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Channel: Eternas Músicas
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Olhos Coloridos

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Título: Olhos Coloridos
Compositor: Macau
Ano: Início Década de 70

"Olhos Coloridos" nasceu de uma manifestação que aconteceu comigo numa situação social. Um amigo meu me convidou para assistir uma exposição escolar no Estádio de Remo no início dos anos 70. E aí eu achei legal... as crianças brincando, as professoras, e tudo... e fiquei apreciando!

Só que naquela época, nos inícios dos anos 70, a gente era muito "underground". A maneira de vestir, o cabelo... era muito mais normal: Acordava e mexia com o cabelo, ficava enrolando com o dedo assim e tal... e ele ia criando sua forma bem caverna. E as roupas eram rasgadas aqui... sandália... do jeito que eu queria vestir. Eu nem me olhava no espelho. Lavava o rosto, botava "o que tava", e tudo bem né!

E eu tava com meu colega e daqui a pouco me apareceu um soldado... assim do nada, de repente:


- Você quer me acompanhar?

Aí eu olhei assim...

- Como assim? Acompanhar pra onde? 
- Quer me acompanhar?
- Não, mas o Srº tem que me explicar porque eu tenho que lhe acompanhar!
- Olha, eu não vou te responder não bicho, você tem que me acompanhar se não eu vou te levar a força!
- Então eu não vou não. Se você não me explicar... eu não estou fazendo nada, eu estou com meu colega aqui, a gente veio ver uma exposição, estou admirando, vendo as crianças, as professoras! Qual é o motivo?

E ele me levou à força. Rapidamente me empurrou e me largou na área militar... e tinha um tenente também que disse:

- Olha eu estava te observando daqui... você é muito folgado!
- Eu não sou folgado não. Eu estou falando o que é do meu direito:  Porque eu estou aqui? O que eu cometi? Qual o crime que eu cometi para estar aqui?
- Você não tem que responder nada, tá entendendo? Se ele teve que pegar você, você tinha que vir!
- Não, não é assim não...?
- Você fala demais cara... com esse cabelo enrolado, olha sua roupa como é que tá! Olha a sandália e tudo!
- O que é que tem o meu cabelo? O que é que tem a minha roupa? Eu não estou andando nu! Essa é a minha roupa que estou usando... tranquilo como todo mundo moderno usa. Qual é o problema?
- O problema é que você é um crioulo muito folgado!
- Olha... crioulo eu não sou não, eu sou negro. Mas o sangue que corre na sua veia, corre igual na minha, é vermelho. Então você é sarara crioulo!

Aí ele ficou furioso e me agrediu com um tapa e disse:

- Leva ele!

Aí um outro soldado falou:

- Leva ele pra onde?
- Pra onde vocês quiserem!

E aquilo me assustou, me deixou assim meio apavorado. E eu pensei: vão me matar! E me colocaram numa prisão provisória. Era como se fosse um presídio porque não tinha vaga... me colocaram ali.  É uma emoção tão grande falando assim, que é realmente doloroso isso, você passar por uma situação dessa!

Quando de repente escutei:

- Macau!

Ahhh meu Deus do céu, pintou uma salvação! (Pensei)

- Sou eu, vamos embora Macau, pra casa!
- Não, eu não vou pra casa não!

- Você vai pra onde?
- Ah não sei, acho que eu vou até a praia... não sei... deixa eu ficar sozinho por favor!

Cheguei na beira do mar, sentei na areia e fiquei olhando para o mar e comecei a chorar. Mentalmente começou a vir a letra, ali na hora:


"Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir..."

E aí ela veio toda assim, inteira... Eu levantei rapidamente e saí correndo para que não escapasse aquilo. Cheguei em casa peguei o violão rapidinho e veio os acordes, a melodia e a canção!

Foi uma coisa de Deus, foi uma coisa de luz, espiritual, que iluminou aquela minha revolta, anestesiou a minha raiva, a minha rebeldia e me deu alegria por esta poesia tão real.


"E vagabundo pegou ele e foi preconceituoso mesmo, foi racista. De repente esses caras são tão imbecis que não perceberam o presente de certa forma que deu para uma pessoa que pensa, para um ser que respeita, para um ser que vive a vida sem frustrações , sem recalques, sem revoltas..."
(Sandra de Sá)

Essa música eu deixei lá no arquivo, pra mim. Ela foi feita pra mim, pelo meu manifesto, apenas pra mim. Eu achava que ninguém iria prestar atenção e ia dizer: "Essa música é muito ruim, essa música é muito política, essa música fala muito de preconceito... não sei o que". Mas era um preconceito, então ficou só para mim.

Eu estava numa situação realmente muito ruim, sem trabalho, sem emprego, com a mulher grávida. Então o meu sonho só restava da música. E todo mundo, quando eu entrava nas editoras, dizia: "Essa música aí tem a ver com uma cantora que está gravando um disco. Ela é Sandra Sá".

O Durval Ferreira era o diretor artístico da RGE quando ouviu "Olhos Coloridos", pegou o telefone e disse:

- Sandra vem pra cá, achei a música!

Pô, a gente ouviu e ficou maluco com "Olhos Coloridos". (Sandra de Sá)

Tive ainda a sorte maior porque o Durval Ferreira me convidou para ir ao estúdio e eu levei o violão. Quando ele me ouviu tocando ele sentiu alguma coisa diferente no meu ritmo e me botou lá no estúdio. Eu fiquei meio tímido e quando eu comecei a tocar eles ficaram assim também, mas... "que ritmo é esse?". Aí olharam para o Durval Ferreira, que estava no aquário:

- Ohhh Durval, ele está tocando diferente! Que negócio é esse?
- Não, vai na dele, é esse o ritmo aí!


"O Durval Ferreira sacou que o grande lance, o lance da música seria o Macau fazer. O Macau mandar a levada, pra mostrar: Olha, é isso! Então o que é que faz? Carrega o cara pro estúdio e 'bora' fazer!"
(Sandra de Sá)

"A gravação é maravilhosa, esse arranjo do Serginho Trombone é excepcional porque a música é muito simples, são 3 acordes, mas vai entrando os sopros, então aquilo vai criando uma atmosfera perfeita com a letra. A letra fala da negritude, da afirmação da negritude, então nada melhor do que todos os metais do sopro para reafirmar isso."

(Rodrigo Faour – Jornalista)

"Da mesma forma que o lance do violão do Macau, nas devidas proporções, essa importância desse arranjo de metais que o Serginho Trombone costurou a música toda. Quer dizer:  todo mundo se entendeu perfeitamente. "Olhos Coloridos" é isso cara, é sinal de harmonia."
(Sandra de Sá)


"Esse vinil aqui (mostrando um LP da Sandra de Sá), foi que realmente mostrou todo poder da música negra através da Sandra. Eu fico muito contente e feliz pois toda vez que eu vejo este disco sei que eu faço parte deste caminho."
(Macau)

"Olhos Coloridos se impôs como música de trabalho. Estourou geral... não tinha zona norte, oeste, leste, sul... na casa de todo mundo. Olhos Coloridos é geral!"
(Sandra de Sá)

"Toda hora que eu passava na rua ouvia tocando. Eu estava em meu barraco na Rocinha e ouvindo no barraco do vizinho "Olhos Coloridos"... E falava comigo mesmo: Está tocando a minha música!"
(Macau)



Olhos Coloridos

Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir...

Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Eles estão baratinado
Também querem enrolar...

Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso...

A verdade é que você
(Todo brasileiro tem!)
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará, sarará
Sarará, sarará
Sarará crioulo...

Sarará crioulo
Sarará crioulo...(2x)

Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Que eu tô sempre na minha
Não! Não!
Não posso mais fugir
Não posso mais!
Não posso mais!
Não posso mais!
Não posso mais!

Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Eles estão baratinados
Também querem enrolar...

Cê ri! Cê ri! Cê ri!
Cê ri! Cê ri!
Cê ri da minha roupa
Cê ri do meu cabelo
Cê ri da minha pele
Cê ri do meu sorriso...

Mas verdade é que você
(Todo brasileiro tem!)
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará, sarará
Sarará, sarará
Sarará crioulo...

Sarará crioulo
Sarará crioulo...(3x)


Fonte: Por Trás Da Canção

Sozinho

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Título: Sozinho
Compositor: Peninha
Ano: 1995

A música "Sozinho", escrita pelo compositor Peninha, nasceu com alma feminina, com o título de "Sozinha" e gravada pela primeira vez pela cantora Sandra de Sá.

Caetano Veloso regravou a canção em 1998, adaptando o título para o gênero masculino. A versão explodiu nas rádios brasileiras, com o álbum "Prenda Minha" atingindo a marca de 1 milhão de cópias vendidas.

Peninha escreveu a canção inspirado na filha, Clariana Alves, que tinha 14 anos e sofria por um namorado que a deixava muito só. Um dia, sem querer, ele escutou uma conversa da filha com o namorado ao telefone e, com o violão, fez a música, baseado na solidão que ela estava sentindo.

Clariana Alves só soube que foi a musa inspiradora da canção anos depois, quando Peninha passou a contar a história da canção em entrevistas, por causa da gravação de Caetano Veloso. Antes disso, o pai sempre dizia que a música era "a cara dela", o que a deixava brava, por achar que ele estava tentando lhe dizer que seu relacionamento era ruim. Depois, ela percebeu que ele passou na letra uma preocupação com ela.

O de Clariana, entre idas e vindas, durou mais de 5 anos. Clariana conta que sempre que o casal brigava, o namorado colocava a música e lhe dizia: "Pense bem". Em uma das vezes que terminaram, ele foi até a casa dela colocou o CD do Caetano Veloso no modo repeat. Ela ouviu a música a noite inteira e acabou voltando.

A música marcou tanto o casal, que, mesmo depois de separados, o ex-namorado ligava para Clariana toda vez que ouvia a música.

