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A Noite do Meu Bem

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Título: A Noite do Meu Bem
Compositor: Dolores Duran
Ano: 1959

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Dolores Duran, visite o blog Famosos Que Partiram.

"A Noite do Meu Bem"é uma canção composta pela cantora e compositora brasileira Dolores Duran em 1959. Além de um grande sucesso da música brasileira, é talvez o maior exito de Dolores Duran. A canção é de estilo samba-canção e contém estrofes de três versos. Na letra, há um eu-lírico esperando ansiosamente o seu amor, para uma noite romântica, bela e apaixonada. Durante a canção, sentimentos puros são cantados, até que no fim, cansado de esperar, a personagem se mostra desesperançada e amargurada.

Segundo a cantora Marisa Gata Mansa, amiga de Dolores Duran, "A Noite do Meu Bem" foi escrita cuidadosamente. Em 1959, Dolores Duran fez um rascunho da letra em casa e durante alguns dias, fosse na rua ou na boate, parava pensativa para modificar e acrescentar os versos.

Dolores Duran gravou a canção cerca de um mês antes de morrer. Sua versão contém um instrumental que lembra uma caixinha de música. Com o falecimento da cantora, o lançamento da canção foi apurado e em menos de quinze dias era comercializado num disco 78 rpm, junto com "Fim de Caso", também de sua autoria e também um sucesso. A notícia da morte da cantora era embalada por estas e outras canções divulgadas postumamente.

Ainda em 1959, Elza LaranjeiraMarisa Gata Mansa regravaram a canção, ambas em discos 78 rpm e Agostinho dos Santos em seu LP "Inimitável". No ano seguinte, Elizeth Cardoso gravou a canção para seu álbum "A Meiga Elizeth", Lúcio Alves para seu álbum hômonimo à canção e Nelson Gonçalves para seu disco "Seleção de Ouro", além de Dalva de Oliveira em um 78 rpm.

A cantora Maysa, também amiga de Dolores Duran, gravou "A Noite do Meu Bem" em 1961 para o "Maysa Sings Songs Before Dawn", seu nono álbum de estúdio. Lançado somente nos Estados Unidos e na Argentina, o álbum contém somente "A Noite do Meu Bem" como canção em língua portuguesa, cuja gravação de Maysa contou com seu famoso tom dramático.

Em 1968, foi a vez de Elis Regina e em 1970 de Tito Madi. Nos anos 80 as regravações foram de Milton Nascimento, Ângela Maria e Cauby Peixoto, e nos anos 90, Nana Caymmi.

No século 21, "A Noite do Meu Bem" entrou no repertório de Zezé Mota, Alcione, Kid Abelha, Agnaldo Timóteo e Hebe Camargo.

"A Noite do Meu Bem" ganhou versões em outras línguas também. Em 1961, o cantor argentino Roberto Yanés gravou "La Noche de Mi Amor", com letra adaptada por Rafaelmo. O cantor brasileiro Altemar Dutra também gravou a canção em versão castelhana, porém com letra adaptada por Quezada. Lenita Bruno, para seu álbum "Lenita Bruno em Hollywood", de 1968, gravou "Velvet", uma versão em inglês. A poliglota cantora brasileira Bia Krieger, gravou em 1999 a canção numa versão francesa por Pierre Barouh, chamada "La Nuit de Mon Amour". Fábio Jorge e Cândido Fernandes também gravaram esta versão em 2008 e 2010, respectivamente.

Num ensaio para a série "História da Música Popular Brasileira", a ensaísta Marilena Chauí comentou:

"Dolores convoca na canção o universo para a sua noite como se a ela própria tudo faltasse para enfeitar a chegada desse bem tão demorado."

"A Noite do Meu Bem" esteve na trilha sonora da novela "Os Imigrantes - Terceira Geração" (1981/1982) interpretada por Dick Farney, e na minissérie "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes" (2007) na voz de Milton Nascimento.



A Noite do Meu Bem

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda pureza que quero lhe dar


Fonte: Wikipédia

Outra Vez

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Título: Outra Vez
Compositor: Isolda
Ano: 1977

Diz a lenda que, na época que se lançavam LP's (hoje chamados de vinil), a música de trabalho seria a terceira do Lado A (sim, os discos tinham Lado A e Lado B). Ninguém apostaria que a música de sucesso, que ficaria na história, seria a penúltima música do Lado B. Mas essa é a história da música "Outra Vez"... 

Segundo Paulo César Araújo, no livro "Roberto Carlos Em Detalhes" (Ed. Planeta, 2006), Roberto Carlos já gravara algumas músicas dos irmãos Isolda e Milton Carlos, como "Pelo Avesso" e "Um Jeito Estúpido De Te Amar", em 1976. No entanto, Milton Carlos morreu em 1977, num acidente de carro.

Pouco tempo depois, Isolda estava reunida com amigas, num bar, e estavam relembrando velhos amores do passado, quando Isolda lembrou de um caso de amor antigo, que se chama Nilson Mucini. Narra Paulo César de Araújo

Lá pelas tantas, as meninas começaram a falar sobre ex-namorados. "Qual foi o maior caso de amor de sua vida?", perguntou uma delas para Isolda. "Quer mesmo saber? Foi o meu primeiro namorado, o Nilson", respondeu. Uma outra amiga, que conhecia o caso, provocou: "Se fosse, você já teria telefonado pra ele. Você está solteira e guarda o número dele há muito tempo na sua bolsa. Por que não liga?". De fato, desde que o namoro dos dois terminara, havia sete anos, eles não mais se haviam falado. Ao longo desse tempo, Isolda casou, descasou e teve dois filhos. Agora estava solteira, e o que teria acontecido com Nilson?
Pois Isolda apostou com a amiga que tinha coragem de ligar sim. E que ligaria naquele momento do telefone do bar. Isolda ligou, mesmo já tendo passado da meia-noite. O próprio Nilson atendeu e, quando quis saber quem estava falando, Isolda respondeu com outra pergunta: "Qual foi o seu caso mais complicado?". Nilson não pensou um segundo para responder: "Isolda! Caramba, há quanto tempo!"

E assim surgiu a letra da belíssima música "Outra Vez". Surgiu durante do diálogo entre Isolda e Nilson, começando logo pela famoso trecho: "Você foi o maior dos meus casos..."

"Outra Vez" foi gravada sem nenhuma pretensão de que fosse um dos dez maiores sucessos de Roberto Carlos, como disse, a penúltima música do Lado B.

A canção trata de um amor passado e presente, e por isso absolutamente antitético, em que as dificuldades lembradas apenas reforçam o sentimento de amor. A canção remete a algo proibido, complicado, mas absolutamente prazeroso, sincero e intenso, como todo grande amor deve ser.

É uma canção sem refrão, com letra longa, confessional, e que marcou o disco de Roberto Carlos em 1977. 

Em uma entrevista ao site www.gumarc.com, Isolda contou um pouco de sua carreira e sobre a história da canção "Outra Vez"

Como você começou sua carreira musical?

Isolda:Ainda criança, com meu irmão, Milton Carlos, eu brincava de fazer música. Nós encenávamos teatro com as minhas bonecas e eu fazia a trilha sonora da peça. Para mim, fazer música sempre foi como brincar. Era gostoso, era um jogo. Depois fomos crescendo e meu irmão começou a aprender a tocar violão. Ele queria ser cantor. Depois de um certo tempo ele conseguiu gravar um disco e até participar de festivais. Com isso a brincadeira virou coisa séria e começamos a encarar a música profissionalmente. Com os primeiros sucessos eu parei de estudar e me entreguei inteiramente à música. Foi assim o começo.

Nessa época você já era fã de Roberto Carlos?

Isolda: Eu sempre gostei muito do Roberto Carlos. É verdade que na época da Jovem Guarda eu era muito criança e não acompanhava o programa. Mas já gostava do Roberto Carlos. Eu nunca poderia imaginar que algum dia ele iria gravar uma música minha. Eu gostava tanto dele que uma vez briguei com uma menina do colégio por causa dele. É verdade que canções como "Splish, Sphash" e "O Calhambeque" sempre fizeram parte da minha infância. Mas até chegar a ter uma música gravada pelo Roberto muito tempo se passou.

Como isso aconteceu?

Isolda: Meu irmão havia gravado um disco e nós fazíamos vocal em estúdio para outros cantores, até que um dia estávamos gravando com o Eduardo Araújo e ele disse que mais tarde iria visitar o Roberto Carlos. Eu e o Milton tínhamos feito uma música, "Amigos, Amigos", e pedimos para o Eduardo entregar ao Roberto Carlos. Mas o tempo passou e nós até nos esquecemos que o Eduardo Araújo estava com a nossa música. Um belo dia soubemos que ele havia gravado a nossa música. Foi assim que tudo começou.

E quando foi a primeira vez que você esteve com o Roberto?

Isolda: Foi bem depois. Acho que no escritório dele, quando eu e meu irmão fomos levar "Pelo Avesso", por volta de 1975. Quando estive com Roberto, naquela ocasião, ele havia acabado de lançar "Elas Por Elas". A nossa maior felicidade foi quando no disco de 76 encontramos duas musicas nossas, "Um Jeito Estúpido De Te Amar" e "Pelo Avesso". Mas a minha grande tristeza foi que meu irmão morreu antes do disco ir para as lojas.

Qual a importância da música "Amigos, Amigos" em sua vida?

Isolda: Foi o grande marco de nossas vidas. Essa foi a primeira música nossa gravada por ele. Se bem que sempre que Roberto Carlos grava uma música minha é um acontecimento da maior importância, é como se fosse a primeira vez. Eu comemoro mesmo, e a maior alegria, a realização de um sonho. Como se fala na gíria, digo que ganhei o ano!

Como foi sua reação ao escutar pela primeira vez a sua primeira música gravada por Roberto Carlos?

Isolda:Foi maravilhoso. Só soubemos que nossa música estava no disco quando saiu a relação do que ele havia gravado naquele ano (1973). Ninguém havia nos dito que "Amigos, Amigos" havia sido gravada. Quando lemos nos jornais quase nem acreditamos. Aí ligamos para a CBS (atual Sony & BMG) e tivemos a confirmação. Mas só ouvimos a gravação quando o disco chegou às lojas.

Como era o seu processo de parceria com seu irmão?

Isolda: Milton fazia a melodia e eu fazia a letra. Quase sempre era assim, mas há canções em que eu comecei a música e a letra e ele continuou. Também acontecia o contrário. Eu nunca consegui fazer só a melodia. Mesmo quando passei a compor sozinha adotei sempre o processo de fazer música e letra juntas. Ou então pego a música e coloco a letra.

Vamos agora falar de uma música especial na carreira de Roberto Carlos, "Outra Vez".

Isolda: "Outra Vez" foi feita logo depois da morte do Milton. Eu fiz a canção e fui para o estúdio com o Sérgio Sá, para gravarmos uma fita demo, para mostrar ao Roberto. Nessa fita havia algumas coisas antigas que eu havia feito com o Milton um pouco antes dele morrer e apenas uma musica só minha, que era “Outra Vez”. Deixei a fita no escritório do Roberto e algum tempo depois liguei para saber se havia alguma novidade. Foi aí que soube que ele havia gravado "Outra Vez". Sinceramente, eu não esperava que o Roberto gravasse essa música, porque é uma letra muito comprida, não tem refrão e não é nem um pouco comercial. Eu quase não mandei "Outra Vez" naquela fita. E não é que virou um enorme sucesso!

Foi difícil compor "Outra Vez", esse marco da Música Popular Brasileira?

Isolda: Não. Até que foi fácil compor "Outra Vez". Um certo dia saí com alguns amigos e começamos a conversar sobre amores antigos. Cada um ia falando do maior romance que teve na vida e eu me lembrei do meu. Aí começou a pintar a letra e também a melodia. Fiz a música até com certa facilidade.

Então você concorda quando Roberto fala, nos shows, que todo mundo já passou por aquela situação?

Isolda: Com certeza. Acho que todo mundo.

"Outra Vez" foi uma música feita para Roberto Carlos gravar?

Isolda: Não, nenhuma das músicas que faço visa um determinado artista para gravá-la. Eu faço o que sinto naquele momento. São coisas que já passei ou que estou passando, mas tudo é muito sincero. Minhas canções são sempre inspiradas em fatos verídicos. É difícil falar do que não se conhece. Acho que usamos a música como terapia, desabafamos no violão, na letra... Quanto à "Outra Vez", eu nunca pensei que ela fosse estourar. Eu acho a letra muito pessoal, muito íntima, e que só eu iria entendê-la. Com sinceridade, eu mandei essa música para o Roberto Carlos ouvir apenas porque havia sobrado espaço na fita. Para mim não havia nenhuma chance dele gravar e é claro que nunca imaginei tal sucesso. Por isso acho que de intuição sou horrorosa.

