioso!" replica Fernando Mendes, que diz não se incomodar com a definição. Caetano Veloso, para quem superar tal preconceito com a música popular sempre foi uma bandeira, quase uma razão de ser de sua carreira, incomoda-se, sim.

"É uma boa definição essa do Fernando" provoca Caetano Veloso. Há no Brasil muitos preconceitos, por exemplo contra as canções de harmonia simples. O rock quando surge parece algo regressivo. Então não se percebe como ele trouxe sofisticação formal em termos de contraponto, de timbres, de força de atitude.

Para Caetano Veloso, o mesmo raciocínio em relação ao rock pode ser aplicado no que se chama de brega. Ou seja, há uma simplificação do pensamento sobre música no Brasil.

"Muita gente me acusa de falta de critérios quando defendo esse ou aquele tipo de música, de defender o vale-tudo. Mas o que eu busco é complexificar os critérios críticos. Era essa complexidade que eu buscava em todas as vezes que provoquei o bom gosto dominantes de Vicente Celestino ao 'Tapinha'"

Para Caetano Veloso, antes de expressar tal opinião gravando os rejeitados pelos bem-pensantes da MPB, ele a incorporou em sua própria obra. "É uma postura que já estava nas minhas composições em 1966, em 'Baby', 'Divino', 'Maravilhoso', 'Superbacana', e depois 'Tá Combinado', 'A Luz de Tieta'. Não aceito, nem nunca aceitei essa divisão que impõem à música brasileira entre a canção popular e a música de boa qualidade da MPB.

Uma Breve Análise da Letra

O eu-lírico expressa uma saudade imensa da pessoa amada. Há passagens que mostram um erro cometido pelo autor, a vontade de consertá-lo e o pedido de uma chance. No refrão, o eu-lírico demonstra desespero de encontrar a pessoa amada, o abandono por ela e falta de uma direção na vida. Em suma, há um saudade da pessoa amada, um desespero por não encontrá-la e uma dúvida do que fazer agora que o autor está sozinho, abandonado.
(Maria Eugênia)



Você Não Me Ensinou A Te Esquecer

Não vejo mais você faz tanto tempo,
que vontade que eu sinto.
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços,
é verdade, eu não minto.

E nesse desespero em que eu me vejo,
já cheguei a tal ponto.
De me trocar diversas vezes por você,
só pra ver se te encontro.

Você bem que podia perdoar,
e só mais uma vez me aceitar.
Prometo agora vou fazer por onde
nunca mais perdê-la 

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.
Vou me perdendo,
buscando em outros braços seus abraços.
Perdido no vazio de outros passos,
do abismo em que você se retirou,
e me atirou e me deixou aqui sozinho.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.

E nesse desespero em que eu me vejo,
já cheguei a tal ponto.
De me trocar diversas vezes por você,
só pra ver se te encontro.

Você bem que podia perdoar,
e só mais uma vez me aceitar.
Prometo agora vou fazer por onde
nunca mais perdê-la.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.
Vou me perdendo,
buscando em outros braços seus abraços.
Perdido no vazio de outros passos,
do abismo em que você se retirou,
e me atirou e me deixou aqui sozinho.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.


Avôhai

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Avôhai
Zé Ramalho
1975

A música "Avôhai" surgiu para Zé Ramalho durante uma experiência alucinógena.

Há livros muito bons e, ao mesmo tempo, estranhos. É o caso de "Zé Ramalho - O Poeta dos Abismos", de Henri Koliver. À primeira vista, trata-se de uma biografia. Depois, percebe-se que é um longo depoimento do cantor e compositor.  Adiante, Henri Koliver retoma o livro e comenta a música do artista paraibano. Ainda que falte algum ajuste editorial, a obra é absolutamente necessária para compreender tanto a música quanto a vida do criador de "Avôhai".

A música de Zé Ramalho pode ser compreendida por qualquer pessoa, mas, como é recheada de "mensagens" - de um misticismo sincrético, por assim dizer - e de histórias pessoais que não podem ser explicadas inteiramente numa música, ou em algumas músicas, o livro é esclarecedor. Aqueles que querem compreender o músico, de maneira mais ampla, devem consultar o livro. Agora, se esperam um trabalho crítico, devem escarafunchar noutro lugar. É uma obra a favor, com a própria voz do músico.