"Nossos amigos chamam ele de 'Sozinho'. Ele sempre fala que, se a gente não casar, eu vou estar velhinha e me lembrar dele toda vez que ouvir essa música. Pior é que vou. Nem que eu queira esquecer, vou conseguir."
(Clariana Alves)

"Esta música foi baseada numa ligação, numa briga minha com um namoradinho de infância. E pelo que eu me lembro, eu estava na casa do meu pai e ele ouviu na extensão."
(Clariana Alves)

"Ela estava falando ao telefone mas não estava legal... tinha alguma coisa rolando ali."
(Peninha)

"Eu acho que o meu pai pescou esse desgaste no relacionamento de uma menina de 14, 15 anos, e fez esta música."
(Clariana Alves)

"Esta música foi baseada num sentimento de solidão da minha filha Clariana. Eu não lembro exatamente em que ano eu fiz esta música. Eu lembro que foi no bairro da Aclimação, só com um violão... aliás, foi com esse violão aqui que eu fiz 'Sozinho' (mostrando o violão). Como eu fiz esta música baseada no sentimento dela, eu achei que tinha feito uma música teen."
(Peninha)

"Eu conheci o Peninha quando ele mandou há vários anos atrás uma música chamada 'Alma Gêmea' pro Fábio Jr. No disco seguinte que eu fiz do Fábio, eu imediatamente liguei para o Peninha e pedi pra ele, lógico: 'Peninha me manda uma música, eu preciso de uma música pro Fábio, pelo amor de Deus!'... e o Peninha me mandou 'Sozinho'."
(Guto Graça Melo – Produtor Musical)

"O Guto Graça Melo é um anjo na minha vida. E eu nem gostava muito dessa onda de mostrar música assim. Eu mandava a música porque aí se o cara não gosta não fica chato do cara falar, ficar olhando pra sua cara... 'Pô achei mais ou menos...'"
(Peninha)

"Não sei se o Fábio estava num mal dia... eu não sei o que aconteceu, mas ele não se ligou na música.
Fábio Jr: Não... não... não...  isso não... não é isso não!
Guto: Essa música é um hit Fábio, se você não quer gravar, não tem o menor problema!
O disco seguinte que eu produzi  foi da Sandra de Sá."
(Guto Graça Melo - Produtor Musical)

"O Guto Graça Melo me chegou com uma fita do Peninha tocando uma música no violão e fez a música 'Sozinha'. Inclusive eu me debato muito quando falam:  Ah vai cantar 'Sozinho'?. E eu respondo: 'Não, eu vou cantar ‘Sozinha’... o Tim e o Caetano cantam ‘Sozinho’, inclusive a real da música é essa!”
(Sandra de Sá)

"Eu estava sem grana, sem nada, ninguém olhava pra minha cara e tudo quanto é porta fechada. Nessa fase, que foi uma fase muito terrível porque eu tinha minhas obrigações, tinha meus filhos estudando... eu recomecei a recuperar o compositor que eu acho que tinha esquecido... sei lá onde é que eu deixei o cara!... E nessa onda pintou ‘Sozinho’.

A música ‘Sozinho’ mudou a minha vida pra sempre. Eu ficava pensando: Pô, tem alguma coisa que eu não sei mas que dá certo aí. Eu gostaria de ter a receita para que todas as músicas que eu fizesse, fizessem sucesso."
(Peninha)

"E essa música fez com que a Sandra de Sá que estava com a vendagem naquela ocasião extremamente baixa, passasse a vender... se não me engano a venda oficial na época foi de 800 mil discos."
(Guto Graça Melo – Produtor Musical)

"'Sozinha' trouxe pra mim muita coisa bacana. Primeiro que explodiu, vendeu muito CD, eu fiz muitos shows. Mas sinceramente, sem demagogia nenhuma, o presente maior que ‘Sozinha’ me deu foi no dia 24 de dezembro daquele ano... tô dirigindo na Avenida Brasil, atendo o telefone, era o Peninha me agradecendo pelo Natal que ele estava tendo. Então... papo de alfândega: Nada a declarar... mas foi legal ele ter me ligado no dia 24 e... (emocionada) foi legal!"
(Sandra de Sá - Cantora)

"Certamente foi um Natal diferente... legal ela lembrar disso, eu lembro também, faz muito tempo. Fiquei feliz agora em saber que ela lembrou!
Eu estava feliz já, estava bom. Mas aí começaram a acontecer mais coisas com a música, entendeu? E a música começou a andar!"
(Peninha)

"Passou-se um tempo, eu recebo um telefonema, a música já estourada, do Tim Maia:
- Gutão, é o Tim.
- Fala rapaz!
- Guto essa música da Sandra é muito legal, eu vou gravar.
- Pô, que barato! Fala com o Peninha, liga pra ele, avisa a ele!"
(Guto Graça Melo – Produtor Musical)

"Eu cheguei em casa e recebi o recado: 

- O Tim Maia ligou pra você!
Eu falei: Pô é sacanagem de alguém!
Aí um dia eu atendi e era o Tim Maia bicho. Ele acabou gravando a música e falou:
- Eu gravei a música no tom da Sandra.

Mas aí a música continuou andando, crescendo... tinha vida própria a música! O que eu fazia? Só assistia o filme."
(Peninha)

"Aquele lance que a gente tem no Brasil né: Dependendo de quem grava, a música é uma parada. Então eu gravei ‘Sozinha’ e explodiu. Quem não cantava ‘Sozinha’ né?
Aí o Caetano gravou 'Sozinho'... aí teve um dia que eu estava cantando 'Sozinha' uma pessoa falou:
- Ué você também gravou essa música?
Eu falei: Ahhhh vá sacanear outro porra! (Risos)"
(Sandra de Sá)

"Você vai comparar Sandra com Tim Maia, com Caetano Veloso... é uma coisa meio... A Sandra é a Sandra, o Caetano é o Caetano e o Tim é o Tim, são três coisas muito legais. Se você pensar a grosso modo, a Sandra parece um pouco com o Tim. Tanto é que a cantora da vida do Tim é a Sandra de Sá, ele falava isso... pra mim ele falou isso!
Então eles se parecem um pouco, mas não dá pra comparar uma coisa com outra assim.  Eu fiquei muito feliz quando a Sandra gravou esta música e fez sucesso com essa música. Fiquei muito feliz quando o Tim Maia gravou esta música porque eu queria muito gravar com Tim Maia. E quando o Caetano gravou esta música eu desmaiei umas cinco vezes porque foi uma coisa assim muito grande!
O Caetano fez a leitura da música uma vez só, não tem uma repetição da música... e foi o suficiente assim!"
(Peninha)

"Com esta gravação Caetano alcançou a marca de 1 milhão de discos, coisa que eu acho que ele nunca tinha tido antes. E dali pra frente ele, além do cantor cult, do cantor maravilhoso, genial que sempre foi, virou cantor popular mesmo, em termos de venda!"
(Guto Graça Melo – Produtor Musical)

"O compositor faz uma música, ele quer que a música seja bem gravada, que faça sucesso. Esse realismo, quando ele vai... percebe que as pessoas realmente gostam daquela música, e aquela música se torna importante na vida das pessoas.
Com ‘Sozinho’ eu ganhei um prêmio máster... aí quando eu cheguei lá é que eu vi a importância do ‘trem’!
Aqui é o disco de diamante do Caetano. Na verdade houve uma festa e ele recebeu o disco de diamante. Aí ele teve a gentileza de fazer dois. Ele recebeu um e aí ele me deram um que eu guardo aqui com muito carinho.
Ele está falando assim ó: "Valeu Peninha!" (Referindo-se a foto do Caetano na capa do disco)
Sozinho quando entrou na novela 'Suave Veneno', já era um sucesso e aí virou mais sucesso ainda. Talvez seja por isso que tenha vendido tanto. Acho que essa novela teve a ver com isso!"
(Peninha)

"A novela quer uma música que contenha a emoção da personagem. Quando essa emoção da personagem bate com a letra dessa música e com essa gravação... quando esse fenômeno acontece, isso potencializa de uma forma... aí realmente você tem um grande sucesso e o grande fenômeno."
(Guto Graça Melo – Produtor Musical)

"Eu acho que 'Sozinha' se comunica com o geral porque é real, é de verdade. Eu acho que tudo que é real, tudo que é de verdade... pode ser a parada mais mirabolante do mundo, mas se for de verdade, se for real... muita, mais muita gente vai se identificar, vai gostar e vai fazer bem!"
(Sandra de Sá)

"Com o tempo eu descobri que ela não é uma música teen como eu imaginei. Ela é uma música que fala que se você não cuidar do que você tem, você dança... é isso que a música fala... você não tá cuidando bem de mim pô, eu tô dormindo mal... eu tô juntando o passado, presente e futuro e tá ruim aqui... não tô gostando disso... daqui a pouco vai chegar alguém... e eu vô embora!"
(Peninha)

"Quando a gente gosta é claro que a gente cuida é a maior verdade. E foi isso que me fez enxergar que o relacionamento não era o que eu esperava, e realmente botar um fim nisso."
(Clariana Alves)

"Eu acho que diz muito... quando você diz: 'Porque você me deixa tão solta? Porque você não cola em mim? Tô me sentindo muito sozinha... e se de repente rolar uma outra pessoa?'. Isso é uma história: Princípio, meio e vida! (risos)
Hoje em dia nos shows ela está altamente funk’n roll, rock’n soul (risos), tá muito assim. E o Tim gravou numa outra parada, foi um lance mais baladão... o Caetano com aquela doçura dele, fora as gravações que a gente não conhece!"
(Sandra de Sá)

"Já ouvi o Belo cantando essa música, já ouvi o Daniel, Sérgio reis, o Fábio Jr, Mastruz Com Leite... tem muita coisa de 'Sozinho'. A Nely Furtado não gravou a música. Eu até gostaria pois aí seriam mais 10 milhões de cópias computadas. Mas na verdade ela veio ao Brasil fazer uns shows aqui e a música brasileira que ela escolheu para cantar foi 'Sozinho'".
(Peninha)

"A letra desta música é fácil de dizer entendeu? Ela é fácil de ser sincera. Qualquer cantor que cante vai ser sincero com aquele jeitinho de cantar."
(Guto Graça Melo – Produtor Musical)

"É um presente que eu tenho até hoje, porque até hoje quando eu canto 'Sozinha' no show é... fogo. Todo mundo gosta, todo mundo canta!"
(Sandra de Sá)

"Quando eu canto essa música assim... por aí... impressionante, ela está aí. Eu acho que eu vou morrer e ela vai ficar, o que é legal!"
(Peninha)

"'Sozinha' tá muito bem acompanhada! (Risos)"
(Sandra de Sá)


Sozinho

Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois

Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém

Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora

Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora

Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?