Para você, "Outra Vez"é uma história de amor triste ou alegre?

Isolda: Algumas pessoas acham que é uma música de fossa mas a letra não fala de separação. A canção conta a história de um grande amor que existiu, e eu a acho feliz, é a saudade que eu gosto de ter, é uma saudade legal, como diz a letra. É uma saudade feliz.

Algumas pessoas até acham que "Outra Vez"é do Roberto e Erasmo. Como a autora encara isso?

Isolda: Sem o menor problema. Nem ligo! Só de ouvir Roberto cantando a minha música já está ótimo, é maravilhoso!

Roberto Carlos mexeu na letra ou na melodia de "Outra Vez"?

Isolda: Alguma coisa na melodia, mas bem pouca coisa. Na letra não mexeu, não tirou nenhuma vírgula. Isso é incrível, perto do que ele costuma fazer.

E em outras músicas, Roberto fez alguma alteração?

Isolda: Já mexeu bastante, principalmente em "De Coração Pra Coração", que foi a que ele mais alterou. Ele estava nos Estados Unidos, gravando, e eu perdi a conta dos inúmeros telefonemas que trocamos para podermos mexer na letra. Eu trocava uma parte, depois ele ligava pedindo para trocar outra parte. Foi assim durante uns dois dias. Mas o Roberto pode tudo!

Você imagina qual terá sido a reação do Roberto Carlos quando ouviu "Outra Vez"?

Isolda: Não sei, ninguém me contou nada. Conhecendo bem Roberto Carlos, confesso que na época pensei que ele só tinha gravado para me ajudar por causa da morte do meu irmão. Eu não conhecia ninguém no meio artístico; quem agitava tudo, ia atrás dos compositores levando nossas músicas, era o Milton Carlos. Com sua morte, eu tive que começar a fazer essas coisas e isso não foi nada fácil. Por isso imaginei que Roberto havia gravado por amizade.

Como você se sente ao ver a reação positiva do público quando Roberto começa a cantar o primeiro verso de "Outra Vez"?

Isolda: É indescritível. Nessa temporada do Roberto no Metropolitan (show "Romântico", 1998), eu assisti ao show do dia 5 de setembro de um lugar privilegiado, da mesa de som, de frente para a platéia, para mim o melhor lugar. Quando ele começou a cantar e todos cantaram juntos foi uma emoção que eu nunca havia sentido. No final, quando ele dedicou-me o show, quase tive um ataque cardíaco. Sem dúvida essa foi a maior emoção de todas.

Para você, o que há de especial nessa música que toca a todos?

Isolda: Não tenho a menor dúvida. Coloquei na música o mesmo sentimento que coloquei nas outras. Olha que Roberto já gravou dez músicas minhas, mas "Outra Vez" continua sendo imbatível. Por enquanto é a música que marcou a minha vida. Espero que surjam outras assim.

Nunca surgiu a possibilidade de uma parceria com Roberto Carlos?

Isolda: Há algum tempo combinamos uma parceria, mas não houve uma evolução. De repente pode ser que a ideia retorne, quem sabe?

Por que Roberto Carlos não grava uma música sua desde 1986?

Isolda: Talvez porque eu tenha enviado para ele músicas que não combinavam com a linha do disco. Às vezes isso acontece.

O que você destaca no Roberto Carlos como intérprete?

Isolda: Eu destaco a doçura, a ternura, o carisma. Eu sempre digo que Roberto Carlos é um "kit de coisas boas", tudo nele é bom. Ele é uma pessoa muito carismática, tem uma bondade transparente. Só de olhar para ele você já sabe que ele é uma pessoa bondosa. Mesmo quem o vê pela primeira vez logo percebe isso. É uma coisa de bem, de luz, de claridade. Parece que eu vejo luz no Roberto Carlos. A voz dele parece veludo.

De todas as suas músicas gravadas por Roberto Carlos, qual a sua preferida?

Isolda: Bem, deixando à parte "Outra Vez", eu gosto muito da gravação de "Tente Esquecer". Ele canta essa música muito bem, transmite com exatidão o que coloquei na letra. Também gosto muito da maneira como ele canta “Um Jeito Estúpido De Te Amar”.

"Tente Esquecer" foi gravada logo depois de "Outra Vez". Como foi fazer essa música depois daquele sucesso?

Isolda: Foi uma "barra". Mandei várias fitas até Roberto escolher "Tente Esquecer". Foi terrível. Pensei que o disco daquele ano fosse sair sem uma composição minha.

Como é o seu contato com Roberto Carlos no dia-a-dia?

Isolda: Roberto é uma das pessoas mais gentis e educadas que eu já vi. É um verdadeiro cavalheiro. Sempre me tratou super bem, acima da média. Não estou falando isso porque vocês são o fã-clube dele. Acho que não sou a única pessoa que pensa assim. Ele sempre se coloca à disposição dos amigos. Ele é uma pessoa que está no meu coração, de quem eu gosto muito.

O que você destaca em Roberto como ser humano?

Isolda: A bondade. Eu vejo como uma pessoa muito boa, fora seu talento e sua genialidade. Engraçado, quando estive com ele pela primeira vez foi como se já o conhecesse, como se fosse um amigo antigo. Ele é um mito na música mas eu sempre me sinto super à vontade junto dele.

Das músicas que Roberto fez, qual a que você gostaria de ter feito?

Isolda: Você está brincando comigo... São inúmeras, mas "De Tanto Amor" é demais.

Sua carreira passou a ter um maior reconhecimento depois que Roberto passou a gravar suas músicas?

Isolda: As pessoas até me conhecem como compositora do Roberto Carlos. Até mesmo os outros cantores. Então, quando me pedem música é porque estão querendo música romântica, algo do gênero Roberto Carlos. Eles já pedem canções esperando por isso, se bem que eu faço outros gêneros. Todas as pessoas falam que as minhas músicas têm a cara dele e eu acho isso maravilhoso. Não sei se realmente é assim mas a verdade é que gosto tanto do Roberto e ouço tanto seus discos que acabo influenciada. Não posso negar. Estou muito ligada à carreira dele.

Você mandou alguma música para Roberto gravar este ano?

Isolda: Já mandei umas duas fitas para ele, com músicas que eu acho que são ótimas. É claro que todo compositor acha que suas músicas são ótimas. Estou rezando para que ele grave alguma. Umas são minhas e outras em parceria com o Sérgio Sá.

Você tem todos os discos do Roberto Carlos?

Isolda: Agora estou completando a coleção em CD. Na época do vinil eu só tinha os que têm as minhas músicas. Depois fui comprando os CDs com as minhas músicas e agora estou completando a coleção. Vivo ouvindo os discos do Roberto Carlos.

O que Roberto Carlos lhe passa quando está no palco?

Isolda: Para mim ele é o grande Rei. Ele é uma majestade. Já vi muitos outros shows mas nunca vi um show como o do Roberto Carlos, nem de cantores internacionais. É um espetáculo impressionante, eletrizante, mágico. Ele toma conta, sozinho, de um palco enorme. É como se ele tivesse três metros de altura. Falando baixo, cantando só com piano ou violão ele consegue manter a atenção de uma platéia inteira, independente do número de pessoas. É um carisma que não sei se podemos encontrar em outro cantor. É um fenômeno.

Depois de falarmos tanto de "Outra Vez", vamos falar um pouco de suas outras músicas?

Isolda: "Amigos, Amigos" era uma história pessoal do meu irmão. Ele começou a música e terminamos juntos. "Jogo de Damas" também foi uma experiência pessoal do Milton Carlos e eu continuei a melodia com a letra. "Elas Por Elas" veio no final do meu casamento e retrata bem aquela época. "Um Jeito Estúpido De Te Amar" é a mesma coisa. Quando termina o casamento você fica naquela de volta ou não volta. "Pelo Avesso" foi uma ideia do Milton, apenas continuei com ele a melodia e a letra. "Tente Esquecer" foi uma tentativa de voltar para o meu primeiro marido mas que não deu certo. Depois de "Outra Vez" é a minha favorita. "Como é Possível" é uma parceria com o Sérgio Sá. Foi uma pessoa que pintou na minha vida, e na época até me passava a ideia de que já o conhecia, uma alma gêmea, como se diz na psicologia. "De Coração Pra Coração" é uma música do Mauro Motta, Lincoln Olivetti e Robson Jorge. Foi o próprio Roberto quem me escolheu para colocar a letra. Ela teve a opinião direta dele e tive que fazer várias alterações até chegar à letra definitiva. Engraçado que dos três parceiros dessa música, o único que conheço pessoalmente é o Mauro Motta. A música me deu muito trabalho. "Quando Vi Você Passar" o Mauro Motta me mandou a melodia e eu fiz a letra.

Como você define Roberto Carlos?

Isolda: Como cantor ele é um fenômeno que conseguiu conquistar três gerações. A minha filha e a minha mãe adoram Roberto Carlos. Como ser humano é uma pessoa de bondade, de um amor muito grande, é um ser humano maravilhoso. Ele faz coisas que ninguém fica sabendo apenas para ajudar as pessoas. Na maioria das vezes os artistas não são assim. Ninguém se preocupa tanto com o semelhante como Roberto Carlos. É uma pessoa iluminada.



Outra Vez

Você foi...
O maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci

Você foi...
Dos amores que eu tive
O mais complicado
E o mais simples pra mim

Você foi...
O melhor dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu

E é por essas e outras
Que a minha saudade
Faz lembrar
De tudo outra vez.

Você foi...
A mentira sincera
Brincadeira mais séria
Que me aconteceu

Você foi...
O caso mais antigo
E o amor mais amigo
Que me apareceu

Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez...

Me esqueci!
De tentar te esquecer
Resolvi!
Te querer, por querer
Decidi te lembrar
Quantas vezes
Eu tenha vontade
Sem nada perder...

Ah...

Você foi...
Toda a felicidade
Você foi a maldade
Que só me fez bem

Você foi...
O melhor dos meus planos
E o maior dos enganos
Que eu pude fazer

Das lembranças
Que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim!
Sinto você bem perto de mim
Outra vez...


Fonte: Música em Prosa e Grupo Um Milhão de Amigos

Fanatismo

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Título: Fanatismo
Compositor: Florbela Espanca
Música: Fagner
Ano: 1923 / 1981

"Fanatismo", trata-se de um soneto da poetisa portuguesa Florbela Espanca. O poema foi musicado por Fagner e gravado no disco "Traduzir-se" de 1981.

"Fanatismo"é um soneto (dois quartetos e dois tercetos) publicado pela primeira vez no "Livro de Sóror Saudade", uma coletânea de 36 sonetos, editado em janeiro de 1923, cuja primeira edição de 200 livros esgotou-se rapidamente.

O poema foge, um pouco, dos argumentos melancólicos da maioria das poesias de Florbela Espanca, embora também se perceba componentes de dor e sofrimento. Desta vez, a poetisa optou por escancarar todo o seu amor e lirismo.

A paixão, nesta poesia, é levada ao extremo: "[...] Podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: princípio e fim", justificando, plenamente, o título. O amor de Florbela Espanca, em "Fanatismo"é arrebatador. É tratado de forma hiperbólica, possessiva e, ao mesmo tempo, submissa, resultado, talvez, da eterna procura de um amado: "[...] a mesma história tantas vezes lida [...]".

Desde jovem, Florbela Espanca já dava sinais de onde iria buscar suas inspirações: as coisas da alma e seus conflitos internos, decorrência de uma vida marcada por desilusões, decepções e tragédias pessoais, temas que foram transportados de forma comovente para suas obras. Sua mãe, Mariana Toscana, não podia ter filhos. Florbela Espanca e Apeles, seu irmão mais novo, embora criados por Mariana Toscana, são frutos do relacionamento extraconjugal do pai, João Maria Espanca, com Antônia da Conceição Lobo.

Uma curiosidade: em "Fanatismo", ao final da música, o compositor acrescentou trechos de "Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo", música que Roberto Carlos fez para o pai, uma licença poética para homenagear Roberto Carlos. O disco "Traduzir-se" foi gravado na Espanha por sugestão de Joan Manuel Serrat. Sobre a inclusão de "Fanatismo" no disco o cantor declarou:

"'Fanatismo' é um disco que marcou demais. Até hoje o pessoal do mundo do disco fala dele... foi disco de ouro, lançado no mundo inteiro. ...Este disco tinha uma ideia fechada, onde coube o 'Fanatismo' porque, na época, eu tinha que ter uma música em português.
A gravadora não entendeu e eu sabia que 'Años' iria tocar (música em espanhol que teve a participação de Mercedes Sosa), como aconteceu. Me pediram para gravar uma música só comigo cantando em português. Foi onde conheci o trabalho da Florbela Espanca, o Fausto me deu um livro lá em Portugal na volta desta viagem da Espanha. Fiz estas músicas, cheguei aqui e gravei. Deu para acoplar ainda no disco. Mas também foi uma música feita com a influência das coisas da região, veio no clima, não se afastou muito da ideia deste disco."



Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida,
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida.

Não vejo nada assim enlouquecida,
Passo no mundo, meu Amor, a ler.
No misterioso livro do teu ser,
A mesma história tantas vezes lida.

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!..."

Eu já te falei de tudo,
mas tudo isso e pouco,
diante do que sinto!



Fonte: Dr. Zen

Ronda

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Título: Ronda
Compositor: Paulo Vanzolini
Ano: 1945

A música "Ronda" foi composta por Paulo Vanzolini em 1945 e gravada pela primeira vez em 1953, por Inezita Barroso.

Segundo Paulo Vanzolini, Inezita Barroso, muito amiga de sua mulher, foi para o Rio de Janeiro gravar "A Moda da Pinga". A gravação seria num sábado à tarde e o casal foi junto para fazer companhia. Chegando lá, perguntaram a Inezita Barroso que música seria gravada no Lado B do disco. O verso de "A Moda da Pinga" deve ter-lhe subido à cabeça: "A marvada pinga é que me atrapaia...". Àquela altura do campeonato, em pleno sábado, Inezita Barroso podia ser, como é, ainda hoje, conhecedora de um vasto repertório, mas onde conseguiria a autorização do autor? Foi por isso que gravou "Ronda". E, de acordo com o autor, ainda errou a letra na gravação.

Para ela, a história não foi bem assim:

"Eu fui pro Rio de Janeiro gravar 'A Moda da Pinga'. Gostaram muito, e 'do outro lado o quê?' O Paulo Vanzolini estava comigo no Rio de Janeiro, tinha ido fazer um trabalho de zoologia, nós éramos muito amigos e ele foi pro estúdio comigo. Aí ele olhou assim meio pedindo e eu falei: 'Tá bom, do outro lado vai 'Ronda', do Paulo Vanzolini'. Aí me perguntaram: 'O que é isso?' Falei: 'É um samba paulista'. Pra que eu falei isso. 'Samba paulista? São Paulo não tem samba!'. Aí o Canhoto, que era o dono do regional que acompanhava, disse: 'Canta aí pra eu ouvir'. Aí eu cantei 'Ronda' e foi aquele sucesso."
(Inezita Barroso)

A letra que Inezita Barroso cantou e que encabeça esta publicação é um pouco diferente daquela eternizada pelas cantoras Márcia e Maria Bethânia.

Paulo Vanzolini teve como inspiração o seu tempo de soldado, quando nos anos 40 (1944-45) servia o Exército na Companhia de Polícias e fazia "rondas" pelas boates de São Paulo atrás de soldados desgarrados. Várias vezes deparou-se com cenas semelhantes às presentes na letra da música.

Além de compositor, Paulo Vanzolinié um zoólogo dos mais conceituados. Atualmente ele é diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e uma das maiores autoridades em herptologia do mundo.

Paulo Vanzolini gravou um único LP, em 1981, que recebeu o título de "Paulo Vanzolini Por Ele Mesmo".

Apesar de gravada originalmente por Inezita Barroso na década de 50, o sucesso nacional veio na década de 70 através da magistral interpretação da cantora Márcia.

"Ronda"é considerada como uma das canções-símbolo da cidade de São Paulo. Ela é executada em toda e qualquer casa noturna, basta que alguém pegue um violão e aceite pedidos... e logo aparece "Ronda". Até hoje, consta que "Ronda"é a música mais executada nas noites paulistanas.

"Naquela época, servindo o Exército, eu patrulhava o baixo meretrício. Uma noite, na saída, eu estava tomando um chope ali pela avenida São João, quando vi uma mulher abrindo a porta do bar e olhando para dentro. Imaginei que ela estava procurando o namorado. Ele pensava que era para fazer as pazes, mas o que ela queria era passar fogo nele."
(Paulo Vanzolini)

Paulo Vanzolini satiriza essa relação estreita entre "Ronda" e São Paulo:

"Pode uma coisa dessas? Uma música que fala de uma prostituta que procura o amante para matá-lo ser considerada um hino paulista?"
(Paulo Vanzolini)

Mesmo com o sucesso estrondoso da música, Paulo Vanzolini "não gosta" de "Ronda". Mesmo "não gostando" da música, relembra a cada entrevista sua mágoa com Caetano Veloso por ele ter se utilizado da melodia de "Ronda" para compor sua homenagem à São Paulo em "Sampa", que é - ironicamente - outra canção-símbolo da cidade. Caetano Veloso explicou, tempos depois, que se tratava de uma homenagem ao compositor paulista. Paulo Vanzolini ficou ressabiado, mas nunca chegou a acusar oficialmente o autor de "Sampa" por plágio.

Para Paulo Vanzolini, apesar do enorme sucesso, "Ronda" não foi a música que mais lhe rendeu frutos. Esse título ele dedica ao samba gravado por Noite Ilustrada e Jair Rodrigues, "Volta Por Cima". "Ronda" e "Volta Por Cima" encontram-se entre as canções mais executadas do Brasil, rendendo algumas cifras ao compositor, que, com o dinheiro recebido dos direitos autorais dessas canções, montou uma das maiores bibliotecas da América Latina na área de répteis e anfíbios.

Claro que o dinheiro referente aos direitos autorais de "Ronda" não vem das grandes gravadoras, nem, tampouco, das rádios comerciais, mas dos pedidos feitos em guardanapos molhados de lágrimas nos botecos, onde pedem os boêmios de cotovelos doloridos.

"Ronda" esteve presente nas trilhas sonoras da novela: "Bebê a Bordo" (1988) interpretada por Emílio Santiago.



Ronda

De noite eu rondo a cidade
A te procurar sem encontrar
No meio de olhares espio
Em todos os bares você não está
Volto pra casa abatida
Desencantada da vida
O sonho alegria me dá
Nele você está

Ah se eu tivesse
quem bem me quisesse
esse alguém me diria
Desista essa busca é inútil
Eu não desistia

Porém com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando dadinhos
Jogando bilhar
E nesse dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar da
avenida São João.

Ah se eu tivesse
Quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desista essa busca é inútil
Eu não desistia

Porém com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando dadinhos jogando bilhar

E nesse dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar da
Avenida São João


Fonte: Museu da Canção e Portal das Letras

Último Desejo

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Título: Último Desejo
Compositor: Noel Rosa e Vadico
Ano: 1937

"Último Desejo" foi composta no ano de 1937 quando Noel Rosa com tuberculose já em estágio bastante avançado, e sentindo que não viveria muito tempo, compôs em homenagem a Juraci Correia de MoraesCeci, bailarina de cabaré e grande paixão do compositor.

Esta composição foi uma espécie de despedida de Noel Rosa em relação à sua amada. Foi sua penúltima composição cuja letra foi entregue a Ceci por um amigo comum pouco antes do falecimento de Noel Rosa.

Aos condenados dá-se o direito ao último desejo. Noel Rosa conhecia a gravidade de seu estado de saúde e sabia que não lhe restaria mais muito tempo. Todas as tentativas de repouso para recuperação em cidades e abrigos de clima ameno, procuradas por orientação médica, são seguidas e mostraram-se ineficientes, mas ainda encontrou forças para compor, mesmo que já não a tivesse para cantar. Agora estava magro, muito magro e sentia fraqueza geral. Passou em casa seus últimos momentos.

Três de seus melhores sambas foram compostos no ano de sua morte: "Eu Sei Sofrer", "Prá Que Mentir", com música de Vadico, e "Último Desejo". São obras irretocáveis, de grande beleza estética e vivacidade. Recados cruéis e diretos a quem tanto ama, e formam uma mágica trilogia de dor e de coragem. Encerram em si a mais bela pintura psicológica de um ser em luta para exercer dignamente seu direito de vida no tempo que ainda lhe restar. Às 16:30 horas do dia 4 de maio de 1937, deu-se por vencido.

Seu último desejo seria mensagem particular e silenciosa, que Ceci, grande paixão do compositor, levaria consigo pela vida.  Em "Fita Amarela", quando se refere à morte pela primeira vez, utilizou-a como mera força de expressão literária. Já em "Pela Décima Vez" a tuberculose lhe atormentava e o amor lhe parecia um veneno fatal. Apareceu o medo. Noel Rosa enfrentou a terrível ameaça com suas armas afiadas: ironia e sarcasmo.

O mestre do samba, do amor, da paixão, também grande na graça, tornou-se então o poeta da morte. Ria de si mesmo para mostrar ao mundo sua nobreza e poder. A força da intuição e criatividade, na fascinante profissão de juntar notas e palavras para transformar sonhos em realidade, e a transfigurá-la em sonho novamente. A arte de fazer chorar e rir, rir e chorar; viver e morrer, morrer e viver em ciclo infinito.

Para conhecer mais sobre a vida e obra do cantor, compositor e violonista Noel Rosa, visite o blog Famosos Que Partiram.



Último Desejo

Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João 

Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete 
Sem luar, sem violão

Perto de você me calo 
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar

Nunca mais quero o seu beijo 
Mas meu último desejo
Você não pode negar

Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga 
Se você me quer ou não

Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação

Às pessoas que eu detesto 
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim

E que eu arruinei sua vida 
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim


Luar do Sertão

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Título: Luar do Sertão
Compositor: Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco
Ano: 1914

"Luar do Sertão"é uma toada brasileira de grande popularidade. Seus versos simples e ingênuos elogiam a vida no sertão, especialmente o luar. Catulo da Paixão Cearense defendeu em toda a sua vida que era seu autor único, mas hoje em dia se dá crédito da melodia a João Pernambuco. É uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos.

Polêmica Sobre Autoria

O tema pode ter origem no coco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá", de autor anônimo. Este coco integrava o repertório de João Pernambuco e teria sido por ele transmitido a Catulo da Paixão Cearense, como tantos outros temas. Ao menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Henrique Foréis Domingues no livro "No Tempo de Noel Rosa".

Homem simples, sequer alfabetizado, João Pernambuco, a certa altura de sua vida, queixava-se de ter sido vítima de plágio, por parte de Catulo da Paixão Cearense, quanto à autoria desta modinha. Segundo Mozart BicalhoCatulo da Paixão Cearense "disse uma vez que o 'Luar do Sertão' era uma melodia nortista, mais ou menos pertencente ao domínio folclórico".

O próprio Catulo da Paixão Cearense, em entrevista a Joel Silveira, declarou:

"Compus o 'Luar do Sertão' ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá'"

O historiador Ary Vasconcelos, em "Panorama da Música Popular Brasileira na Belle Époque", diz que teve a oportunidade de ouvir Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do "É do Maitá": a original e "outra modificada por João Pernambuco", esta realmente muito parecida com "Luar do Sertão".

Leandro Carvalho, estudioso da obra de João Pernambuco e organizador do CD "João Pernambuco - O Poeta do Violão" (1997), declarou:

"Por onde João andava, Catulo estava atrás, anotando tudo; foi o que aconteceu com 'Luar do Sertão': Catulo ouviu, mudou a letra e disse que era sua!"

João Pernambuco teve dois defensores ilustres: Heitor Villa-Lobos e Henrique Foréis Domingues, o Almirante. Se não conseguiram o reconhecimento judicial de João Pernambuco na sua condição de autor de "Luar do Sertão", pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o "Luar do Sertão" prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.

A Rádio Nacional, criada no Rio de Janeiro em 1936 a partir da compra da Rádio Philips, por 50 contos de réis, tinha como seu primeiro prefixo, "Luar do Sertão", o qual era tocado em vibrafone por Luciano Perrone tendo em seguida um locutor anunciando o prefixo da emissora: PRE-8.

"Luar do Sertão" esteve presente na trilha sonora do filme "Os Dois Filhos de Francisco" (2005)  na voz da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano, e na novela "Tieta" (1989) interpretada por Roberta Miranda.

Para conhecer mais sobre a vida e obra Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco, visite o blog Famosos Que Partiram.



Luar do Sertão

Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão

Ai que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão

Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão

Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a solidão

A gente pega na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia
A nos nascer no coração

Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão

Coisa mais bela neste mundo não existe
Do que ouvir-se um galo triste
No sertão, se faz luar

Parece até que a alma da lua é que descanta
Escondida na garganta
Desse galo a soluçar

Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
Abraçado à minha terra
E dormindo de uma vez

Ser enterrado numa grota pequenina
Onde à tarde a sururina
Chora a sua viuvez

Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão


Fonte: Wikipédia

Asa Branca

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Título: Asa Branca
Compositor:  Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
Ano: 1947

Asa Branca foi composta há 66 anos, gravada em 1947, uma parceria de Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira, conta com mais de 500 interpretações no Brasil e no mundo, sendo uma das canções que recebeu maior número de gravações.