"Avôhai"é, sem dúvida, a música mais expressiva de Zé Ramalho, a que mais o identifica, embora musicalmente talvez não seja a mais rica. O título significa, obviamente, avô e pai, e, conhecendo a história, sabe-se que não poderia ser "Haiavô" ou "Paiavô" (o avô é mais decisivo do que o pai).

"A revelação de 'Avôhai' aconteceu durante uma experiência com cogumelos alucinógenos", relata o compositor. Durante a beberagem, ele diz que escutava uma voz dizendo "Avôhai, Avôhai". A droga, de algum modo, funcionou como uma sessão de terapia, na qual, por meio de associações livres, o sujeito vai se descobrindo, se revelando para si mesmo.

Passados alguns dias do uso dos cogumelos, Zé Ramalho escreveu a letra.


"Ela chegou de uma vez. (...) Peguei papel e caneta e fiz a letra muito rápido, tudo chegava em um turbilhão. Foi a única vez que isso aconteceu, uma forte e intensa experiência espiritual. Muito estranho... totalmente mediúnica. Como o velho Billy (William Shakespeare) dizia, 'há muito mais coisas entre o céu e a terra do que podemos imaginar'. Havia muita coisa de Dylan pairando em minha cabeça. Eu ouvi como se fosse a voz dele. Quando fiz a letra, já sabia dos movimentos musicais; quando estava escrevendo, já sabia das passagens todas. A letra chegou junto com a melodia, e descreve minha experiência!"

A experiência, no caso, é a própria vida de Zé Ramalho.

"'O brejo cruza a poeira' é minha origem, o lugar onde nasci, de onde vim. A cidade de Brejo da Cruz situa-se no sopé da chamada 'Pedra de Turmalina'. (...) 'O brejo cruza a poeira'é uma referência ao êxodo realizado quando abandonamos a cidade e nos dirigimos a Campina Grande. (...). Essa poeira que cruzamos representa a saída, a passagem de uma condição para outra, a partida definitiva do Brejo. Eu tinha uns 5 anos de idade. Tudo ficou para trás: as brincadeiras com os meninos, como bonecos de barro - cavalinhos e boizinhos  -, correr atrás de bode no meio da rua. (...) O terreiro da usina é uma referência a um local existente na cidade, onde eu brincava em minha infância."

A música inclui "várias formas de cantoria", diz Zé Ramalho, como "martelo agalopado, embolada. 'Na altura em que mandar'é uma expressão utilizada pelos emboladores de coco - aqueles que tocam com pandeiro. O 'pra doutor não reclamar'é uma outra tirada de embolada, que os caras usam para sair dos desafios. 'Avôhai'é quase um martelo agalopado, mas comporta muitas formas de cantoria diferentes. Tem muita informação dentro da música: visual, modalidades poéticas. 'Avôhai'é uma música que atrai a atenção das pessoas, pela forma como descreve as situações e as imagens que sugere. Ao mesmo tempo em que ela descreve certos acontecimentos, convida as pessoas a participarem dessa viagem, em razão do clima místico no qual ela se encontra impregnada: a figura do velho, que carrega tantos símbolos e significados. 'Avôhai'é uma espécie de elo perdido, aglutinando tudo, de trás para a frente e da frente para trás".

Se é uma espécie de biografia de Zé Ramalho, um relato imaginativo de sua infância, é também, na visão do artista, um relato "das origens da humanidade".


O que o indivíduo não pode ou não quer revelar, escondendo partes incômodas da vida íntima, o músico desvela por meio de sua arte. Zé Ramalho conta que prefere não saber muito sobre a razão de a mãe ter permitido que fosse criado pelos avós. Em "Avôhai" a figura central é o avô de Zé Ramalho, José Alves Ramalho. "Avôhai é a figura do avô. Fui criado por ele, depois da morte de meu pai (afogou-se quando Zé Ramalho tinha 2 anos). Ele fez a figura do avô e do pai!".

"'Avôhai' é a junção da trindade avô, pai e filho. É também a Santíssima Trindade, e a continuidade da espécie. Mas foi tudo inspirado pela figura de meu avô, que me ensinou a amar a natureza, a não maltratar os animais, a levar uma vida reta". O músico era católico devoto, como os avós. Liam a Bíblia frequentemente. "Ela passava de mão em mão e cada um lia um trecho!".