Fonte: Por Trás da Canção

Cantores do Rádio

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Título: Cantores do Rádio
Compositor: Alberto Ribeiro, Braguinha e Lamartine Babo
Ano: 1936

A música "Cantores do Rádio" foi composta por Alberto Ribeiro, João de Barro, o Braguinha, e Lamartine Babo.

"Segundo o pesquisador Suetônio Soares Valença, a marcha 'Cantores do Rádio' foi composta dentro de um ônibus, depois de uma noitada em que os três haviam perdido todo o dinheiro apostado no Cassino da Urca. Entusiasmado com a canção concebida no banco de trás do lotação, o trocador teria dispensado-os dos vinténs da passagem."

"Cantores do Rádio" representou a primeira e única vez na qual as irmãs Carmen Miranda e Aurora Miranda apareceram juntas em um filme. Elas interpretaram a canção, enorme sucesso gravado em 1936, no filme "Alô, Alô, Carnaval".

Além de estar presente na trilha sonora do filme "Alô, Alô, Carnaval", esteve também na trilha do filme "Quando o Carnaval Chegar", interpretada por Chico Buarque, Maria Bethânia e Nara Leão (1972).



Cantores do Rádio

Nós somos as cantoras do rádio
Levamos a vida a cantar
De noite emabalamos teu sono
De manhã nós vamos te acordar

Nós somos as cantoras do rádio
Nossas canções, cruzando um espaço azul,
Vão reunindo
Num grande abraço
Corações de norte a sul

Canto pelos espaços afora
Vou semeando cantigas
Dando alegria a quem chora

Canto pois sei
Que a minha canção
Faz estancar a tristeza que mora
No teu coração

Canto pra te ver mais contente
Pois a ventura dos outros
É a alegria da gente

Canto e sou feliz só assim
E agora peço que cantem
Um pouquinho pra mim


Faroeste Caboclo

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Título: Faroeste Caboclo
Compositor: Renato Russo
Ano: 1979

"Faroeste Caboclo"é uma canção do grupo brasileiro Legião Urbana, composta pelo compositor e líder da banda, Renato Russo. Composta em 1979, ela só foi lançada oficialmente em 1987, no álbum "Que País é Este 1978/1987" e já era velha conhecida dos amigos de Renato Russo. A música foi escrita quando o jovem Renato Russo se apresentava por Brasília como "Trovador Solitário": só ele, um banquinho e um violão.

O álbum "Que País é Este 1978/1987" reunia sete canções antigas, da época de "Trovador Solitário" e de "Aborto Elétrico", e apenas duas inéditas, "Angra dos Reis" e "Mais do Mesmo".

Ganhou bastante atenção quando do lançamento do álbum e, por isso, mereceu ser lançada como single promocional, o que só aconteceu em 1988 devido à necessidade de editar a canção para a aprovação pela censura federal.

A canção foi censurada para radiofusão por conter "referências a drogas e linguagem grosseira e vulgar", conta o jornalista Carlos Marcelo na biografia "Renato Russo - O Filho da Revolução", cuja nova edição sairá com ensaio sobre "Faroeste Caboclo".

As rádios começaram, então, a tocar uma versão com cortes em partes como "comia todas as menininhas da cidade", "que fica atrás da mesa com o cu na mão" e "olha pra cá, filha da puta sem vergonha".

Renato Russo afirmou na época que a estrutura de "Faroeste Caboclo" foi inspirada em "Hurricane", sucesso épico de Bob Dylan sobre um boxeador condenado à prisão, e em "Domingo no Parque", de Gilberto Gil.

Em 2013, a canção ganhou uma adaptação cinematográfica, dirigida por René Sampaio, com roteiro de Victor Atherino e Marcos Bernstein a partir da letra original, e tendo nos papéis principais os atores Fabrício Boliveira (João de Santo Cristo), Ísis Valverde (Maria Lúcia), Felipe Abib (Jeremias) e César Troncoso (Pablo).

Histórico e Estrutura

"Faroeste Caboclo" narra a história de João de Santo Cristo, um traficante nascido no Nordeste do Brasil (supostamente no interior da Bahia) que se muda para Brasília e se redime ao apaixonar-se por uma mulher chamada Maria Lúcia, sendo posteriormente assassinado por Jeremias, um traficante rival.

A canção tem 168 versos. Segundo o jornalista e historiador Marcelo Fróes, no manuscrito original com a letra de "Faroeste Caboclo" havia uma anotação de Renato Russo dizendo que imaginava a música como um baião cantado por Luiz Gonzaga. Apesar da duração incomum para uma canção popular, 9'03", há duas outras composições de Renato Russo ainda mais extensas: "Metal Contra as Nuvens" (11'22") e "Clarisse" (10'32").

Lançamento

A canção foi censurada, junto com "Conexão Amazônica", do mesmo disco, mas por razão diferente: a presença de palavrões, enquanto "Conexão Amazônica" foi censurada por causa da temática, sobre o tráfico de drogas. Porém, em "Faroeste Caboclo", foi feita uma edição onde se colocou um sinal sonoro sobre os palavrões. Com isso, a música foi liberada para radiodifusão.

Frases Sobre a Letra

"Eu acho legal que as pessoas gostem da história. Um motorista de táxi, outro dia, me disse que tinha um amigo que comprou a fita porque era, exatamente, a história do irmão dele. O cara tinha saído de Mato Grosso e ido a Brasília, e morreu num tiroteio no Nordeste. E a canção é totalmente fictícia."
(Renato Russo, 1988)

"Acho que Faroeste Caboclo é uma mistura de 'Domingo no Parque' de Gilberto Gil, e coisas do Raul Seixas com a tradição oral do povo brasileiro. Brasileiro adora contar história. E eu também queria imitar o Bob Dylan. Eu queria fazer a minha 'Hurricane'."
(Renato Russo, 1990)

"Lembro quando ele me mostrou a música, em umas férias na Ilha do Governador, RJ. Ele tinha um caderno cheio de letras ainda não gravadas, que depois foram surgir com a Legião."
(Helena Lemos, irmã mais nova de Fê e Flávio Lemos, do Capital Inicial)

Philippe Seabra, vocalista da banda Plebe Rude, também presenciou os primeiros dias daquela que se tornaria uma das músicas mais famosas do rock brasileiro.

"Renato tocou 'Faroeste Caboclo' para mim debaixo de um bloco em Brasília", lembra. "A música era muito forte."

"A música é a história do Brasil, é um hollywoodão, cheio de clichês do país. Quando ouvi, pensei: 'É um filme'. Tanto é que acabou virando isso mesmo", disse Marcelo Bonfá, baterista da banda.



Faroeste Caboclo

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar

Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal

"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"

O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão

E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão"

"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão"

Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"

E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...


Quem Sabe?

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Título: Quem Sabe?
Compositor: Carlos Gomes
Letra: Bittencourt Sampaio
Ano: 1859

"Quem Sabe?" é uma das maiores pérolas do cancioneiro popular. Foi composta pelo maestro Carlos Gomes. Com letra do jornalista Bittencourt Sampaio, é uma de suas mais famosas composições até hoje, gravada com sucesso por Francisco Petrônio e Dilermando Reis, tendo sido incluída na trilha sonora da telenovela "Senhora", produzida pela TV Globo em 1975 e inspirada no romance homônimo de José de Alencar.

"Quem Sabe?" embalou centenas e centenas de saraus pelo Brasil. A melodia é de uma suavidade impressionante. A letra é delicada. Tudo nela é sonoro.

Em 1859, o Brasil ainda era um Império, regido por Dom Pedro II, que tinha 39 anos. Nesse ano, Antônio Carlos Gomes compôs "Quem Sabe?", uma das primeiras e mais famosas modinhas. Carlos Gomes tinha somente 23 anos quando compôs "Quem Sabe?". Era órfão de mãe, que havia sido assassinada, e criado pelo pai, com muitas dificuldades.

A época de Carlos Gomes foi onde o Nacionalismo e o Romantismo davam o tom das obras literárias e musicais. Os ídolos de Carlos Gomes foram Giuseppe Verdi e Almeida Garrett. O Romantismo tinha por características a melancolia e o pessimismo, o chamado "mal-do-século".

Na música "Quem Sabe?", há um verso, "dá a saudade agro tormento", que pode muito bem representar o pessimismo exacerbado que tomava conta das pessoas cultas, àquela época.

Para conhecer mais a obra de Carlos GomesFrancisco PetrônioDilermando ReisJosé de Alencar e Dom Pedro II citados neste texto, acesse o blog Famosos Que Partiram.



Quem Sabe?

Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá o teu pensamento
Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá o teu pensamento

Quisera saber agora
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste
Se esqueceste o juramento

Quem sabe se és constante?
Se ainda é meu, teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade, da saudade agro tormento

Tão longe, de mim distante
Onde irá, onde irá o teu pensamento
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste o juramento

Quem sabe se és constante?
Se ainda é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade agro tormento

Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto
Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto

Suspiros, angustias, dores
Suspiros, angustias, dores
São as vozes, são as vozes
São as vozes do meu canto

Quem sabe? Pomba inocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei já n'este canto

Vivendo de ti ausente
Ai meu Deus, ai meu Deus que amargo pranto
Suspiros, angustias, dores
São as vozes, São as vozes do meu canto

Quem sabe? Pomba inocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei já n'este canto

Eu Só Quero Um Xodó

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Título: Eu Só Quero Um Xodó
Compositor: Anastácia e Dominguinhos
Ano: 1968

O clássico "Eu Só Quero um Xodó", de Dominguinhos, grande cantor, compositor e sanfoneiro de Garanhuns, Pernambuco, em parceria com a também pernambucana de Recife, Anastácia, sua companheira a época, foi gravado pela primeira vez em 1974. A música já soma mais de 250 regravações em várias línguas, como o inglês, holandês e italiano.