"Asa Branca" é uma canção de choro regional, popularmente conhecido como baião. O tema da canção é a seca no Nordeste brasileiro que pode chegar a ser muito intensa, a ponto de fazer migrar até mesmo a ave asa-branca (Patagioenas Picazuro, uma espécie de pombo também conhecido como pomba-pedrês ou pomba-trocaz). A seca obriga, também, um rapaz a mudar da região. Ao fazê-lo, ele promete voltar um dia para os braços do seu amor. Há uma continuação de "Asa Branca", intitulada "A Volta da Asa Branca", que trata do retorno do retirante e de sua nova vida no Nordeste.

A versão mais conhecida é a cantada por Luiz Gonzaga. Além desta versão, a música foi gravada por uma série de outros artistas.

Há 66 anos, Luiz Gonzaga entrava no estúdio da RCA Victor para gravar uma toada chamada "Asa Branca", a primeira parceria sua com o cearense Humberto Teixeira, o maior clássico da música nordestina em todos os tempos, com mais de 500 regravações no Brasil e mundo afora.

Humberto Teixeira que estava no estúdio na noite da gravação, relembrou aquela sessão histórica, anos mais tarde, em Fortaleza, ao pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez:

"No dia em que gravamos, com o conjunto de Canhoto, ele disse assim: 'Mas puxa, vocês depois de um negócio desses, de sucessos, vêm cantar moda de igreja. Que troço horrível!' Aí então, eles com um pires na mão, saíam pedindo, brincando, uma esmola pro Luiz e pra mim, dentro do estúdio. Mal sabiam eles que nós estávamos gravando ali uma das páginas mais maravilhosas da música brasileira."
(Humberto Teixeira)

Em 1945, Luiz Gonzaga foi levado pelo compositor Lauro Maia, ao escritório de advocacia de Humberto Teixeira, na Avenida Calógeras, no Centro do Rio de Janeiro. Luiz Gonzaga andava há algum tempo à procura de um compositor com quem pudesse retrabalhar os ritmos do Nordeste, que conhecia tão bem dos forrobodós frequentados com o pai Januário, sanfoneiro conceituado no sertão do Araripe.

Sertanejo de Iguatu, CE, Humberto Teixeira já era compositor de relativa fama e simpatizou com o pernambucano, que conhecia de músicas como "Moda da Mula Preta" e "Vira e Mexe". os dois se reuniram, das 16:00 hs à 00:00 hs, para formatar uma música nordestina, que tivesse apelo popular para tocar no rádio: "Nesse mesmo dia nós fizemos os primeiros versos, discutimos as primeiras idéias em torno de 'Asa Branca', que só dois anos depois foi gravada", contou Humberto Teixeira, esquecendo de acrescentar que "Asa Branca" não foi uma composição inédita da dupla.

"'Asa Branca' é uma música do meu pai Januário, mas não tinha este nome, era chamada de 'Catingueira do Sertão' - a catingueira é uma árvore comum no semi-árido. Quem gravou com a letra original foi meu irmão Zé Gonzaga", lembra a cantora Chiquinha Gonzaga, irmã de Luiz Gonzaga. Ela só consegue lembrar dos versos iniciais da música que o pai dela tocava:

"Catingueira do sertão / fulorou, botou no chão / catingueira miudinha... Não recordo mais, lembro de outras coisas que meu pai tocava. Quem sabia todas aquelas músicas era Antônio da Pata que cantava no conjunto do meu pai", desculpa-se Chiquinha Gonzaga.

O velho Januário nunca escondeu de ninguém que "Asa Branca" era uma música sua. Dominguinhos conta que um dia estava em Exu, na casa de Januário:

"Enquanto seu Luiz tocava 'Asa Branca' na sanfona, Januário comentou comigo: 'Esta música aí foi esse negro safado que roubou de mim', claro que em tom de brincadeira".

Januário também havia se apropriado da música, que fazia parte do repertório de dos sanfoneiros da região, como também dos cegos que tocavam nas feiras em troca de dinheiro. Além do mais "Juazeiro", "Meu Pé de Serra", "Vira e Mexe", sucessos inaugurais de Luiz Gonzaga também eram temas musicais correntes no sertão, e foram levado por ele em seu matolão, quando deixou o povoado do Araripe, Exu, em 1930.


"Asa Branca" foi eleita pela Academia Brasileira de Letras em 1997 como a segunda canção brasileira mais marcante do século XX, empatada com Carinhoso, o choro que Pixinguinha compôs em 1917, e seguida apenas de "Aquarela do Brasil", composta por Ary Barroso em 1939.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, visite o blog Famosos Que Partiram.



Asa Branca

Quando olhei a terra ardendo
Com a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração


Fonte: Wikipédia e Jornal do Commercio - Recife, PE: 03/03/2007

Sampa

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Título: Sampa
Compositor:  Caetano Veloso
Ano: 1978

Sampa é uma música do LP "Muito - Dentro da Noite Azulada" do ano de 1978, de Caetano Veloso. Música composta por Caetano Veloso para homenagear a cidade de São Paulo, apesar das críticas inseridas na letra.

O cruzamento da Avenida Ipiranga com a Avenida São João deve seu grande reconhecimento à música "Sampa". uma homenagem a cidade paulistana, conhecida por sua garoa característica e pela recepção de um grande número de migrantes, em especial os baianos, como Caetano Veloso.

Apesar de estar presente em um dos álbuns de Caetano Veloso que menos fizeram sucesso (vendeu cerca de 30 mil cópias, apenas) a canção tornou-se uma das mais famosas e pedidas nos shows do cantor e compositor.

O curioso é que em uma cidade com grandes representantes como Os Mutantes e Demônios da Garoa, ninguém conseguiu decifrar São Paulo melhor do que o baiano Caetano Veloso. A obra prima é composta falando das principais características da capital paulista. A poluição, a recepção para os migrantes, as múltiplas culturas e o sonho de quem vem de fora estão presentes na composição.

Quem é paulistano tem orgulho da canção, quem não é, fica com vontade de conhecer Sampa, modo como os paulistanos apelidaram a cidade e que deu título para a canção. Exatamente a realidade.

Quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João, meu coração paulistano não sofre grandes abalos, a não ser por uma leve vontade de gastar quinze minutos com um chopp no terraço do Bar Brahma.

Consta, porém, que não é o que se passa com o coração de quem chega por aqui, sem nada entender. E assim se deu com Caetano Veloso, em 1965, quando, ao lado da irmã Maria Bethânia, viu seu coração vagabundo cruzar palpitante as avenidas que se cruzam e que sua canção ajudou a imortalizar.

Na verdade, a Avenida São João já havia sido imortalizada por cenas de sangue num bar cantadas em "Ronda", de Paulo Vanzolini. Aliás, a frase melódica do último verso de "Ronda": "cena de sangue num bar na Avenida São João", é reproduzida na introdução e nos versos finais de cada estrofe de "Sampa"

O compositor paulista não gostou da citação e, a cada rara entrevista que concede, não perde a oportunidade de espinafrar o baiano, acusando-o de plágio. Costuma dizer que "Sampa é puro marketing".

Ao meu ver, é incompreensível a postura do sempre enfático e coerente Paulo Vanzolini, pois ao citar sua música em "Sampa", fica claro que Caetano Veloso considerou "Ronda", que já havia sido gravada por Maria Bethânia, uma canção capaz de traduzir a cidade que ele pretendia homenagear. Trata-se, portanto, também, de uma homenagem a Paulo Vanzolini. Ainda que por tabela.

Mas "Ronda" é, apenas, a primeira homenageada, já que a canção é repleta de citações e homenagens a São Paulo e seus personagens, a começar por Rita Lee, eleita a mais completa tradução da cidade, e sua banda, Os Mutantes, composta por ela e pelos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, responsáveis pela face mais rock'n roll do tropicalismo e da Música Popular Brasileira.

O "avesso do avesso do avesso do avesso"é referência direta ao poeta concretista Décio Pignatari e sua luta pelo avesso. O irmãos Haroldo de Campos e Augusto de Campos surgem como "poetas de campos e espaços". É a dura poesia concreta nas esquinas de Caetano Veloso.

Em 1969, na montagem do Teatro Oficina de "Selva das Cidades", de Bertold Brecht, a arquiteta e cenógrafa Lina Bo Bardi colocou meia dúzia de troncos de árvores abatidas para a construção do Minhocão num ringue de boxe. No fim da cena, ironicamente chamada de "Área Verde", os troncos desmoronavam. Caetano Veloso ficou impressionado com a obra do diretor José Celso Martinez Corrêa e, quando compôs "Sampa", rendeu esta homenagem ao teatro paulistano, mencionando as "Oficinas de Florestas" da cidade. Hoje, José Celso defende o fim do Minhocão e a instalação de uma imensa área verde no entorno do teatro, localizado no bairro do Bixiga. Em retribuição à homenagem de Caetano Veloso, tal área será batizada de "Oficina de Florestas".

Ainda que em tempos de aquecimento global São Paulo alterne momentos de estiagem e outros de enchentes, houve um tempo em que São Paulo era conhecida como "terra da garoa". Não seria de se estranhar que os "deuses da chuva" citados em "Sampa" fizessem menção a esta alcunha. O mais provável, porém, é que o termo faça referência ao romance "Deus da Chuva e da Morte", do poeta e compositor paulistano Jorge Mautner, amigo e parceiro de Caetano Veloso, muito próximo ao tropicalismo. Referência para a turma da Tropicália, o livro "PanAmérica", de José Agrippino de Paula, também abocanhou sua citação.

Aliás, impressiona no Tropicalismo, especialmente na obra de Caetano Veloso, a tendência à auto-referência. Será que Narciso acha feio o que não é espelho?

Mas a turma da Bossa Nova também costuma merecer a atenção do bom baiano.

"Johnny, volta pro Rio. São Paulo é o túmulo do samba" - foi o que disse Vinícius de Moraes para Johnny Alf, quando este foi importunado por um cliente da boate La Cave, completamente embriagado. O autor de "Sampa" assinou embaixo da provocação do poeta. O curioso é que este já havia feito, muito antes dessa polêmica, em 1954, por ocasião do IV centenário da cidade, em parceria com Antonio Maria, o belo "Dobrado de Amor a São Paulo", cujo verso final - notem a coincidência - faz o sol encontrar o poeta na Avenida São João. Sempre a São João.

Por fim, quando "Novos Baianos passeiam na tua garoa", faz-se referência ao conjunto musical composto por Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby Consuelo (hoje, do Brasil), Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, sempre apoiados pelos meninos da Cor do Som.

Assim, milhões de novos pernambucanos, paraibanos, cearenses  alagoanos, sergipanos e, por que não, baianos, ainda podem curtir São Paulo numa boa. Vêm com outro sonho feliz de cidade. Não há mais garoa, nem lhes sobra muito tempo para o passeio. A força da grana os oprime nas filas, vilas, favelas. Correm entre carros, com suas motocicletas, lutando para não engordarem as mórbidas estatísticas. Aprenderam depressa que o outro nome de "Sampa"é realidade, mas seguem construindo a cidade para que ela um dia se transforme, quem sabe, em suas Áfricas utópicas, seus mais possíveis novos quilombos de Zumbi.



Sampa

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos Mutantes

E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa



Construção

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Título: Construção
Compositor:  Chico Buarque
Ano: 1971

"Construção"é uma canção do cantor e compositor brasileiro Chico Buarque, lançada em 1971 para seu álbum homônimo. Junto com "Pedro Pedreiro", é considerada uma das canções mais emblemáticas da vertente crítica do compositor, "podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso das relações aviltantes entre o capital e o trabalho".

A letra foi composta em versos dodecassílabos, que sempre terminam numa palavra proparoxítona. Os 17 versos da primeira parte (quatro quartetos, acrescidos de um verso-desfecho) são praticamente os mesmos dezessete que compõem a segunda parte, mudando apenas a última palavra. Os arranjos são do maestro Rogério Duprat, em uma melodia repetitiva, desenvolvida inicialmente sobre dois acordes. A música, entretanto, tem harmonia bem mais complexa.

A canção foi feita em um dos períodos mais severos da ditadura militar no Brasil, em meio à censura e à perseguições políticas. Chico Buarque havia retornado da Itália em março de 1970, país onde vivia desde o início de 1969, ao tomar distância voluntária da repressão política brasileira.