José Alves Ramalho, que viveu 83 anos, era "tudo" para Zé Ramalho. "Eu o via, às vezes, como um leão, parado, olhando as crias. (...) Meu avô era aquele cara que arranjava tudo, resolvia tudo!". O Avôhai, homem preocupado com formação e a informação, queria que o neto soubesse das coisas. Tanto que Zé Ramalho prestou vestibular e entrou para a faculdade de Medicina.

"Avôhai", além de discutir a continuidade da espécie, representa, para o místico Zé Ramalho, o começo da carreira. "Tudo começa com essa música. 'Cruzando a soleira...', o cara está chegando. Ela abriu meu primeiro disco e uma porta; comecei a montar uma história incrível com essa música", anota o artista.

Zé Ramalho diz que "a companheira que nunca dormia só"é a solidão.

"A porteira da letra é uma referência à Porteira do Tendó, uma enorme gruta onde meu avô me levava no horário do pôr do sol, e de onde saíam milhares de morcegos em busca de alimento, fazendo um barulho impressionante. Aquilo me fascinava e me assombrava ao mesmo tempo!"

Salman Rushdie conta em "Joseph Anton", suas memórias do período em que esteve escondido para não ser assassinado por iranianos, que só se tornou um grande escritor, com romances consistentes, depois que decidiu falar do que sabia - sua vida e a vida dos indianos. Zé Ramalho fez o mesmo percurso:

"Só depois de ter absorvido muita coisa pop é que descobri e compreendi o quanto os valores da minha terra eram importantes. Era isto que faltava em meu trabalho: o universo de minha terra, a coisa milenar, ligada às raízes, esse mergulho. Foi quando eu entrei na cultura de cordel, dos violeiros. 'Avôhai' reúne todas as informações do universo dos violeiros e repentistas, da literatura de cordel e entra como balada, como Dylan, como Pink Floyd!"

Na família de Zé Ramalho, os homens morrem (ou morriam) cedo. Ele acha que escapou da "maldição", pois tem 64 anos.



Avôhai

Um velho cruza a soleira
de botas longas, de barbas longas
de ouro o brilho do seu colar.
Na laje fria onde quarava
sua camisa e seu alforje
de caçador...

Oh! Meu velho e Invisível
Avôhai!
Oh! Meu velho e Indivisível
Avôhai!

Neblina turva e brilhante
em meu cérebro coágulos de sol.
Amanita matutina
e que transparente cortina
ao meu redor...

E se eu disser
que é meio sabido
você diz que é meio pior.
Mas e pior do que planeta
quando perde o girassol...

É o terço de brilhante
nos dedos de minha avó.
E nunca mais eu tive medo
da porteira
nem também da companheira
que nunca dormia só...

Avôhai!
Avôhai!
Avôhai!
O brejo cruza a poeira
de fato existe
um tom mais leve
na palidez desse pessoal.
Pares de olhos tão profundos
que amargam as pessoas
que fitar...

Mas que bebem sua vida
sua alma na altura que mandar.
São os olhos, são as asas
cabelos de Avôhai...

Na pedra de turmalina
e no terreiro da usina
eu me criei.
Voava de madrugada
e na cratera condenada
eu me calei.
E se eu calei foi de tristeza
você cala por calar.
Mas e calado vai ficando
só fala quando eu mandar...

Rebuscando a consciência
com medo de viajar.
Até o meio da cabeça do cometa
girando na carrapeta
no jogo de improvisar.
Entrecortando
eu sigo dentro a linha reta
eu tenho a palavra certa
prá doutor não reclamar...

Avôhai! Avôhai!
Avôhai! Avôhai!


Como Uma Onda (Zen-Surfismo)

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Como Uma Onda (Zen-Surfismo)
Lulu Santos e Nelson Motta
1983

"Como Uma Onda (Zen-Surfismo)"é uma canção brasileira gravada por Lulu Santos em 1983, composta pelo próprio Lulu Santos e pelo jornalista e escritor Nelson Motta para a trilha sonora do filme "Garota Dourada" (1984), de Antônio Calmon.