A letra curta e o ritmo contagiante de "Eu Só Quero um Xodó" já foi gravado por vários cantores de estilos diferentes como: Gilberto Gil, Elba Ramalho, Paula Toller, Paul Mauriat, Dóris Monteiro, Daniela Mercury, José Augusto, Karnak, Rita Lee, Zimbo Trio, dentre outros. Além disso, nas suas centenas de gravações, "Eu Só Quero um Xodó" teve várias roupagens, foi gravada como Arrasta-pé, Xote, Reggae e Balada.

Eu comecei compor sozinha desde os 14 anos e nos anos 60 conheci Dominguinhos e nós começamos a fazer música juntos. Eu estava fazendo um programa de televisão em São Paulo e vi um moreno muito simpático. Eu bati o olho e falei: "Eu gostei do moreno!"... e ele era o Dominguinhos. E esse momento passou... três meses depois o Luiz Gonzaga me ligou e disse:
- Olha, eu queria saber se você queria viajar comigo para o Nordeste para abrir o meu show.
Eu falei, "Tô dentro, vamos embora!"
Aí ele falou que iria levar um sanfoneiro para me acompanhar que chamava-se Dominguinhos e que estava precisando de uma força.
Eu falei:
- E é essa força que também eu preciso! (risos)
E na viagem, quando amanhecia, às 09:00 hs, logo após o café, ele começava a tocar. Eu acordava com o som da sanfona. Aí eu fiz uma letra... ele estava tocando algo e eu fiz uma letra que era uma declaração de amor. Eu bati na porta do quarto dele e falei:
- Dominguinhos, você estava tocando uma melodia aí e eu fiz duas letrinhas!
(Anastácia - Cantora e compositora)

Quem me despertou como compositor foi a Anastácia que em 1968 já fez a primeira melodia junto comigo em Aracaju.
(Dominguinhos - Cantor e compositor)

Aí depois disso, evidentemente, nossa relação começou, e era um motivo a mais para a fazermos música. Nós dormíamos juntos, acordávamos juntos, convivíamos... aí qualquer coisinha que ele pegava na sanfona eu já estava incentivada a fazer a letra.
Um dia eu estava preparando um peixinho para o almoço e ele estava tocando sanfona na sala. De repente ele começou a tocar uma melodia e aquela melodia me chegou aos ouvidos muito simpática.
(Anastácia - Cantora e compositora)

Ela pegou um caderninho e já foi fazendo a letra, na mesma hora, e era um "arrasta-pé".
(Dominguinhos - Cantor e compositor)

E a letra encaixou certinha!
(Anastácia - Cantora e compositora)

Eu tenho a impressão que "Eu Só Quero Um Xodó" chegou num momento muito bom. Um momento para mim especial porque ativou novamente a situação da sanfona, do acordeon num modo geral. Devido a Bossa Nova e muitos gêneros que apareciam no Brasil, o acordeon foi ficando obsoleto. Ninguém queria saber de sanfona!
(Dominguinhos - Cantor e compositor)

A música nordestina estava muito por baixo naquele período e o Gilberto Gil chamou Dominguinhos para fazer parte da banda da Gal Costa e para esses shows que eles terian no Midem, uma feira de música que tem em Cannes, na França.
(Antônio Carlos Miguel - Jornalista)

Um pouquinho antes da viagem ele me mostrou a música e me disse: "Olha nego véi, tem essa música aqui que eu gravei...", e eu fiquei logo encantado pela canção, pela estrutura musical, harmônica, o gosto da tradição da música nordestina, do xote, bem presentes alí. E uma letra muito bem armada. E eu comecei a cantar, comecei a botar do meu jeito.
(Gilberto Gil - Cantor e Compositor)

Lá ele começou a cantar nos camarins. Aí ele ficou cantando "Eu Só Quero Um Xodó", cantando do jeito dele, um jeito meio africano e tal... umas coisas muito bonitas que ele fazia na voz. E tinham uns cantores americanos por lá, com a gente, todos empolgados, e o Gilberto Gil disse: "Eu vou é gravar essa música antes que um nêgo desse pegue e desapareca com ela!"
(Dominguinhos - Cantor e compositor)

E quando eu voltei nós resolvemos gravar!
(Gilberto Gil - Cantor e Compositor)

Este aqui foi o compacto que o Gilberto Gil gravou (mostrando o disco na mão). Deste lado "Eu Só Quero Um Xodó", do lado 2, que foi a música que estourou, graças a Deus... e que até hoje está na boca do povo!
(Anastácia - Cantora e compositora)

As músicas que o Gilberto Gil tinha feito sucesso até então era como o autor, e de repente ele faz sucesso como cantor. É o primeiro grande sucesso do Gilberto Gil como intérprete. E muita gente até hoje acha que essa música é dele!
(Rodrigo Faour - Jornalista)

O que o Gilberto Gil imprimiu nessa música, deu esse gás e virou esse sucesso todo!
(Antônio Carlos Miguel - Jornalista)

"Eu Só Quero Um Xodó" está entre os quatro maiores sucessos de rádio e de público da minha carreira!
(Gilberto Gil - Cantor e Compositor)

Foi uma coisa muito boa porque eu e Dominguinhos saímos do sertão. Nós fazíamos muitas músicas... eu fazia muitas letras falando de amor mas focada na minha realidade que é o Nordeste. E de repente esta música começou a tocar, no Brasil inteiro, em qualquer horário. Aí eu disse: "Pronto, eu fiz um sucesso pela primeira vez a nível nacional!". Foi muito bom!
(Anastácia - Cantora e compositora)

Essa coisa toda do "Eu Só Quero Um Xodó" foi que puxou o meu lado compositor musical.
(Dominguinhos - Cantor e compositor)

Foi essa música que revelou o trabalho do Dominguinhos, propiciou que ele dali em diante tivesse condições de apresentar seu repertório, enfim, fazer o trabalho, a carreira que ele fez. Eu tenho a impressão que esta música deu o ponta-pé para este prestígio dele, especialmente como compositor.
(Gilberto Gil - Cantor e Compositor)

As pessoas tinham até essa besteira né: "Ah faz um negocinho parecido com Xodó (risos)... Nunca mais consegui fazer!"
(Dominguinhos - Cantor e compositor)

A nossa parceria foi interrompida porque ele apaixonou-se por outra pessoa. Nós rompemos com o relacionamento, e ficou difícil nos encontrarmos para fazer música. E teve até um ponto nessa confusão toda que eu hoje lamento:
Eu tinha uma caixa cheia de músicas, melodias dele... ele divagava, ele sentava e ia tocando. Comprava caixas e caixas de fita cassete e ficava tocando, gravando, e guardando todas as gravações.
Aí eu fiquei muito irracional quando nos separamos porque eu não estava esperando por isso. E eu fiz um fogueira e queimei aquelas fitas todas. E hoje, até falei pra ele, depois de 25 anos, que foi um ato de que me arrependi muito. Porque tinha ali um material que eu acho que encerraria a minha vida na Terra e não terminaria de fazer, de tanta melodia boa feita por ele.
(Anastácia - Cantora e compositora)

Ela ficou com raiva de mim aí tocou fogo no resto das fitas. Hoje em dia fica pelos cantos reclamando arrependida. Agora... agora... já foi, esqueça isso!
Nós fizemos muitas músicas e tenho certeza que ela foi uma grande parceira musical na minha vida!
(Dominguinhos - Cantor e compositor)

De várias regravações, cada uma tem um estilo. Eu consegui somar 430, 440, por aí, no mundo, em vários idiomas.
(Anastácia - Cantora e compositora)

"Eu Só Quero Um Xodó" entrou em 2005 e eu canto até hoje nos shows. É um dos meus bons momentos dos meus shows. É uma música maravilhosa e que o povo também gosta muito!
(Elba Ramalho - Cantora)

"Eu Só Quero Um Xodó" foi muito mais regravada do que várias outras canções, mas ela é a que tem o carimbo do Gilberto Gil.
(Rodrigo Faour - Jornalista)

Eu acho que a gravação do Gilberto Gil encerrou o assunto. Lógico que sucessos as pessoas gravam e regravam. Mas ninguém chegou perto dessa gravação do Gilberto Gil.
(Antônio Carlos Miguel - Jornalista)

Hoje é difícil você ter uma gravação dessas, como "Eu Só Quero Um Xodó", nas paradas de sucesso. Uma música que está há 40 anos e que todo mundo se lembra. Qualquer pessoa que puxe esta música todo mundo vai cantar numa rodinha de violão, onde quer que seja, vai passando de geração para geração, uma música que não morre!
(Rodrigo Faour - Jornalista)

Ela transcende porque ela ocupa todos os tempos, ela sobrevive a todos os tempos e ocupa todos os espaços. Os espaços físicos e os espaços da emoção!
(Elba Ramalho - Cantora)

Se tornou um Xodó na minha vida. Então eu tenho esta ligação afetiva com a canção. Ela é uma das minhas canções de travesseiro!
(Gilberto Gil - Cantor e Compositor)

"Eu Só Quero Um Xodó" de qualquer forma me ajudou e me ajuda até hoje. Quando quiser, eu toco! (risos)
(Dominguinhos - Cantor e compositor)



Eu Só Quero Um Xodó

Que falta eu sinto de um bem
Que falta me faz um xodó
Mas como eu não tenho ninguém
Eu levo a vida assim tão só...

Eu só quero um amor
Que acabe o meu sofrer
Um xodó pra mim
Do meu jeito assim
Que alegre o meu viver

Que falta eu sinto de um bem
Que falta me faz um xodó
Mas como eu não tenho ninguém
Eu levo a vida assim tão só...