Letra e Música

Em um formato tipicamente épico, "Construção" narra a história de um trabalhador da construção civil morto no exercício de sua profissão, em seu último dia de vida, desde a saída de casa para o trabalho ("Beijou sua mulher como se fosse a última") até o momento da queda mortal ("E se acabou no chão feito um pacote flácido").

O narrador observa, organiza e comunica os acontecimentos, ocorridos numa história circular, cantada em melodia reiterativa e que modifica o ângulo de observação a cada repetição da letra com a troca de comparações ("Ergueu no patamar quatro paredes sólidas/mágicas/flácidas"), mas que no final encaminha para o mesmo fim, uma morte.

A letra contém uma forte crítica à alienação do trabalhador na sociedade capitalista moderna e urbana, reduzido a condição mecânica - intensificado especialmente por seus atos no terceiro bloco da canção ("máquina", "lógico"). Quando esse trabalhador ("um pacote flácido/tímido/bêbado") morre, a constatação é de que sua morte apenas atrapalha o "tráfego", o "público" ou o "sábado".

Ainda assim, Chico Buarque declarou, em entrevista concedida à revista Status, em 1973, que "Construção" não era para ele uma música de denúncia ou protesto.

"(...) Em 'Construção', a emoção estava no jogo de palavras. Agora, se você coloca um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse... um tijolo - acaba mexendo com a emoção das pessoas."
(Chico Buarque)

O autor emprega ousados processos de construção poética como, por exemplo, a alternância das proparoxítonas finais, "como se fossem peças de um jogo num tabuleiro", segundo o próprio Chico Buarque. A letra é dividida em três blocos. Nos dois primeiros, compostos por 17 versos, e mais seis no último bloco. Nos dois primeiros blocos é possível perceber o nítido jogo de palavras proparoxítonas criado por Chico Buarque.


No rascunho de "Construção", os versos estavam soltos, mas já dentro de uma métrica e ritmo final. Alguns desses versos foram abandonados: "Pôs pedra sobre pedra até perder o fôlego" / "E o máximo suor por um salário mínimo". Em um rascunho posterior, a melodia sugere o agrupamento dos versos em quadro. E só depois de concluída a primeira parte é que apareceram as alternativas: "Tijolo com tijolo num desenho mágico/lógico", "E flutuou no ar como se fosse um pássaro/sábado", etc.

À complexidade da letra de "Construção", corresponde uma linha de apenas dois acordes, composta pelo maestro Rogério Duprat, que são repetidos à medida que se sucedem as imagens "como se ele tivesse realmente colocando laje sobre laje num edifício". O grupo MPB-4 participa do coro musical. Após o último verso do terceiro bloco, surge uma reprise com três estrofes de "Deus Lhe Pague", canção que abre o disco "Construção".

Crítica

O músico brasileiro Tom Jobim adorava a canção. Segundo seu filho Paulo Jobim, o pai chegou a recortar a letra da canção, publicada em um jornal da época, e a colou em um caderno. Helena Jobim confirma o entusiasmo do irmão: "Comentava a perfeição da letra, em que Chico usa palavras proparoxítonas, com rara maestria".

Conhecido por sua posições de direita, o jornalista David Nasser pôs-se um dia a louvar a canção - para, num trecho do artigo, a falar da insistência nas proparoxítonas, acrescentar mais uma: "Médici, o nosso presidente".

Para Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, "Construção" tem "uma letra extraordinária, de qualidade rara numa canção popular".

Em 2001, o jornal Folha de S.Paulo, em uma enquete realizada com 214 votantes, entre jornalistas, músicos e artistas do Brasil, elegeu "Construção" como a segunda melhor canção brasileira de todos os tempos - atrás de "Águas de Março", de Tom Jobim. Já em uma eleição, em 2009, promovida pela versão brasileira da revista Rolling Stone, "Construção" foi eleita a melhor canção brasileira de todos os tempos.



Construção

Amou daquela vez como se fosse a última 
Beijou sua mulher como se fosse a última 
E cada filho seu como se fosse o único 
E atravessou a rua com seu passo tímido 
Subiu a construção como se fosse máquina 
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas 
Tijolo com tijolo num desenho mágico 
Seus olhos embotados de cimento e lágrima 
Sentou pra descansar como se fosse sábado 
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe 
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago 
Dançou e gargalhou como se ouvisse música 
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado 
E flutuou no ar como se fosse um pássaro 
E se acabou no chão feito um pacote flácido 
Agonizou no meio do passeio público 
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego 

Amou daquela vez como se fosse o último 
Beijou sua mulher como se fosse a única 
E cada filho seu como se fosse o pródigo 
E atravessou a rua com seu passo bêbado 
Subiu a construção como se fosse sólido 
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas 
Tijolo com tijolo num desenho lógico 
Seus olhos embotados de cimento e tráfego 
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe 
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo 
Bebeu e soluçou como se fosse máquina 
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo 
E tropeçou no céu como se ouvisse música 
E flutuou no ar como se fosse sábado 
E se acabou no chão feito um pacote tímido 
Agonizou no meio do passeio náufrago 
Morreu na contramão atrapalhando o público 

Amou daquela vez como se fosse máquina 
Beijou sua mulher como se fosse lógico 
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas 
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro 
E flutuou no ar como se fosse um príncipe 
E se acabou no chão feito um pacote bêbado 
Morreu na contramão atrapalhando o sábado


Fonte: Wikipédia

Aquarela do Brasil

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Título: Aquarela do Brasil
Compositor: Ary Barroso
Ano: 1939

"Aquarela do Brasil"é uma das mais populares canções brasileiras de todos os tempos, escrita pelo compositor mineiro Ary Barroso em 1939.

Antecedentes e Produção

A canção "Aquarela do Brasil" foi composta numa noite de 1939 na qual Ary Barroso foi impedido de sair de casa devido a uma forte tempestade. Naquela mesma noite, também compôs "Três Lágrimas" antes que a chuva acabasse.

Antes de ser gravada, "Aquarela do Brasil", inicialmente chamada de "Aquarela Brasileira", foi apresentada pelo barítono Cândido Botelho no musical "Joujoux e Balangandans", espetáculo beneficente patrocinado por Darcy Vargas, a então primeira-dama.

A canção foi originalmente gravada por Francisco Alves, com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali e Sua Orquestra, e lançada pela Odeon Records naquele mesmo ano. Foi também gravada por Aracy Côrtes e, apesar da popularidade da cantora, a canção não fez sucesso, talvez por não ter se adequado bem à voz dela.

Popularidade

O sucesso de "Aquarela do Brasil" demorou a se perpetuar. Em 1940, não conseguiu ficar entre as três primeiras colocadas no concurso de sambas carnavalescos, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos, com quem Ary Barroso cortou relações, que só foram retomadas quinze anos depois, quando ambos receberam a Comenda Nacional do Mérito. O sucesso só veio após a inclusão no filme de animação "Saludos Amigos", lançado em 1942 pelos Estúdios Disney. Foi a partir de então que a canção ganhou reconhecimento não só nacional como internacional, tendo se tornado a primeira canção brasileira com mais de um milhão de execuções nas rádios estadunidenses.

Devido à enorme popularidade conquistada nos Estados Unidos, a canção recebeu uma letra em inglês do compositor Bob Russell, escrita para Frank Sinatra em 1957. Desde então, já foi interpretada por cantores de praticamente todas as partes do mundo.

Durante a ditadura militar, Elis Regina interpretou aquela que talvez seja a versão mais sombria da canção, acompanhada por um coral que reproduzia os cantos dos povos indígenas do Brasil.

Críticas

A canção, por exaltar as qualidades e a grandiosidade do país, marcou o início do movimento que ficaria conhecido como samba-exaltação. Este movimento, por ser de natureza extremamente ufanista, era visto por vários como sendo favorável à ditadura de Getúlio Vargas, o que gerou críticas à Ary Barroso e à sua obra. No entanto, a família do compositor nega que ele algum dia tenha sido favorável à política de Getúlio Vargas, destacando o fato de que ele também escreveu "Salada Mista", gravada em outubro de 1938 por Carmen Miranda, uma canção contrária ao nazi-fascismo do qual Getúlio Vargas era simpatizante. Vale notar também que antes de seu lançamento, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) vetou o verso "terra do samba e do pandeiro", por entender que era "depreciativo" para o Brasil. Ary Barroso teve de ir ao Departamento de Imprensa e Propaganda para convencer os censores da preservação do verso.

Outra crítica feita à obra de Ary Barroso, na época, foi que usava termos pouco usuais no cotidiano, tais como "inzoneiro", "merencória" e "trigueiro", e que abusava da redundância nos versos "meu Brasil brasileiro" e "esse coqueiro que dá coco". O autor se defendeu, dizendo que estas expressões são efeitos poéticos indissolúveis da composição. Na gravação original, Francisco Alves canta "mulato risoneiro" no lugar de "inzoneiro" por não ter compreendido a caligrafia ilegível de Ary Barroso.

Gravações Famosas

  • 1943 - Carmen Miranda em "Entre a Loura e a Morena"
  • 1957 - Frank Sinatra em "Come Fly With Me"
  • 1958 - Bing Crosby em "Fancy Meeting You Here"
  • 1960 - Ray Conniff em "Say It With Music (A Touch Of Latin)"
  • 1963 - Paul Anka em "Our Man Around The World"
  • 1970 - Antonio Carlos Jobim em "Stone Flower"
  • 1970 - Erasmo Carlos em "Erasmo Carlos & Os Tremendões"
  • 1975 - Elis Regina em "A Arte de Elis Regina"
  • 1976 - Chet Atkins em "Guitar Monsters"
  • 1976 - João Gilberto em "Amoroso"
  • 1980 - Gal Costa em "Aquarela Do Brasil"
  • 1980 - Simone em "Ao Vivo"
  • 1985 - Cláudya em "Luz Da Vida (Ao Vivo)"
  • 1987 - Ney Matogrosso em "Pescador De Pérolas"
  • 1988 - Emílio Santiago em "Aquarela Brasileira Vol. 1"
  • 1990 - Harry Belafonte em "Around The World With The Entertainers"
  • 1991 - Deborah Blando em "Different Story"
  • 1995 - Dionne Warwick em "Aquarela Do Brazil"
  • 1997 - Pink Martini em "Sympathique"
  • 1998 - Vengaboys em "To Brazil"
  • 2000 - Daniel Barenboim em "Brazilian Raphsody"
  • 2004 - Martinho da Vila em "Apresenta Mané do Cavaco"
  • 2005 - Arcade Fire em "Rebellion (Lies)"
  • 2005 - Daniela Mercury em "Balé Mulato"
  • 2005 - Plácido Domingo em "Lo Essencial de Plácido Domingo"
  • 2006 - Beirut em "Live At The Flying Anvil"

Usos Na Cultura Popular

Cinema
  • 1940 -Laranja da China
  • 1942 - Aquarela do Brasil
  • 1942 - Saludos Amigos (Segmento Aquarela do Brasil)
  • 1943 - The Gang's All Here
  • 1943 - Gals, Incorporated
  • 1943 - Popular Science
  • 1944 - The Three Caballeros
  • 1944 - Brazil
  • 1944 - Jam Session
  • 1948 - Sitting Pretty
  • 1955 - La Culpa De Los Hombres
  • 1956 - The Eddy Duchin Story
  • 1965 - Samba
  • 1972 - Os Inconfidentes
  • 1976 - Silent Movie
  • 1980 - Stardust Memories
  • 1985 - Brazil
  • 1998 - There's Something About Mary
  • 1999 - Being John Malkovich (Trailer)
  • 1999 - Three To Tango
  • 2000 - Woman On Top
  • 2002 - Carandiru
  • 2003 - Something's Gotta Give
  • 2004 - The Aviator
  • 2004 - Millions
  • 2006 - Sicko
  • 2007 - Bee Movie (Trailer)
  • 2008 - Wall-E (Trailer)
  • 2009 - Austrália

Televisão
  • Década de 90 - Alborghetti
  • 1996 - Dexter's Laboratory (Episódio: "Dimwit Dexter")
  • 2000 - Aquarela do Brasil (Tema de Abertura)
  • 2002 - The Simpsons (Episódio: "Blame It On Lisa")
  • 2007 - Vidas Opostas (Tema de Abertura)
  • 2007 - Eterna Magia (Tema do Rio de Janeiro)
  • 2008 - Eli Stone (Tema de Abertura)



Aquarela do Brasil

Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
Ô Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil, Brasil
Prá mim, prá mim

Ô abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil, Brasil
Deixa cantar de novo o trovador
A merencória luz da lua
Toda canção do meu amor
Quero ver a Sá Dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil, Brasil
Prá mim, prá mim

Brasil
Terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiferente
Ô Brasil, verde que dá
Para o mundo admirar
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil,Brasil
Prá mim, prá mim

Ô, esse coqueiro que dá coco
Oi onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil, Brasil
Ô oi estas fontes murmurantes
Oi onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ô, esse Brasil
Lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil, Brasil
Prá mim, prá mim


Fonte: Wikipédia

Rosa de Hiroshima

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Título: Rosa de Hiroshima
Compositor: Vinícius de Moraes
Música: Gerson Conrad
Ano: 1954 / 1973

"Rosa de Hiroshima"é um poema de Vinícius de Moraes, musicado por Gerson Conrad na canção "Rosa de Hiroshima" da banda Secos & Molhados. Fala sobre a explosão atômica de Hiroshima. O poema alude aos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki ocorridos na Segunda Guerra Mundial.