Foi incluída no álbum "O Ritmo do Momento", de 1983. A canção obteve bastante sucesso em todo o país no início da década de 80, e continua a ser executada nos shows do cantor.

Composição e Temática

Segundo Nelson Motta, que considera a canção um "Bolero Moderno", a letra teria sido inspirada por Jorge Luis Borges e pelo livro "A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen", do filósofo alemão Eugen Herrigel, e refletiu a contradição pessoal vivida pelo compositor na época, dividido entre a filosofia zen e os excessos das drogas no Rio de Janeiro da época, onde o próprio Nelson Motta era proprietário de uma importante casa noturna, Noites Cariocas, localizada no Pão de Açúcar.



Como Uma Onda (Zen-Surfismo)

Nada do que foi será
de novo do jeito que já foi um dia.
Tudo passa, tudo sempre passará.
A vida vem em ondas como um mar
num indo e vindo infinito.

Tudo que se vê não é
igual ao que a gente viu há um segundo.
Tudo muda o tempo todo no mundo.
Não adianta fugir nem mentir
pra si mesmo agora.
Há tanta vida lá fora.
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Nada do que foi será
de novo do jeito que já foi um dia.
Tudo passa, tudo sempre passará.
A vida vem em ondas como um mar
num indo e vindo infinito.

Tudo que se vê não é
igual ao que a gente viu há um segundo.
Tudo muda o tempo todo no mundo.
Não adianta fugir nem mentir
pra si mesmo agora.
Há tanta vida lá fora.
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Chão de Giz

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Chão de Giz
Zé Ramalho
1973

"Essa música foi feita para o amor que senti por uma mulher casada. Eu era garotão, ela era uma mulher de um industrial e muito rica. Ela me dava uns flertes, e isso me inspirou essa música. Eu tinha mais ou menos vinte anos. Inocente, burro e besta como dizia Raul Seixas."

"Chão de Giz"é uma famosa canção do cantor brasileiro Zé Ramalho, composta em 1973 e gravada em 1978 em seu álbum de estreia solo "Zé Ramalho".

Segundo dados divulgados pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), que abrangeu o período de 2010 a 2014, essa foi a música mais tocada do artista neste período, e a 4ª entre as obras mais regravadas. Além disso, ela aparece na 10ª posição entre as "músicas mais tocadas ao vivo" no ano de 2014, segundo dados do mesmo órgão.

E você já parou alguma vez na vida para tentar entender esta música tão complexa? Zé Ramalho consegue ser um dos poucos cantores que compõe músicas com alto repertório (de difícil entendimento) e mesmo assim agrada o gosto popular. Consegue transmitir sentimentos.

A explicação dada, em tese, pelo próprio compositor Zé Ramalho sobre "Chão de Giz" é que, ainda jovem, ele teve um caso duradouro com uma mulher bem mais velha, casada com uma pessoa bem influente da sociedade de João Pessoa, na Paraíba, onde morava. Ambos se conheceram no carnaval. Zé Ramalho ficou perdidamente apaixonado por esta mulher, que jamais abandonaria um casamento para ficar com um "garoto pé-rapado". Ela apenas "usava-o". Assim, o caso que tomava proporções enormes foi terminado. Zé Ramalho ficou arrasado por meses, mudou de casa, pois morava perto da mulher e, nesse meio tempo, compôs "Chão de Giz".


Sabendo deste pequeno resumo da história, fica mais fácil interpretar cada verso da canção:

"Eu desço desta solidão e espalho coisas sobre um chão de giz"
Um dos hábitos de Zé Ramalho, no sofrimento, era espalhar pelo chão todas as coisas que lembravam o caso dos dois. O chão de giz indica como o relacionamento era fugaz.