Eu só quero um amor
Que acabe o meu sofrer
Um xodó pra mim
Do meu jeito assim
Que alegre o meu viver...

Fonte: Por Trás da Canção

Águas de Março

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Título: Águas de Março
Compositor: Tom Jobim
Ano: 1972

"Águas de Março"é uma famosa canção brasileira do compositor, músico, arranjador, cantor e maestro Tom Jobim, de 1972. A canção foi lançada inicialmente no compacto simples "Disco de Bolso, o Tom de Jobim e o Tal de João Bosco" e, a seguir, no álbum "Matita Perê", no ano seguinte.

Em 1974, uma versão em dueto com Elis Regina foi lançada no LP "Elis & Tom". Posteriormente, Tom Jobim compôs uma versão em língua inglesa, que manteve a estrutura e a metáfora central do significado da letra.

A canção chegou a inspirar uma campanha publicitária da empresa Coca-Cola na década de 80, com um arranjo mais próximo do rock e outros versos. A versão em inglês da música foi também utilizada, já na década de 90, como tema publicitário para o lançamento do Ayala Center, nas Filipinas.

Em 2001, foi nomeada como a melhor canção brasileira de todos os tempos em uma pesquisa de 214 jornalistas brasileiros, músicos e outros artistas do Brasil, conduzida pelo jornal Folha de São Paulo. Na pesquisa realizada pela edição brasileira da revista Rolling Stone, em 2009, a canção ocupa o segundo lugar, atrás de "Construção", de Chico Buarque de Holanda.

Tom Jobim e Elis Regina (1974)
Antecedentes

No ano anterior à composição de "Águas de Março"Tom Jobim havia sofrido a única grande perseguição política em sua vida. Em um protesto contra a censura que vigorava durante a ditadura militar no Brasil, Tom Jobim e alguns compositores assinaram um manifesto e se retiraram do Festival Internacional da Canção, da Rede Globo. Doze artistas, entre os quais Tom Jobim, foram detidos e, durante algumas horas, interrogados. Segundo declarações posteriores de Chico Buarque, Edu Lobo e Ruy Guerra, um diretor da emissora esteve presente e insistiu para que os compositores voltassem e retornassem ao festival. A pressão não funcionou, mas - na opinião de Chico Buarque e Ruy Guerra - instigou o aparelho repressivo do regime a enquadrá-los na Lei de Segurança Nacional. Depois, Tom Jobim foi intimado várias vezes a prestar depoimento, chegou a ter o seu telefone grampeado e a suas cartas, violadas.

Segundo Tom Jobim, a questão foi resolvida "de uma maneira bastante brasileira", quando um escrivão de polícia solidário o chamou e disse: "Olhe, o senhor não queira se meter com polícia... Isso aqui não é bom. Negócio de polícia não é bom. Vou bater um negócio aqui para o senhor..." E assim, o escrivão bateu à máquina de escrever uma declaração, que Tom Jobim assinaria. "Este papel aqui diz que o senhor não teve intenção!".

Também no período de gravação do álbum "Matita Perê"Tom Jobim teve outros motivos para viver preocupado, que aludiam a problemas de saúde, términos de projeto de vida ou desinteresse pelos mesmos, algo que mencionaria em entrevistas posteriores.

Para a revista Playboy, em 1988, Tom Jobim contou que, à época da criação de "Águas de Março", "o médico disse que eu ia morrer de cirrose. 'É um resto de toco, é um pouco sozinho'(...)".

Em 1992, para o Jornal do Brasil, ele declarou que escreveu a canção "em um período em que estava muito na fossa. Parecia que tudo havia acabado para mim, que eu não tinha mais nada a fazer. Eu bebia muito." Segundo depoimento de Edu LoboTom Jobim ressentia-se de que "ninguém ouvia seus discos". Helena Jobim ainda afirmou que o irmão brincava naquele período que temia encerrar a carreira "aos 80 anos, cantando 'Garota de Ipanema', num circo do interior e sendo vaiado".


Letra e Música

"Águas de Março" foi composta por Tom Jobim em março de 1972. O tema começou a ser trabalhado ao violão em seu sítio do Poço Fundo, em São José do Vale do Rio Preto, região Serrana do Rio de Janeiro. De acordo com depoimento de Thereza Hermanny, esposa de Tom Jobim à época, a inspiração para "Águas de Março" surgiu ao final de um dia cansativo de trabalho provocado pela composição de "Matita Perê", futura parceria com Paulo César Pinheiro, de onde decorrem os primeiros versos "É pau, é pedra, é o fim do caminho".

"(...) assim como quem está cansado mesmo(...) Quer dizer: foi uma música que surgiu numa hora em que ele estava querendo descansar!"
(Thereza Hermmany, sobre como surgiram os primeiros versos de "Águas de Março")

Tendo percebido imediatamente o valor da canção, ainda pela madrugada, Tom Jobim bateu à janela e acordou a irmã Helena Jobim e o cunhado para lhes mostrar o primeiro rascunho da letra, com a introdução e as primeiras frases, escritas a lápis em um papel de embrulho de pão. Thereza Hermmany recorda-se de haver lhe arranjado "um papel de desenho das crianças, porque lá não era lugar de muito trabalho". Não surpreende que em um primeiro rascunho da letra contivesse um grande número de referências pontuais: "O projeto da casa", "A viga", "O vão", "A lenha", "O tijolo chegando", "O corpo na cama".

De volta ao Rio de Janeiro, concluiu a canção em uma tarde. Assim que a terminou, Tom Jobim "passou no Antonio's e convocou todos os amigos que ocupavam a varanda do restaurante para ouvirem, na sua casa, a música nova". Quando se reuniram em torno de Tom Jobim, ele "puxou um papel todo amassado do bolso" e "tocando violão, cantou a música (...) Quem chegasse na sua casa, naqueles dias, era imediatamente contemplado com a audição de 'Águas de Março'".

"Águas de Março" teve, ao menos, duas grandes fontes de inspiração. Uma é o poema "O Caçador de Esmeraldas", do poeta parnasiano Olavo Bilac("Foi em março, ao findar da chuva, quase à entrada / do outono, quando a terra em sede requeimada / bebera longamente as águas da estação (...)). Outra é um ponto de macumba, gravado com sucesso por J. B. de Carvalho, do Conjunto Tupi ("É pau, é pedra, é seixo miúdo, roda a baiana por cima de tudo").

A estrutura musical é articulada por um motoperpétuo. Sua letra é estruturada em um único verbo (ser), conjugado na terceira pessoa do singular no presente do indicativo em praticamente todos os versos - exceto no refrão, transformado em plural ("São as Águas de Março"). Há uma constante alternância entre versos considerados otimistas e pessimistas, além do uso de antítese ("vida", "sol" / "morte", "noite"), pleonasmo ("vento ventando"), paronomásia ("ponta" / "ponto" / "conto" / "conta").

Sua letra tem caráter pouco narrativo e fortemente imagético, constituindo-se como séries descritivas conectadas a um espaço semântico amplo. Muitos elementos, de natureza geral, podem referir-se à cena do sítio: "pau", "pedra", "resto de toco", "peroba-do-campo", "nó na madeira", "caingá", "candeia", "matita perê", o que enquadra "Águas de Março" em um repertório de canções ecológicas - que incluiria depois "Chovendo na Roseira", "Boto", "Correnteza", "Passarim", além das instrumentais "Rancho das Nuvens" e "Nuvens Douradas".

A letra se assemelha a um fluxo de consciência, se referindo a seres como pau, pedra, caco de vidro, nó na madeira, peixe, fim do caminho e muitas outros. A metáfora central das "Águas de Março"é tomada como imagem da passagem da vida cotidiana, seu motocontínuo, sua inevitável progressão rumo à morte - como as chuvas do fim de março, que marcam o final do verão no sudeste do Brasil. A letra aproxima a imagem da "água" a uma "promessa de vida", símbolo da renovação.

A letra e a música operam progressões lentas e graduais, à maneira das enxurradas. Os efeitos de orquestração chegam a ser cinematográficos, a partir das relações que estabelecem entre elementos musicais e imagens do texto. Algumas metáforas são dignas de nota pela sutileza e propriedade, como o quase imperceptível "tombo da ribanceira", que acontece numa rara variação rítmica da linha do contrabaixo, além de vários movimentos de crescendo e decrescendo do naipe de cordas, reforçando o apelo da imagem da chuva na letra.


Lançamento

"Águas de Março" foi lançada originalmente como lado A de um compacto encartado no jornal O Pasquim, em maio de 1972. A ideia teria sido do cantor e compositor Sérgio Ricardo, que propusera o lançamento de um compacto simples que combinasse, em cada um dos lados, uma música de um artista consagrado, e o outro, de um estreante. Chamado "Disco de Bolso, o Tom de Jobim e o Tal de João Bosco", trazia ainda no lado B "Agnus Sei", estreia de João Bosco, e uma parceria com Aldir Blanc.

A canção foi lançada, como faixa 1, do LP "Matita Perê", do mesmo ano. Tom Jobim tocou o piano e o violão, enquanto a percussão e a bateria ficaram por conta de, respectivamente, Airto Moreira e João Palma.

Em 1974, uma nova versão de Tom Jobim, gravada com Elis Regina para o álbum-dueto "Elis & Tom", foi lançada e obteve maior sucesso comercial. Para esta versão, foram creditados Cesar Camargo MarianoTom Jobim (piano), Hélio Delmiro e Oscar Castro Neves (violão), Luizão Maia (baixo elétrico), Paulinho Braga (bateria).


Versões

"Águas de Março" teve várias versões regravadas, tanto no Brasil, quanto no exterior. Em seu país de origem, destacaram-se as gravações de João Gilberto, Leny Andrade, Miúcha, Nara Leão, Joyce, Danilo Caymmi, Sérgio Mendes e d'Os Cariocas. Em outros países, "Waters Of March", como foi traduzida literalmente, recebeu, entre outros, as interpretações de Art Garfunkel, Al Jarreau, Ella Fitzgerald e Dionne Warwick. Uma versão em francês, "Les Eaux de Mars", foi interpretada pelo cantor Georges Moustaki.