Canção

"Rosa de Hiroshima" foi lançada no ano de 1973, no disco de estreia do grupo. Foi a única canção creditada a Gerson Conrad no álbum. A canção é um grito pacifista e anti-nuclear, lançada em plena ditadura no Brasil. Foi apresentada ao vivo no espetáculo histórico do grupo no Maracanãzinho em meados de 1974.

A música foi a décima terceira mais executada nas rádios brasileiras no ano de 1973. Em 2009, a revista Rolling Stone brasileira listou "Rosa de Hiroshima" como a número 69 entre "As 100 Maiores Músicas Brasileiras".

Outras Versões

A canção foi lançada em uma versão ao vivo em "Secos & Molhados - Ao Vivo no Maracanãzinho", em 1974. Ney Matogrosso regravou, e apresentou ao vivo esta canção em carreira solo. Arnaldo Antunes regravou esta canção para o disco "Assim Assado - Tributo ao Secos & Molhados" que comemorava os 30 anos do Secos & Molhados, lançado em 2003.

Análise do Poema

Na primeira parte do poema, os versos são formados por cinco sílabas, tendo começos e fins definidos por consoantes que os separam. Além disso, a primeira sílaba é sempre tônica para marcar o começo de um novo verso. Perceba:

Pen sem nas cri an/ ças
Mu das te le pá/ ticas

Isso dá um ritmo mais cadenciado à leitura dos versos, como que criando fotos e dando tempo para que o leitor realmente "se lembre" das imagens que o poeta quer passar e reflita. Cada par de versos, uma foto.

Então chegamos aos versos que ficam ao meio do poema:

Mas, oh, não se esqueçam / Da rosa da rosa

Até aí, as imagens eram sobre as consequências da bomba atômica e sua radioatividade. Agora, ele pede que nos lembremos da bomba, em si, simbolizada pela rosa em alusão à flor de dejetos e fumaça que a bomba criou. E, a partir daí, o poema muda.

Os versos passam a ter seis sílabas e todos fazem parte de uma única imagem - a da bomba  portanto, devem ser interligados. Como fazer isso? Produzindo uma sinérese entre vocábulos e versos (ligando duas vogais, a do fim da última palavra de um verso com a do início do próximo verso, num fonema só). Por isso desde o início da nova foto, "Da rosa de Hiroshima", todos os versos são terminados em vogal e iniciados com outra. Veja:

Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida

O poema termina com uma última parte, com dois versos, novamente em redondilha menor (cinco sílabas) e iniciados em consoantes:

Sem cor sem perfume / Sem rosa, sem nada

Mostram novamente, as consequências da bomba, deixando o local desabitado, sem vida.


Publicações

  • Antologia Poética
  • Poesia Completa e Prosa: "Nossa Senhora de Los Angeles"
  • Poesia Completa e Prosa: "Cancioneiro"


Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada


Rosa

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Título: Rosa
Compositor: Otávio de Souza e Pixinguinha
Ano: 1917

Uma das mais belas canções da história do choro é a valsa "Rosa" do mestre Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Um primor tanto na versão original, sem letra, quanto na versão mais conhecida com letra de Otávio de Souza. Além da beleza ímpar, a música possui algumas curiosidades.

Segundo o próprio autor, a valsa foi composta em 1917 e o título original era "Evocação", só recebendo letra muito mais tarde. Como manda a regra e a tradição do chorinho, a música foi composta em três partes. Mais tarde, recebeu letra apenas para primeira e segunda partes e foi gravada e regravada muitas vezes dessa forma. Há alguns anos atrás, a versão original, em três partes e sem letra, foi regravada para o box "Choro Carioca, Música do Brasil" lançado pela gravadora Acari.

"O autor dessa letra é Otávio de Souza, um mecânico do Engenho de Dentro, bairro carioca, muito inteligente e que morreu novo."
(Pixinguinha)

A letra de "Rosa"é um capítulo à parte. Rebuscada, parnasiana e lindíssima foi composta pelo improvável Otávio de SouzaOtávio de Souza era um mecânico de profissão que morreu jovem e nunca compôs nada parecido com "Rosa". Um compositor de uma única música, uma obra prima.

Conta a lenda que Otávio de Souza se aproximou de Pixinguinha enquanto o mestre bebia em um bar do subúrbio carioca para falar que havia uma letra que não saía de sua cabeça toda vez que ouvia a valsa. Pixinguinha ouviu e ficou maravilhado.

A gravação feita por Orlando Silva foi a responsável pela popularização de "Rosa", com erro de concordância e tudo no trecho "sândalos dolente". Francisco Alves e Carlos Galhardo deixaram de gravar "Rosa" por terem se recusado a gravar "Carinhoso" destinado ao Lado A do mesmo disco. Sobrou, então, a valsa para Orlando Silva, que lhe deu interpretação magistral.

"Rosa"é uma linda valsa de breque, mas de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de legatos, já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem os espaços para o cantor tomar fôlego. Quanto à letra, é também um exemplo do estilo poético rebuscado em moda na época. O desafio de regravar "Rosa" foi tentado por alguns intérpretes, sendo talvez o melhor resultado obtido por Marisa Monte, em 1990, com pequenas alterações melódicas.

Outra curiosidade é que "Rosa" era a canção preferida da mãe de Orlando Silva, Dona Balbina. Após sua morte, em 1968, Orlando Silva  jamais voltou a cantar a canção pois sempre chorava.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Pixinguinha, visite o blog Famosos Que Partiram.



Rosa

Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer


Fonte: Aquele Samba e Comunidade Orkut

Canteiros

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Título: Canteiros
Letra Original: Cecília Meireles (Marcha)
Música e Versão: Fagner
Ano: 1973

A belíssima música "Canteiros" de "autoria" do cantor cearense Raimundo Fagneré uma das música mais polêmicas da história musical brasileira. Toda essa polêmica não tem a ver com a canção em si, mas com a autoria da mesma.

A canção foi lançada em 1973, no álbum de estreia do cantor, e, na ocasião, não fez lá muito sucesso. Posteriormente, quando o cantor já havia estourado lá na região sudeste, a música se tornou um grande sucesso. Na ocasião, foi aberto um processo criminal contra o cantor, pelas filhas da grande poetisa brasileira Cecília Meireles, por supostamente ter plagiado o poema "Marcha", de autoria da mesma.

Em 1979, durante uma audiência, ao ser interrogado no dia pelo Juiz Jaime Boente, na 16ª Vara Criminal, Fagner afirmou que ''sem tirar a beleza dos versos, procurou fazer uma adaptação à música'', reconhecendo o uso indevido do poema "Marcha", de Cecília Meireles, na composição "Canteiros". O próprio cantor, antes mesmo de ser acusado de plágio já tinha dividido a parceria da letra com Cecília Meireles e inclusive divulgando-a em release de show, em 1977.

Contudo, apesar deste fato, o processo continuou a se desenrolar, e em 1983, um jornal de circulação nacional destacou em letras garrafais:

''Caso Fagner: filhas de Cecília Meireles ganham na Justiça''

O título da matéria se referia ao fato de as herdeiras terem conseguido condenar as gravadoras Polygram, Polystar, Polifar, as Edições Saturno e o cantor Raimundo Fagner a pagar uma multa de Cr$ 101.000,00 por violação de direitos autorais.

A confusão envolvendo o cantor  e as herdeiras de Cecília Meireles somente chegou ao fim em 1999, quando a gravadora Sony Music fez um acordo com elas para a regravação da música, o que aconteceu em janeiro de 2000, em Fortaleza, no primeiro registro ao vivo das músicas do compositor cearense.


Para o Juiz Jaime Boente, Fagner violou a lei de número 5.988/73 que regula os direitos autorais e com a agravante de plágio, nos artigos 184 e 185 do Código Penal. Eis, a título de curiosidade e comparação com a letra cantada por Fagner, o poema ''Marcha'', original de Cecília Meireles:

''Quando penso no teu rosto, fecho os olhos de saudade
Tenho visto muita coisa, menos a felicidade
Soltam-se meus dedos tristes
dos sonhos claros que invento
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento"

Fagner mudou algumas coisas e o trecho da música ficou assim:

''Quando penso em você, fecho os olhos de saudade
Tenho visto muita coisa, menos a felicidade
Correm dos meus dedos longos
os versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
já me dá contentamento"



Canteiros

Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade

Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento

Pode ser até manhã
Sendo claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem
me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois se não chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração


Marcha

As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebram as formas do sono
com a idéia do movimento.


Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.


Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.


Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.


Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos ristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentameno.


Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lágrima nem grito:
apenas consentimento.


Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores

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Título: Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Compositor: Geraldo Vandré
Ano: 1968

Em 13 de dezembro de 1968, o governo militar editou o Ato Institucional Número 5 (AI-5) dando amplos poderes ao executivo, suspendendo o habeas corpus para crimes políticos. Na imagem capa do jornal Folha de São Paulo em 14/12/1968.


Entre tantas músicas, que de uma forma ou de outra nos conta os longos 20 anos de ditadura, existe uma em especial: "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores", também conhecida como "Caminhando". Esta música foi composta em 1968 por Geraldo Vandré, um homem paraibano, que depois de 1968 sumiu e ficou durante anos em silêncio, mas que deixou como herança para as novas gerações, uma composição que por muitos é considerada um hino contra a ditadura. Alguns ainda dizem que é a Marselhesa brasileira. Marselhesa foi um canto de guerra revolucionário que acompanhava a maior parte das manifestações francesas, e em 1975 tornou-se hino nacional da França.

A música "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores", tem grande importância na história político-social do Brasil e suas contribuições para a transformação da sociedade brasileira perduram até os dias atuais. A letra de uma música traz consigo pensamentos de uma época, ideologias e características da cultura de um povo e, como um texto, é formada por elementos pragmáticos que trazem informatividade e a situacionalidade de sua composição.

"Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores" participou do III Festival Internacional da Canção e ficou em segundo lugar. Depois disso, teve sua execução proibida durante anos, pela ditadura militar brasileira. A composição se tornou um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura militar durante os governo militar, e foi censurada. O Refrão "Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer" foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores.

Ainda em 1968, com o AI-5, Geraldo Vandré foi obrigado a exilar-se. Depois de passar dias escondido na fazenda da viúva de Guimarães Rosa, morto no ano anterior, o compositor partiu para o Chile e, de lá, para a França.

Geraldo Vandré voltou ao Brasil em 1973 e até hoje, vive em São Paulo e compõe. Muitos, porém, acreditam que Geraldo Vandré tenha enlouquecido por causa de supostas torturas que ele teria sofrido. Dizem que uma das agressões físicas que sofreu foi ter os testículos extirpados, após a realização de um show, por policiais da repressão. O músico, no entanto, nega que tenha sido torturado e diz que só não se apresenta mais porque sua imagem de "Che Guevara Cantor" abafa sua obra.

A canção "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores" foi usada em 2006 pelo Governo Federal como trilha musical para publicidade de suas Políticas de Educação como o ProUni e o ENEM, sendo executada em um ritmo diferente. Dessa forma, a música que foi considerada uma ameaça ao governo ditatorial passou a ser usada para publicidade do governo no período democrático.

A melodia da canção tem o ritmo de um hino, e sua letra possui versos de rima fácil (quase todos terminados em ão), que facilitam memorizá-la, logo era cantada nas ruas. E o sucesso de uma canção que incitava o povo à resistência levou os militares a proibi-la, usando como pretexto a "ofensa"à instituição contida nos versos: "Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição / de morrer pela pátria e viver sem razão".

A primeira cantora a interpretar "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores" após o período em que a canção esteve censurada foi Simone, em 1979, conquistando enorme sucesso de crítica e público.



Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores

I

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção…

Refrão Repetido

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer… (2x)

II

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão…

Refrão Repetido

III

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão…

Refrão Repetido

IV

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não…

V

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição…

Refrão Repetido - 2x


Fonte: WikipédiaUOL Mais

Aquarela

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Título: Aquarela
Compositor: Toquinho, Guido Morra e Maurizio Fabrizio
Versão Brasileira: Toquinho
Ano: 1983

Em 1982, após vários anos de apresentações na Itália, Toquinho já era um nome de destaque naquele país. O empresário Franco Fontana criara a gravadora Maracana objetivando diretamente a música brasileira, e resolvera gravar um disco com Toquinho, com músicas novas. Para isso escolheu o músico italiano Maurizio Fabrizio, que havia vencido o Festival de San Remo e que, na visão de Franco Fontana, concentrava características semelhantes às do violonista brasileiro.

Do encontro dos dois resultou uma generosa parceria, material para quatro discos entre o período de 1983 e 1994. Essas canções receberam originalmente letras em italiano, a grande maioria, de Guido Morra, e poucas  de Sergio Bardotti. Depois algumas foram vertidas para o castelhano por I. Baldacchi e outras por C. Toro. Parte delas recebeu versões de Toquinho, que as gravou também em português. Toquinho conta como teve início essa parceria:

"Quando o Franco decidiu investir nesse disco, surgiu a grande controvérsia: a parceria. Ele arriscou no Maurizio Fabrizio. Eu não sabia quem era o Maurizio. Não o conhecia, nunca o tinha visto. Aí, o Maurizio me telefonou do Aeroporto de Congonhas: 'Eu estou com uma blusa amarela, uma calça cinza e uma mala marrom te esperando'. E eu: 'Vou estar com um carro prata'. Cheguei, olhei, lembrei das dicas, ele me viu, nos acenamos, e pronto.
Fomos para casa e ele dormiu um pouco. Quando acordou, almoçamos - isso no dia em que ele chegou - e eu tinha uma pianolinha, uma coisinha ridícula - ele toca piano - então peguei meu violão e disse: 'Nós temos que fazer músicas. Vamos combinar uma coisa: o que você não gostar daquilo que eu faço, me fala. E o que eu não gostar do que você faz, eu falo. Tudo bem?'. Ele concordou e começou a mostrar uma música. Achei meio chata a primeira parte, mas quando ele entrou na segunda parte, eu gostei, lembrava a primeira parte de 'Uma Rosa Em Minha Mão', que fiz com Vinicius, em 1974, para a novela 'Fogo Sobre Terra', da Globo.
Então, toquei para ele, que, em seguida, começou com a segunda parte da música dele. Uma se encaixou na outra, naturalmente, na primeira tentativa, era a primeira música que ele me mostrava... Assim, gastamos nem três minutos para fazer a música que seria conhecida como 'Acquarello', em italiano, que é a nossa 'Aquarela'.
Achei bonita, me animei, e nos outros dias fizemos umas oito melodias. Maurizio voltou para a Itália para criar os arranjos e trabalhar com o letrista, o Guido Morra, que fez as letras de todas as nossas canções. Quando cheguei na Itália, em novembro de 1982, para fazer a temporada de shows e gravar o disco, nunca me esqueço, estava num restaurante e eles apareceram com todas as letras já datilografadas. 'Vamos mostrar todas as letras para você, e deixar por último, aquela pela qual todos estão encantados'.
Eu não confiava nessa música como música de sucesso, nem imaginava isso. Para mim, era só uma canção de meio de disco. Então, me mostraram todas as letras e, por fim, a última: 'Acquarello'. É uma letra mágica: desperta a criança que carregamos dentro de nós, reforça o romantismo da amizade, aviva as delícias de se ganhar o mundo com a rapidez moderna, e, por fim, nos alerta para o enigma do futuro que guarda em seu bojo a implacável ação do tempo, fazendo tudo perder a cor, perder o viço, perder a força.
Gravei o disco e fizemos o lançamento em Sanremo. Depois da primeira apresentação de 'Acquarello', começaram a pipocar comentários os mais maravilhosos, o disco saiu com 30 mil cópias, que se esgotaram no segundo dia. Essa música tem realmente um aspecto emocional muito forte, um apelo comercial, as pessoas ouvem e se envolvem. De repente, o Franco passou a me telefonar: 'Olha, a música estourou por aqui, está nos primeiros lugares das paradas'. Voltei lá para fazer promoção, aí, ninguém segurou mais.
Fui o primeiro artista brasileiro a ganhar um Disco de Ouro na Itália - 100.000 cópias, como aqui. Virei artista popular fora do Brasil! Então, resolveu-se gravar a música em português. Quando conheci a letra, ainda na Itália, me empolguei em fazer a tradução. Sabia que encontraria dificuldades, pois é uma letra grande, as rimas tinham de ser precisas. Mudei muita coisa na forma de dizer, para poder conservar em nossa língua, a mesma magia atingida pelo 'Morra', em italiano. E começou a sair um negócio bonito, nem eu mesmo sabia o que era. Mesmo assim, achava a letra muito grande. Mas não deu outra coisa. Saiu aqui e foi outro estouro igual. Na Espanha, a mesma coisa. Na Argentina, na França, em todo lugar. Aqui no Brasil virou tema de publicidade, tarefa de escola para a criançada, e até hoje é exigida e cantada nos shows, como na época de seu lançamento. 'Aquarela' foi um marco em minha carreira, como seria na de qualquer outro. Uma coisa definitiva na vida de um compositor.
'Aquarela' é uma música que tem algo melhor, quem sabe a força da ingenuidade infantil ligada a um encanto popular que emociona. O primeiro acorde já levanta as pessoas. Consolidou-me, tanto na Itália como aqui, na América do Sul e na Europa. A partir daí as pessoas me reconheceram também como instrumentista, tornei-me popular."



Aquarela

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo.
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo.

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva.
E se faço chover
Com dois riscos tenho um guarda-chuva.

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel.
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu.

Vai voando
Contornando a imensa curva Norte e Sul.
Vou com ela
Viajando Havaí, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul.

Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar.

Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar.

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida.

De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo.
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo.

Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente o futuro está.

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar.
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar.

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá.
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar

Vamos todos
Numa linda passarela de uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá.

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço o mundo
(Que descolorirá!)


Fonte: Website Oficial do Toquinho

Eu Sei Que Vou Te Amar

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Título: Eu Sei Que Vou Te Amar
Compositor: Vinícius de Moraes e Tom Jobim
Ano: 1958

"Eu Sei Que Vou Te Amar"é uma canção de Vinícius de Moraes e Tom Jobim composta em 1958. É considerada a 24ª melhor música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil. "Eu Sei Que Vou Te Amar"é um samba-canção com inúmeras regravações, inclusive no exterior. É inesquecível a versão na qual Maria Creuza interpreta a canção enquanto Vinícius de Moraes, o Poetinha, declama o "Soneto de Fidelidade".

Inspirados na ideia da canção, em 1986, Arnaldo Jabor (direção) e Helio Paula Ferraz produziram "Eu Sei Que Vou Te Amar", grande clássico da dramaturgia brasileira, que rendeu inclusive o prêmio de melhor atriz para Fernanda Torres, no Festival de Cannes.

A música fez parte da trilha sonora de várias novelas, como: "Bambolê" (1987 - Carla Daniel), "Beleza Pura" (2008 - Nana Caymmi e Maácio Faraco), "América" (2005 - Caetano Veloso), "A Feia Mais Bela" (2006 - Jaime Camil), "Anjo Mau" (1997 - Anna Lengruber), dentre outras.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, visite o blog Famosos Que Partiram.



Eu Sei Que Vou Te Amar

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
A cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Prá te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
A cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Prá te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida


Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Fonte: Museu da Canção

O Ébrio

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Título: O Ébrio
Compositor: Vicente Celestino
Ano: 1935

"O Ébrio", canção de autoria de Vicente Celestino e interpretada por ele mesmo, popularizada não só pelo seu tema - a história de um homem abandonado pela mulher que busca consolo nas bebidas - como pelo enorme sucesso de bilheteria que foi o filme de título homônimo. A música já estava sendo executada nas emissoras de rádio desde 1937, mas quando Gilda de Abreu, esposa de Vicente Celestino, transformou o tema em filme, em 1946, protagonizado pelo próprio Vicente Celestino, o sucesso, tanto do filme quanto da música, foi estrondoso.

"O Ébrio"é um clássico do cinema brasileiro e foi um dos filmes mais populares do Brasil, ficando duas décadas em cartaz, sendo também o filme brasileiro do qual mais cópias se tiraram. Estima-se que, somente nos seus primeiros quatro anos, foi visto por 4 milhões de espectadores em um país que acabara de chegar a 50 milhões de habitantes.

A História Narrada no Filme

Gilberto Silva, um rico, brilhante e famoso médico no Rio de Janeiro, mas cercado de parentes interesseiros e sem escrúpulos, é loucamente apaixonado pela sua atraente esposa, Marieta, uma mulher frívola e de caráter duvidoso. Seu ambicioso primo José, fingindo louca paixão, consegue seduzir Marieta e convencê-la a fugir com ele para os Estados Unidos, levando dinheiro e jóias do casal. Gilberto fica arrasado com o abandono e traição da esposa, e passa muitos dias recolhido à sua casa, acometido do mais fundo desespero.

Numa madrugada, vagando pelo centro do Rio de Janeiro, é única testemunha de uma tragédia: um homem é atropelado e esmagado por um carro em alta velocidade. Vendo que o homem não porta nenhum documento de identidade e que tem a sua mesma compleição física, Gilberto coloca nos seus bolsos os seus documentos pessoais e vai embora, nunca mais retornando ao seu lar.

Os jornais no outro dia estampam a notícia da sua morte. Morre oficialmente o médico Gilberto e nasce um ébrio que desperta admiração e simpatia pelas suas maneiras educadas e por uma sólida cultura que transparece do seu jeito filosoficamente amargo e descrente de interpretar o seu cotidiano de bêbado.

Anos depois, Gilberto, junto com seu inseparável amigo Pedro, o único que conhece a história da sua vida, está bebendo num sórdido bar da zona boêmia do Rio de Janeiro, quando é interpelado por uma jornalista que fazia uma reportagem sobre o drama do alcoolismo. Ela deseja saber por que ele bebe. "Eu bebo para esquecer", responde Gilberto, e, ato contínuo, passa a mão num violão e começa a cantar a sua história. Todo o bar fica num mais profundo, respeitoso e emocionado silêncio. O português, dono do bar, enxuga uma furtiva lágrima dos olhos, enquanto a alma daquele bêbado escorre dolorosamente pelo violão... Gilberto termina a canção, recebe uma garrafa de cachaça como prêmio e vai bebê-la em outro compartimento do bar.

Mas, uma decadente mulher que se encontrava no bar, mendigando um prato de comida, quase enlouquece de assombro e desespero, pois reconhecera a voz do cantor. Não era possível, mas aquele homem, que cantara de maneira tão comovente ao violão, tinha a voz do seu falecido marido Gilberto e aquela história - ah, aquela história! - ela a conhecia muito bem. Era Marieta, pálida sombra da bela e elegante mulher de outrora, caída na sarjeta da pobreza e do abandono. Quando José, o vil amante por quem desprezara lar e marido, a trocara nos Estados Unidos pelo jogo, bebida e novas amantes, ela voltara para o Brasil, mas, repudiada por amigos e parentes, entregara-se à vida boêmia e à prostituição.

Quando Pedro, o inseparável amigo de Gilberto, volta para o salão principal tentando conseguir do português mais uma nova garrafa de cachaça, Marieta o pega pelo braço e lhe pergunta se o seu amigo não se chama Gilberto. Pedro se sobressalta, quer negar, desvencilhar-se dos braços da aflita mulher, mas o desespero estampado no rosto dela o comove. Confirma que o seu amigo se chama Gilberto e só então, Marieta revela a sua identidade: é a ex-esposa dele e precisa pedir-lhe perdão por todo o mal que lhe causou. Suplica a Pedro que convença Gilberto a recebê-la, ali mesmo, naquele bar. Pedro promete fazer isso, manda a mulher esperar e vai conversar com Gilberto.

Ainda não refeito da comoção que a espantosa revelação da mulher lhe causara, Pedro tem dificuldade para dizer claramente a Gilberto que Marieta, a sua ex-esposa e por cujo amor desgraçou toda a sua vida, está ali, do outro lado, e que deseja pedir-lhe perdão. Pedro é um bêbado romântico e amigo sincero de Gilberto e logo fantasiou na sua mente a reconciliação dos ex-cônjuges. Gilberto abandonando a garrafa e voltando a exercer a Medicina, enfim, voltando à vida. Por isso, tenta preparar o espírito do amigo para a tremenda entrevista, pois está convencido de que, ao reencontrar a amada, Gilberto abandonará a sarjeta física e moral em que caiu há muitos anos. Nervoso, com frases cautelosamente hipotéticas, não consegue se fazer entender completamente por Gilberto, mas arranca dele uma promessa: se um dia Marieta voltasse, ele a perdoaria.