"Há meros devaneios tolos, a me torturar"
Devaneios e lembranças da mulher que não o amou. O tinha como amante, apenas para realizar suas fantasias. Quando e como queria.
"Fotografias recortadas de jornais de folhas amiúdes"
Outro hábito de Zé Ramalho era recortar e admirar todas as fotos dela que saiam nos jornais - lembrem-se, ela era da alta sociedade, sempre estava nas colunas sociais.
"Eu vou te jogar num pano de guardar confetes"
Pano de guardar confetes são balaios ou sacos típicos das costureiras do Nordeste, nos quais elas jogam restos de pano, papel, etc. Aqui, Zé Ramalho diz que vai jogar as fotos dela nesse tipo de saco e, assim, esquecê-la de vez.
"Disparo balas de canhão, é inútil, pois existe um grão-vizir"
Ele tenta ficar com ela de todas as formas, mas é inútil, pois ela é casada com um homem muito rico.
"Há tantas violetas velhas sem um colibri"
Aqui ele utiliza de uma metáfora. Há tantas violetas velhas (como ela, bela, mas velha) sem um colibri (um jovem que a admire). Dessa forma ele tenta novamente convencê-la apelando para a sorte - mesmo sendo velha (violeta velha), ela pode, se quiser, ter um colibri (jovem).
"Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de vênus"
Este verso mostra a dualidade do sentimento de Zé Ramalho. Ao mesmo tempo que quer usar uma camisa de força para se afastar dela, ele também quer usar uma camisa de vênus para fazer amor com ela.
"Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro"
Novamente ele invoca a fugacidade do amor dela por ele, que o queria apenas para "gozar o tempo de um cigarro". Percebe-se o tempo todo que ele sente por ela um profundo amor e tesão, enquanto é correspondido apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo de se fumar um cigarro.
"Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom"
Para quê beijá-la, se ela quer apenas o sexo?
"Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez…"
Novamente ele resolve ir embora, após constatar que é impossível tentar algo sério com ela. Entretanto, apaixonado como está, vai novamente à lona - expressão que significa ir a nocaute no boxe, mas também significa a lona do caminhão, com o qual ele foi embora - ele teve que sair de casa para se livrar desse amor doentio.
"Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar"
Amor inesquecível, que acorrenta. Ela pisava nele e ele cada vez mais apaixonado. Tinha esperanças de um dia ser correspondido.
"Meus vinte anos de boy that’s over, baby! Freud explica"
Ele era bem mais novo que ela. Ele era um boy, ela era uma dama da sociedade. Freud explica um amor desse (Complexo de Édipo, talvez?).
"Não vou me sujar fumando apenas um cigarro"
Depois de muito sofrimento e consciente que ela nunca largaria o marido/status para ficar com ele, ele decide esquecê-la. Essa parte ele diz que não vai se sujar transando mais uma vez com ela, pois agora tem consciência de que nunca passará disso.
"Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval"
Eles se conheceram em um carnaval. Voltando a falar das fotos dela, que iria jogar em um pano de guardar confetes, ele consolida o fim, dizendo que já passou seu carnaval (fantasia), passou o momento.
"E isso explica porque o sexo é assunto popular"
Aqui ele faz um arremate do que parece ter sido apenas o que restou do amor dele por ela (ou dela por ele): Sexo. Por isso o sexo é tão popular, pois apenas ele é valorizado. Ela só queria sexo e nada mais.
"No mais, estou indo embora"
Assim encerra-se a canção. É a despedida de Zé Ramalho, mostrando que a fuga é o melhor caminho e uma decisão madura. Ele muda de cidade e nunca mais a vê. Sofreu por meses, enquanto compôs a música.


Chão de Giz

Eu desço dessa solidão
espalho coisas sobre um chão de giz.
Há meros devaneios tolos
a me torturar.
Fotografias recortadas em jornais de folhas
Amiúde!
Eu vou te jogar
num pano de guardar confetes.
Eu vou te jogar
num pano de guardar confetes.

Disparo balas de canhão
é inútil, pois existe um grão-vizir.
Há tantas violetas velhas
sem um colibri.
Queria usar, quem sabe
uma camisa de força ou de vênus.
Mas não vou gozar de nós
apenas um cigarro.
Nem vou lhe beijar
gastando assim o meu batom.

Agora pego um caminhão na lona
vou a nocaute outra vez.
Pra sempre fui acorrentado
no seu calcanhar.
Meus vinte anos de boy
that's over, baby!
Freud explica.

Não vou me sujar
fumando apenas um cigarro.
Nem vou lhe beijar
gastando assim o meu batom.
Quanto ao pano dos confetes
já passou meu carnaval.
E isso explica porque o sexo
é assunto popular.

No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais!

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