Versão Anglófona

O compositor escreveu originalmente duas versões da letra, uma em língua portuguesa e outra em língua inglesa, esta chamada de "Waters Of March", e que manteve a estrutura e a metáfora central do significado da letra.

Para o inglês, ele tentou evitar palavras com raízes latinas, disso resultou que a versão anglófona acabou por ter versos a mais que a da língua materna. A letra em inglês conserva a característica de enumeração de elementos presente na portuguesa. Entretanto, algumas referências específicas à cultura brasileira, tais como festa da cumeeira e garrafa de cana, bem como da flora brasileira, a peroba do campo, e do folclore, Matita Pereira, foram omitidas. Além disso, a versão em língua inglesa também assume um ponto de vista específico, que se assemelha ao de um observador do hemisfério norte. Neste contexto, as águas mencionadas são as águas do degelo, e não as chuvas do fim de verão do hemisfério sul a que se refere o texto em português. A "promessa de vida" do texto em português virou "promessa de primavera", referência mais relevante para a maior parte do mundo setentrional.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Tom Jobim visite o blog Famosos Que Partiram.



Águas de Março

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumueira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
Uma ave no céu, uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é pouco, sozinho
É um caco de vidro, é a vida é o sol,
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração


Fonte: Wikipédia

O Que é Que a Baiana Tem?

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Título: O Que é Que a Baiana Tem?
Compositor: Dorival Caymmi
Ano: 1938

"O Que é Que a Baiana Tem?"é uma canção composta por Dorival Caymmi em 1938 é uma das músicas mais conhecidas da carreira de Carmen Miranda, foi eternizada como um hino da Bahia quando a artista luso-brasileira interpretou este samba no filme "Banana da Terra" (1939), de Wallace DowneyDorival Caymmi fez sua estréia na Rádio Tupi  em 1938 cantando esse samba de sua autoria e o mesmo foi gravado em 1939 em dueto com Carmen Miranda

Basicamente, a letra da canção fala sobre a tradicional vestimenta das mulheres negras e mestiças da Bahia, conhecida como "baiana", que é composta de saia comprida muito rodada, brincos e balangandãs. Esta vestimenta inspirou os tão reconhecidos trajes de Carmen Miranda.

A produtora dos filmes de Wallace Downey comprou os direitos da música "O Que é Que a Baiana Tem", já que Ary Barroso, no auge de sua carreira, cobrou muito caro pelos direitos de "Tabuleiro da Baiana".

Dorival Caymmi, Carmen Miranda e Assis Valente, na Rádio Mayrink Veiga
As músicas inicialmente escolhidas para o filme seriam "Boneca de Piche" e "Na Baixa do Sapateiro" ambas de Ary Barroso, mas por questões financeiras foram retiradas e substituídas por "O Que é Que a Baiana Tem?"

Dorival Caymmi ganhou fama e Carmen Miranda estourou mundialmente.

Em 2009, a canção foi regravada pela cantora baiana Daniela Mercury para seu álbum "Canibália".

Outras versões conhecidas foram interpretadas por Clara Nunes, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Ney Matogrosso, Margareth Menezes, Carolina Cardoso de Menezes, Lana Bittencourt, Rita Lee dentre outros cantores.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Dorival Caymmi visite o blogFamosos Que Partiram.



O Que é Que a Baiana Tem?

O que é que a baiana tem? 
O que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem! 
Corrente de ouro, tem!
Tem pano-da-Costa, tem! 
Tem bata rendada, tem!
Pulseira de ouro, tem! 
Tem saia engomada, tem!
Tem sandália enfeitada, tem! 
E tem graça como ninguém!
 Como ela requebra bem!

Quando você se requebrar caia por cima de mim 
Caia por cima de mim 
Caia por cima de mim 
O que é que a baiana tem? 
O que é que a baiana tem? 

Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem! 
Corrente de ouro, tem!
Tem pano-da-Costa, tem! 
Tem bata rendada, tem!
Pulseira de ouro, tem! 
Tem saia engomada, tem!
Sandália enfeitada, tem! 
Só vai no Bonfim quem tem 
O que é que a baiana tem?
Só vai no Bonfim quem tem 

Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim

Quando você se requebrar caia por cima de mim 
Caia por cima de mim 
Caia por cima de mim 
O que é que a baiana tem? 
O que é que a baiana tem?

Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim


Fonte: Wikipédia

Chega de Saudade

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Título: Chega de Saudade
Letra: Vinícius de Moraes
Música: Antônio Carlos Jobim 
Ano: 1956

"Chega de Saudade"é uma canção escrita por Vinícius de Moraes (letra) e por Antonio Carlos Jobim (música), em meados dos anos 50.

Que a canção "Chega de Saudade" inaugurou a Bossa Nova, nos idos de 1958, quase todo mundo sabe. Que a música popular brasileira nunca mais foi a mesma depois que João Gilberto gravou essa música, embora a primeira gravação fosse de Elizeth Cardoso, ao som do violão do próprio João Gilberto, também é fato notório. Mas vejamos aqui o depoimento de Vinícius de Moraes, na coletânea de artigos "Samba Falado" (Rio de Janeiro, Beco do Azougue, 2008), quando ele diz como a canção "Chega de Saudade" foi composta. 

Nesse mesmo ano de 1956, Tom, depois de preparada a partitura da minha peça "Orfeu da Conceição", resolveu ir descansar em Poço Fundo, lá para os lados de Itaipava, onde seu pai tem um sítio. Quatro sambas (os nossos primeiros) haviam saído dessa safra, todos para o "Orfeu". "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Lamento no Morro", "Mulher, Sempre Mulher" e "Um Nome de Mulher". Minha valsa "Eurídice" seria usada como o tema da mulher amada. Tudo andava sobre rodinha e eu, uma vez escolhido o diretor e os atores, achei-me com direito de ter uma angina de garganta, que me bateu na cama.
Foi no meio dessa angina que Tom, um dia, de volta da montanha, chegou à minha casa, na Rua Henrique Drummond, sentou-se ao meu lado e, depois de um papo manso, pegou meu violão e pôs-se a tocar um sambinha que logo alertou o ouvido.
- Você gosta? – perguntou-me ele ao terminar.
- Faz de novo.
Tom repetiu-o umas dez vezes. Era uma graça total, com um tecido melancólico e plangente, e bastante "chorinho lento" no seu espírito. Eu fiquei de saída com a melodia no ouvido, e vivia a cantarolá-la dentro de casa, à espera de uma deixa para a poesia.
Aquilo sim, me parecia uma música inteiramente nova, original: inteiramente diversa de tudo que viera antes dela, mas tão brasileira quanto qualquer choro de Pixinguinha ou samba de Cartola. Um samba todo em voltas, onde cada compasso era uma nota de amor, cada nota uma saudade de alguém longe.
Mas a letra não vinha. De vez em quando eu me sentava à minha mesa, diante da janela que dava para o Country (hoje a casa foi, é claro, transformada em mais um prédio de apartamentos...), e tentava. Mas o negócio não vinha. Acho que em toda a minha vida de letrista nunca levei uma surra assim. Fiz dez, vinte tentativas. Houve uma ocasião em que dei o samba como pronto, à exceção de dois versos finais da primeira parte, que eu sabia quais eram, mas que não havia maneira de se encaixarem na música, numa relação de sílaba com sílaba. Eu já estava ficando furioso, pois Tom, embora não me telefonasse reclamando nada, estava esperando pelo resultado.
Uma manhã, depois da praia, subitamente a resolução chegou. Fiquei tão contente que cheguei a dar um berro de alegria, para grande susto de minhas duas filhinhas. Cantei e recantei o samba, prestando atenção a cada detalhe, a cor das palavras em correspondência à da música, à acentuação das tônicas, aos problemas de respiração dentro dos versos, a tudo. Queria depois dos sambas do "Orfeu", apresentar ao meu parceiro uma letra digna de sua nova música: pois eu realmente a sentia nova, caminhando numa direção a que não saberia dar nome ainda, mas cujo nome já estava implícito na criação. Era realmente a bossa nova que nascia, a pedir apenas, na sua interpretação, a divisão que João Gilberto descobriria logo depois.
Intitulei-o "Chega de Saudade" recorrendo a um de seus versos. Telefonei para Tom e dei um pulo a seu apartamento. O jovem maestro sentou-se ao piano e eu cantei-lhe o samba duas ou três vezes, sem que ele dissesse nada. Depois, vi-o pegar o papel, colocá-lo sobre a estante do piano e cantá-lo ele próprio. E em breve chamar sua mulher em tom vibrante:
- Teresa!
O resto sabemos... a música brasileira jamais foi a mesma depois de "Chega de Saudade".
(Vinícius de Moraes)

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, visite o blog Famosos Que Partiram.



Chega de Saudade

Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse

Porque não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz Não há beleza
É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar

Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos

Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calada assim,

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você longe de mim
Não quero mais esse negócio

De você viver sem mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim...


Fonte: Wikipédia e MusicBlog

Na Tonga da Mironga do Kabuletê

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Título: Na Tonga da Mironga do Kabuletê
Compositor: Vinícius de Moraes e Toquinho
Ano: Começo da década de 70

Vinícius de Moraes iniciava sua parceria com Toquinho, morava em Salvador e era há pouco casado com a baiana Gessy Gesse

O Brasil estava naquela fase do "Pra Frente Brasil". De um lado, o chamado "Milagre Econômico", do outro a censura, ditadura e repressão.

Vinícius de Moraes, ateu "graças a Deus", se aproximou do candomblé e seguia uma vida sem muitas regras. Um dia, estava em casa com Toquinho, quando Gessy Gesse entra pela porta e grita: "Na Songa da Mironga do Kabuletê!", afirmando que se tratava de um xingamento que ela ouvira no Mercado Modelo.