Contente e esperançoso, Pedro corre para o outro do bar e traz Marieta pela mão. Ela se atira nos joelhos de Gilberto, sentado à mesa, e lhe suplica perdão. Gilberto, controlando a emoção e surpresa, olha para Marieta com infinita pena no olhar, acaricia os seus cabelos e diz: "Eu já te perdoei há muito tempo, Marieta". A seguir, levanta-se e caminha para a saída do bar. Pedro pergunta aflito: "Gilberto, meu amigo, não vais levar a tua mulher?", ao que Gilberto responde, triste, amargo e definitivo: "Eu disse que perdoava, mas não disse que me reconciliava". Marieta soluça mais forte, Pedro baixa a cabeça desolado, e Gilberto sai para a noite fria e escura, enquanto estronda no salão do cinema o vozeirão do tenor cantor/ator Vicente Celestino, cantando "O Ébrio".

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vicente Celestino, visite o blog Famosos Que Partiram.



O Ébrio

Nasci artista. Fui cantor.
Ainda pequeno levaram-me para uma escola de canto.
O meu nome, pouco a pouco, foi crescendo, crescendo, até chegar aos píncaros da glória.
Durante a minha trajetória artística tive vários amores.
Todas elas juravam-me amor eterno, mas acabavam fugindo com outros, deixando-me a saudade e a dor.
Uma noite, quando eu cantava a Tosca,
uma jovem da primeira fila atirou-me uma flor.
Essa jovem veio a ser mais tarde a minha legítima esposa.
Um dia, quando eu cantava A Força do Destino, ela fugiu com outro, deixando-me uma carta, e na carta um adeus.
Não pude mais cantar.
Mais tarde, lembrei-me que ela, contudo, me havia deixado um pedacinho de seu eu: a minha filha.
Uma pequenina boneca de carne que eu tinha o dever de educar.
Voltei novamente a cantar mas só por amor à minha filha.
Eduquei-a, fez-se moça, bonita...
E uma noite, quando eu cantava ainda mais uma vez A Força do Destino, Deus levou a minha filha para nunca mais voltar.
Daí pra cá eu fui caindo, caindo, passando dos teatros de alta categoria para os de mais baixa.
Até que acabei por levar uma vaia cantando em pleno picadeiro de um circo.
Nunca mais fui nada.
Nada, não!
Hoje, porque bebo a fim de esquecer a minha desventura, chamam-me ébrio.
Ébrio...

---

Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer,
aquela ingrata que eu amava e que me abandonou.
Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer,
não tenho lar e nem parentes, tudo terminou.
Só nas tabernas é que encontro meu abrigo,
cada colega de infortúnio é um grande amigo.
Que embora tenham como eu seus sofrimentos,
me aconselham e aliviam meus tormentos.
Já fui feliz e recebido com nobreza até,
nadava em ouro e tinha alcova de cetim.
E a cada passo um grande amigo que depunha fé,
e nos parentes... confiava, sim!
E hoje ao ver-me na miséria tudo vejo então,
o falso lar que amava e que a chorar deixei.
Cada parente, cada amigo, era um ladrão,
me abandonaram e roubaram o que amei.
Falsos amigos, eu vos peço, imploro a chorar,
quando eu morrer, à minha campa nenhuma inscrição.
Deixai que os vermes pouco a pouco venham terminar,
este ébrio triste e este triste coração.
Quero somente que na campa em que eu repousar,
os ébrios loucos como eu venham depositar.
Os seus segredos ao meu derradeiro abrigo,
e suas lágrimas de dor ao peito amigo.


Fonte: Recanto das Letras
Texto de Antônio Maria S Cabral

Jardim da Fantasia

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Título: Jardim da Fantasia
Compositor: Paulinho Pedra Azul
Ano: 1982

"Jardim da Fantasia"é a canção mais conhecida de Paulinho Pedra Azul, que, segundo o próprio Paulinho, é apelidada de "Bem-Te-Vi". Segundo o comentário popular, a música teria sido feita para uma noiva de Paulinho Pedra Azul que havia falecido, mas Paulinho nega estas informações. Em um trecho da entrevista concedida a Ricardo Puga, Paulinho Pedra Azul fala da música e sua verdadeira origem.

Ricardo Puga: Gostaria que você contasse um pouco da história da música "Jardim da Fantasia". Você faz ideia de toda a repercussão que ela já teve em todo o Brasil?
Paulinho Pedra Azul: As pessoas comentam que foi uma música que fiz para uma noiva que eu tinha e que morreu. Mas isso é mentira, não existe morte nessa música. Foi invenção de algumas pessoas que escutaram e, por conta própria, espalharam essa história, que eu não consigo desmentir até hoje. A pessoa para a qual eu fiz a música está viva, foi a primeira namorada que eu tive em Pedra Azul. Humildemente, tenho essa consciência de como a música alcançou o Brasil porque viajo muito e em todo lugar que passo, do nordeste até o sul do país, as pessoas comentam e cantam, em beira de praia, boteco, barzinho, teatro... Não diria que é a música mais importante do meu repertório, mas é a mais conhecida. "Jardim da Fantasia" é apelidada de "Bem-Te-Vi".



Jardim da Fantasia

Bem te vi...
Bem te vi...
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Sua boca pingava mel

Bem te quis...
Bem te quis...
E ainda quero muito mais
Maior que a imensidão da paz
E bem maior que o sol

Onde estás?
Voei por este céu azul
Andei estradas do além
Onde estarás meu bem?

Onde estás?
Nas nuvens ou na insensatez?
Me beije só mais uma vez
Depois volte pra lá.


Fonte: Página da Música

Gostava Tanto de Você

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Título: Gostava Tanto de Você
Compositor: Edson Trindade
Ano: Final da Década de 50

Ao contrário do que insinua o texto, pode não se tratar de mais uma história de um homem abandonado pela mulher que amava. Circula pela internet a informação de que o autor queria homenagear a filha, falecida. Todavia, não há informação concreta de que o compositor Edson Trindade, falecido em 05/02/1993, tivesse perdido alguma filha, ao contrário de Tim Maia, que perdeu uma filha quando esta tinha 15 anos, num acidente de carro.

Embora só viesse a ser gravada em 1973, no LP "Tim Maia", "Gostava Tanto de Você"é uma composição do final dos anos 50. A música fez muito sucesso já naquele ano. O compositor Edson Trindade era amigo de Tim Maia desde 1957 quando participaram juntos do conjunto de rock Os Sputnicks e, em 1958, do conjunto The Snakes, junto com Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Arlênio Gomes.

Logo, a história de que a letra da música homenageia a filha falecida do autor pode ser mais uma das muitas lendas que circulam na rede de computadores. A única hipótese possível é de que Edson Trindade, que figura como único autor, tenha composto letra e música especialmente para homenagear a filha do amigo cantor.

"Gostava Tanto de Você" fez parte da trilha sonora da novela "Viver a Vida" (2009), interpretada por Tânia Mara.



Gostava Tanto de Você

Não sei por que você se foi,
quantas saudades eu senti.
E de tristezas vou viver,
e aquele adeus não pude dar.

Você marcou a minha vida,
viveu morreu na minha historia.
Chego a ter medo do futuro,
e da solidão que em minha porta bate.

E eu, gostava tanto de você
Gostava tanto de você!

Eu corro e fujo destas sombras,
em sonhos vejo esse passado.
E na parede do meu quarto,
ainda esta o seu retrato.

Não quero ver para não lembrar,
pensei até em me mudar.
Lugar qualquer que não exista,
o pensamento em você.

E eu, gostava tanto de você
Gostava tanto de você!


Fonte: Partida e Chegada

Revolta

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Título: Revolta
Compositor: Raul Sampaio e Nelson Gonçalves
Ano: 1959

Revolta é um samba-canção composto por Raul SampaioNelson Gonçalves, e gravado por Nelson Gonçalves em 1959.

Palavras de Raul Sampaio:

"Existe uma poetiza brasileira Gilka Machado mãe da bailarina Eros Volúsia de quem aproveitei o verso 'os beijos que roubei da tua boca'. Fiz o samba e dei parceria ao Nelson Gonçalves que a gravou pela primeira vez."

Raul Sampaio Cocco

Raul Sampaio Cocco nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, em 06/07/1928), mais conhecido por Raul Sampaio é um cantor e compositor brasileiro.

Raul Sampaio foi aluno dos colégios Liceu Muniz Freire, Bernardino Monteiro e Escola Técnica de Comércio, todos em Cachoeiro do Itapemerim.

Iniciou sua vida artística na ZYL-9, Rádio Cachoeiro, como vocalista da dupla Dois Valetes (Raul Sampaio e Loé Moulin). Mais tarde, com a entrada de Yolanda (prima de Loé Moulin), o conjunto passou a trio, Dois Valetes e Uma Dama, formação inspirada no conjunto carioca Trio de Ouro. A cantora Noemi Cavalcante (Noemi Brusti) chegou a substituir Yolanda na formação do trio, mas por breve tempo. Com a mudança da cantora para o Rio de Janeiro, o trio se desfez.

Após o serviço militar, em 1949, aos 20 anos, Raul Sampaio transferiu-se também para o Rio de Janeiro e foi admitido na loja de instrumentos musicais Guitarra de Prata, onde permaneceu até 1952.

Por esta ocasião ingressou como vocalista na terceira formação do próprio Trio de Ouro, ao lado de Herivelto Martins e Lourdinha Bittencourt (esposa de Nelson Gonçalves). Em 1979 o trio foi dissolvido com o falecimento da cantora. Na década de 80 Raul Sampaio fez alguns shows com Herivelto Martins e Shirley Dom, uma quarta formação do Trio de Ouro.

Como compositor, sua primeira música gravada data de 1950, "Aladim", em parceria com Herivelto Martins e gravada por Isaura Garcia. Entretanto seu primeiro grande sucesso só deu-se em 1955, "Guarda- Chuva de Pobre" (Raul Sampaio e Chico Anysio), marchinha gravada pelo Vocalistas Tropicais.

Dentre seus parceiros destacamos Benil SantosHerivelto Martins, Rubens Silva, Ivo Santos, René Bittencourt, Marino Pinto, Carlos NobreChico Anysio, Haroldo Lobo, dentre tantos outros.

Seus intérpretes foram Três Marias, Trio de Ouro, Gilberto Milfont, Alcides Gerardi, Francisco Carlos, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Anísio Silva, Nelson Gonçalves, Miltinho, Carlos José, dentre tantos outros, dos quais inclui-se o próprio Raul Sampaio com dezenas de gravações.

Pelas composições "Rio Quatrocentão" e "Rio, Eterna Capital", ambas de Raul Sampaio e Benil Santos, gravadas originalmente em 1964 pela Orquestra Popular da Guanabara, recebeu o título de "Cidadão do Estado da Guanabara". Também recebeu em 1969 o título "Cachoeirense Ausente", pela projeção da cidade através de sua canção "Meu pequeno Cachoeiro", regravada por seu conterrâneo Roberto Carlos em 1969, tornando a cidade mais conhecida. "Meu Pequeno Cachoeiro" é o Hino Oficial de Cachoeiro de Itapemirim, instituído por Lei Municipal nº 1.072, de 28 de julho de 1966, no governo do prefeito Abel Santana.

Se Roberto Carlos, também compositor, é o filho mais ilustre, o maior compositor de Cachoeiro do Itapemerim é, sem dúvida, Raul Sampaio Cocco. Violonista, cantor e compositor. Discreto, não gosta de aparecer, mas é difícil uma pessoa com o seu reconhecido talento não ficar em evidência.

Nelson Gonçalves

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Nelson Gonçalves, visite o blog Famosos Que Partiram.



Revolta

Hoje tão longe dos teus lábios sedutores 
Sem o carinho dos teus beijos, meu amor 
Não tenho horas de sossêgo em minha vida 
Sou mais um barco que não tem navegador 

Vivo perdido no passado dos teus beijos 
Sinto o fantasma dos teus lábios junto aos meus 
Beijo outras bocas pra fugir da tua boca 
E sinto ainda o sabor dos beijos teus 

O desespero me tirou a consciência 
E no delírio que me envolve esta paixão 
Eu vou tramando no meu cérebro-nervoso 
Uma maneira de magoar teu coração 

É meu consolo acreditar que estás sofrendo 
Em tua vida de prazeres e de louca 
Beijando bocas, como eu, mas com saudades 
Dos beijos que eu roubei da tua boca




Fonte: Raul Sampaio, Marco Costa, Portal São Francisco e Wikipédia
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