Com ToquinhoVinícius de Moraes compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves, para a apresentação oficial da dupla. Uma forma de protesto político, afrontar os militares sem que eles tivessem consciência. Na época o Brasil era governado por uma ditadura e essa era a oportunidade de protestar sem que os militares compreendessem.

E o poeta ainda se divertia com tudo isso: "Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô". Assim, mudaram "songa" por "tonga"Vinícius de Moraes mandou todo mundo à "Tonga da Mironga do Kabuletê".

Mas o que significa?

Segundo o livro "Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão", uma biografia (Cia das Letras, 1994), significava "O pelo do cu da mãe". Procurando em sítios digitais, encontram-se outros significados, ou mesmo que a sonoridade não tem sentido nenhum.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Na Tonga da Mironga do Kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que lê e não sabe
Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê

Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê

Odeon

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Título: Odeon
Música: Ernesto Nazareth
Letra: Vinícius de Moraes
Ano Música / Letra: 1910 / Década 60

"Odeon"é um chorinho com música de Ernesto Nazareth composta em 1910 e letra original de Vinicius de Moraes, em outra versão escrita por Ubaldo Maurício, composto em homenagem ao Cinema Odeon, localizado na Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

História

Em 1908, Ernesto Nazareth foi contratado para animar a sala de espera do Cinema Odeon, o mais luxuoso da cidade do Rio de Janeiro.

Em 1910, Ernesto Nazareth compôs e dedicou esta canção "à distinta empresa Zambelli & Cia.", proprietária do Cinema Odeon. Muitas pessoas frequentavam o Cinema Odeon só para ouvi-lo tocar, deixando inclusive de assistir aos filmes.

Durante a vida de Ernesto Nazareth, "Odeon" não foi uma peça de especial destaque, tendo sido gravada apenas em 1912, pelo próprio compositor juntamente com Pedro de Alcântara ao flautim. A canção só tornou-se seu maior sucesso após sua morte, especialmente depois que recebeu letra do poeta Vinicius de Moraes na década de 60.

Em 2000, a canção fez parte da trilha-sonora da novela "O Cravo e a Rosa" com versão de Sérgio Saraceni.

Até 2012, a canção alcançou a impressionante marca de 325 gravações comerciais, feitas em diversos países.

Nara Leão

O LP "Nara Leão" foi registrado em outubro de 1968, nos estúdios da gravadora Philips, com orquestração e arranjos de Rogério Duprat, um dos maestros da Tropicália.

Uma das músicas de destaque era uma composição instrumental de 1910 que só tinha recebido letra havia pouco tempo, ainda naquele ano. Na capa do LP estava a explicação dada por Nara Leão:

"Em 1908, Ernesto Nazareth foi contratado para animar a sala de espera do cinema Odeon, na avenida Rio Branco, 137, no Rio de Janeiro. Muita gente comprava ingresso para o filme, mas passava a tarde ouvindo o seu piano. (...)
Em 1968, a meu pedido, Vinicius de Moraes fez a letra do chorinho que Ernesto Nazareth chamou de 'Odeon'".

Essa parceria inusitada de Ernesto Nazareth com Vinicius de Moraes, nascidos com 50 anos de diferença e mais de 30 anos após a morte do próprio Ernesto Nazareth, fez surgir um dos clássicos da música popular brasileira.

"Odeon" foi incluída na série de cerca de cem "Tangos Brasileiros" feitos para piano por Ernesto Nazareth. Sua obra, entre polcas, choros, tangos e peças clássicas, é um marco na música brasileira.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Odeon

Ai, quem me dera
O meu chorinho
Tanto tempo abandonado
E a melancolia que eu sentia
Quando ouvia
Ele fazer tanto chorar
Ai, nem me lembro
Há tanto, tanto
Todo o encanto
De um passado
Que era lindo
Era triste, era bom
Igualzinho a um chorinho
Chamado odeon

Terçando flauta e cavaquinho
Meu chorinho se desata
Tira da canção do violão
Esse bordão
Que me dá vida
Que me mata
É só carinho
O meu chorinho
Quando pega e chega
Assim devagarzinho
Meia-luz, meia-voz, meio tom
Meu chorinho chamado odeon

Ah, vem depressa
Chorinho querido, vem
Mostrar a graça
Que o choro sentido tem
Quanto tempo passou
Quanta coisa mudou
Já ninguém chora mais por ninguém

Ah, quem diria que um dia
Chorinho meu, você viria

Com a graça que o amor lhe deu
Pra dizer "não faz mal
Tanto faz, tanto fez
Eu voltei pra chorar com vocês"

Chora bastante meu chorinho
Teu chorinho de saudade
Diz ao bandolim pra não tocar
Tão lindo assim
Porque parece até maldade
Ai, meu chorinho
Eu só queria
Transformar em realidade
A poesia
Ai, que lindo, ai, que triste, ai, que bom
De um chorinho chamado odeon

Chorinho antigo, chorinho amigo
Eu até hoje ainda percebo essa ilusão
Essa saudade que vai comigo
E até parece aquela prece
Que sai só do coração
Se eu pudesse recordar
E ser criança
Se eu pudesse renovar
Minha esperança
Se eu pudesse me lembrar
Como se dança
Esse chorinho
Que hoje em dia
Ninguém sabe mais

Boas Festas

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Título: Boas Festas
Compositor: Assis Valente
Ano: 1932

É paradoxal que "Boas Festas", a única música natalina brasileira que deu certo, tenha sido composta pelo baiano Assis Valente, um dos autores mais atormentados da Música Popular Brasileira. Não por acaso, "Boas Festas"é também uma das canções mais tristes entre as que são cantadas nesta época. Não há em sua letra o lirismo ou bom-humor, e até ingenuidade das músicas norte-americanas ou europeias.

É difícil entender a razão de "Boas Festas" competir com "Noite Feliz" (Stille Nacht, Silent NightHeilige Nacht), "White Christmas", e outros clássicos do cancioneiro importado. A canção é de 1932, portanto, agora em 2014 completou 82 anos, e foi lançada, em 1933, por Carlos Galhardo, com acompanhamento da Orquestra Diabos do Céu, regida por Pixinguinha.

Enquanto "Noite Feliz" (Joseph Mohr e Franz Grüber, adaptação de Alberto Ribeiro), por exemplo, evoca o Menino Jesus, paz, sinos bimbalhantes, "Boas Festas"é uma crítica social, um desabafo, amarga, que reflete o que se passava pela cabeça de Assis Valente.

Ele foi mulato pobre, adotado por uma família de brancos do recôncavo baiano, compositor e protético. Em sua música, sinos não bimbalham, gemem, e o Bom Velhinho, só é bom para uns:

Já faz tempo que pedi
mas o meu Papai Noel não vem
com certeza já morreu
ou então felicidade
é brinquedo que não tem


Numa entrevista de 1936, Assis Valente contou como lhe veio a inspiração para "Boas festas":

"Eu morava em Niterói, e passei aquele Natal sozinho. Estava longe dos meus e de todos em uma terra estranha. Era uma criatura esquecida dos demais no mundo alegre do Natal dos outros. Havia em meu quarto isolado, uma estampa simples de uma menina esperando seu presente, com seus sapatinhos sobre a cama. Eu me senti nela. Rezei e pedi. Fiz então Boas festas. Era uma forma de dizer aos outros o que eu sentia. Foi bom, porque de minha infelicidade tirei esta marchinha que fez a felicidade de muita gente. É minha alegria de todos os natais. Esta é a  minha melhor composição!"

Mas por que Assis Valente consideraria "Boas Festas" sua melhor canção? Por ela ser tão confessional? Por virar sua alma pelo avesso? Ou mostrá-la pelo lado correto? Por retratar o homem amargurado, cuja vida tinha uma face oculta, o homossexualismo não assumido? Um compositor que quase sempre cantava a alegria, com letras bem-humoradas, e que foi um dos mais bem-sucedidos do seu tempo.

São de Assis Valente: "Brasil Pandeiro", "Boneca de Pano", "Camisa Listrada", "E o Mundo Não Se Acabou", "Fez Bobagem", "Maria Boa", "Quero Um Samba" (Com Júlio Zamorano), "Uva de Caminhão", para citar umas poucas. Sua grande intérprete foi Carmem Miranda, mas foi gravado por quase todos os astros da era do rádio.

O cronista do cotidiano, das mazelas dos amores feitos, desfeitos, complicados, nunca foi tão abertamente ele próprio quanto em "Boas Festas". Nada mais incisivo do que o Natal para mexer em feridas da alma. Talvez a outra música em que Assis Valente mais fala de si mesmo seja a engraçada "Pão Duro", uma marchinha lançada, em 1946, por Luiz Gonzaga.

Carmen Miranda e Assis Valente
Em dezembro de 1968, Caetano Veloso ousou, diante das câmeras, a lendária interpretação de "Boas Festas", com o AI-5 pairando sobre sua cabeça. Foi a derradeira apresentação do programa tropicalista "Divino Maravilhoso", na TV Record.

Caetano Veloso cantava: "Anoiteceu / o sino gemeu…" segurando um revólver que apontava para a própria cabeça. Assis Valente passou anos, metaforicamente, com um revólver apontado para a cabeça. Em maio de 1941, tentou o suicídio pulando do Corcovado mas, milagrosamente, se salvou, resgatado pelo Corpo de Bombeiros.

Em 11 de março de 1958, tomou veneno com guaraná, e teve uma morte de letra de bolero mexicano,  tombou na relva da Praia do Russel. O repórter Francisco Duarte, que anos mais tarde escreveria, com Dulcinéa Nunes Gomes, a biografia "A Jovialidade Trágica de Assis Valente", passava pelo local, e viu o corpo do compositor, arrodeado por populares. Perguntou a um policial o que havia acontecido. A resposta: "Suicídio. Um protético que tinha laboratório na Cinelândia. Matou-se por dívidas. Parece que se chamava José!"

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Assis Valente visite o blog Famosos Que Partiram.



Boas Festas

Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem


Linda Flor / Meiga Flor / Iaiá (Ai, Ioiô)

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Títulos: Linda Flor  /  Meiga Flor  /  Iaiá
Melodia: Henrique Vogeler
Letra: Cândido Costa / Freire Júnior / Luis Peixoto
Ano: 1929

Esta melodia de Henrique Vogeler recebeu três letras diferentes. A primeira, "Linda Flor" de Cândido Costa, para a peça "A Verdade do Meio-Dia", a segunda, "Meiga Flor" de Freire Junior e a definitiva "Iaiá" de Luis Peixoto para a peça "Miss Brasil". As três foram gravadas, a primeira por Vicente Celestino, a segunda por Francisco Alves e a terceira que fez mais sucesso, por Aracy Cortes.

Segundo os musicólogos Ary Vasconcelos e José Ramos Tinhorão foi a primeira música a ser considerada samba-canção. A certidão de nascimento do gênero samba-canção consta de uma nota publicada na revista Phonoarte de 30/03/1929:

"Yayá (Linda Flor) , o samba-canção que todos conhecem e que, no último carnaval, foi um dos seus mais ruidosos sucessos, acha-se impresso pela Casa Vieira Machado."

Linda Flor

Qual foi o primeiro samba-canção da música brasileira? O samba canção, ritmo musical que substituiu a modinha como modelo de música romântica nacional, atingiu seu auge nas décadas de 40 e 50, e serviu de antítese para o surgimento da bossa-nova, no final da década de 50.

Embora atualmente não seja o ritmo romântico mais frequente, ele continua no imaginário nacional. E foram buscar em José Ramos Tinhaorão, na sua pequena história da Música Popular Brasileira, a história da primeira, e bela, música a ser gravada e registrada como samba-canção. E a música teve 3 letras distintas. Trata-se de "Linda Flor", também conhecida como "Ai, Ioiô". Segue a história:

Em agosto de 1928, quando o empresário Pascoal Segreto organizou no Rio de Janeiro a Companhia de Teatro Cômico, para atuar no Teatro Carlos Gomes, da Praça Tiradentes, então centro do teatro musicado carioca, a peça escolhida para a estréia foi a comédia do argentino J. G. Traversa, intitulada "A Verdade Ao Meio-Dia", adaptada por Celestino Silva.

Como a peça abria com uma das personagens cantando uma canção, o maestro Henrique Vogeler foi escolhido para compor o número musical de abertura, cuja interpretação ficaria a cargo da atriz Dulce de Almeida, enquanto a atriz Gui Martinelli fingia acompanha-la ao piano. Henrique Vogeler, que havia dez anos produzia músicas regularmente para o Teatro de Revista - ele estreou em 1919 com a opereta "Sinhá", no próprio Teatro Carlos Gomes -, compôs então a melodia do primeiro samba-canção, e para a qual o autor de peças teatrais Cândido Costa escreveria os versos intitulados "Linda Flor":

Autor: Henrique Vogeler - Cândido Costa
Título: Linda Flor
Gênero: Samba Canção
Intérprete:Vicente Celestino
Gravadora: Odeon
Número: 10338-A
Matriz: 2255
Data Lançamento: Mar/1929

Linda flor,
Tu não sabes, talvez,
Quanto é puro o amor,
Que me inspira, não crês...
Nem
Sobre mim teu olhar
Veio um dia pousar!...
E ainda aumenta a minha dor
Com cruel desdém!
Teu amor
Tu por fim me darás,
E o grande fervor
Com que te amo verás...
Sim
Teu escravo serei,
E a teus pés cairei
Ao te ver, minha enfim.
Felizes então, minha flor
Veras a extensão deste amor
Ditosos os dois, e unidos enfim
Teremos depois só venturas sem fim!

Como era natural, relembraria por ocasião da morte de Henrique Vogeler, em 1944, um cronista de teatro carioca que se assinava L. R.

"O número cantado no início de uma comédia, por uma jeune fille, encostada ao piano, em trajo de soirée, não despertou a menor atenção. Passou em branca nuvem. Vogeler, porém, tinha verdadeira paixão pelo seu número, e com razão."

A paixão de Henrique Vogeler se explicava, naturalmente, pela consciência de ter criado alguma coisa de novo para época em termos de canção. E a prova estaria em que, apesar de "Linda Flor" ter passado despercebido no teatro, Henrique Vogeler ia fazer com que o cantor Vicente Celestino a gravasse imediatamente em disco na gravadora Odeon, de selo azul, quando apareceu pela primeira vez numa etiqueta a expressão samba-canção brasileiro.

Vicente Celestino, então no apogeu dos seus dotes vocais de tendências operísticas, como bem lembraria o jornalista José Lino Grünvald, prejudicava porém nesse disco o lançamento definitivo do samba-canção, porque sua empostação de voz ainda uma vez não permitia reconhecer a dose certa de balanço rítmico de samba, que Henrique Volgeler tentava introduzir como um elemento perturbador da melodia  clássica da canção.

Meiga Flor

Essa desvantagem da interpretação de Vicente Celestino foi de certa maneira afastada pela segunda gravação da música de Henrique Vogeler, a que foi feita ainda em fins de 1932 por Francisco Alves, sob o nome de Chico Viola, em disco Parlophon número 12.909, com o título mudado para "Meiga Flor", e uma segunda letra, agora do revistógrafo Freire Júnior:

Autor: Henrique Vogeler - Freire Júnior
Título: Meiga Flor
Gênero: Samba Canção
Intérprete: Francisco Alves
Gravadora: Parlophon
Número: 12.909-A
Matriz: 2215
Data Lançamento: Jan/1929

Meiga flor,
Não te lembras, talvez,
Das promessas de amor,
Que te fiz,
Já não crês...

Se
Queres me abandonar
Procurando negar
Que juraste a mim também
Minha ser, meu bem...

Meu amor
Por que negas, ó flor,
Sempre fui tão sincero,
Eu te quis, eu te quero...

Sei que sem ti morrerei.
És o meu ideal
Minha vida, afinal.

Se amas alguém, meiga flor,
Demais te convém outro amor
Eu quero partir para não mais te ver
Eu quero fugir e bem longe morrer. (bis)

Estava escrito, porém, que o lançamento definitivo do samba-canção não se daria nem com a letra original de Cândido Costa, nem com essa segunda de Freire Júnior, mas apenas em sua terceira versão: a do também revistógrafo Luís Peixoto.

Em dezembro de 1928, precisando de um número para sua revista Miss Brasil, escrita em parceria com Marques Porto, o revistógrafo Luís Peixoto recorreu a Henrique Vogeler, que não teve dúvida: sentou-se ao piano e executou com o ritmo exato a música até então mal compreendida.

Iaiá (Ai, Ioiô)

Sempre de improviso, como costumava fazer, Luís Peixoto escreveu então num papel, sobre a tampa do piano, a nova letra que, primeiro gravada com o título de "Iaiá" (Parlophon Número 12 926-A) e mais tarde com o título "Ai, Ioiô", ia tornar famosos não apenas os autores desse primeiro samba-canção, mas a própria intérprete da nova versão, a atriz Aracy Cortes:

Autor: Henrique Vogeler - Luiz Peixoto
Título: Iaiá
Gênero: Canção
Intérprete: Aracy Cortes
Gravadora: Parlophon
Número: 12.926-A
Matriz: 2366
Data Lançamento: Mar/1929

Ai, Ioiô!
Eu nasci pra sofrê
Fui oiá pra você,
Meus oinho fechou!

E quando os óio eu abri,
Quis gritá, quis fugi,
Mas você,
Eu não sei por quê,
Você me chamô!

Ai, Ioiô,
Tenha pena de mim
Meu Sinhô do Bonfim
Pode inté se zangá

Se ele um dia soubé
Que você é que é,
O Ioiô de Iaiá!

Chorei toda noite
E pensei
Nos beijos de amô
Que te dei,
Ioiô, meu benzinho,
Do meu coração
Me leva pra casa
Me deixa mais não. (bis)

Cantado em número da revista Miss Brasil, em que Aracy Cortes, então no auge da carreira e do esplendor físico, acentuava com muito dengo as derramadas insinuações amorosa da letra (a linguagem sertaneja, com seus "oinho" e seus "me deixa mais não", projetava para o público das cidades a cena romântica sobre um fundo ideal de bucolismo interiorano), o samba-canção conquistou afinal o público da pequena classe média carioca.

E o mais impressionante é que, depois de firmar-se como canção no teatro, durante dezembro de 1928 e janeiro do ano seguinte, o samba "Iaiá" teria o ritmo acelerado espontaneamente pelo povo, acabando por transformar-se numa das músicas mais cantadas do carnaval de 1929.

Esse sucesso do primeiro samba-canção seria registrado no número de março da revista Phono-Arte, de Cruz Cordeiro, que ao fazer a resenha do lançamento da gravação na versão de Luís Peixoto, com Aracy Cortes, escreveu:

"Finalmente, a primeira edição do famoso 'Iaiá'. E a Parlophon no-la oferece interpretada por Aracy Cortes, a conhecida artista brasileira, que foi principal fator para a extrema popularidade desta canção, um dos maiores sucessos musicais deste último carnaval."

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vicente CelestinoFrancisco Alves e Aracy Cortes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Perdão, Emília

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Título: Perdão Emília
Compositor: José Henrique da Silva e Juca Pedaço
Ano: 1889

Uma das mais antigas modinhas de que se tem notícia é a triste e melodramátrica "Perdão, Emília", cuja primeira gravação de que se tem notícia remonta ao ano de 1902. Em 1900 Melo Morais Filho, citado por Tinhorão, já se referia à música "Perdão, Emília", como uma canção popular e anônima.

O cenário em que a canção se desenvolve é um cemitério. No meio da noite, entra um vulto, vestido de preto, que se curva diante do sepulcro e pede perdão a Emília, por ter manchado-lhe os lábios e a honra.

Eis que então a voz de Emília passa a responder do sepulcro, lamentando ter se deixado apaixonar pelo "Monstro Tirano", afirmando que o pecado da sedução e do subsequente abandono não terá perdão.

E o vulto, ditado, aos pés do sepulcro, insiste no pedido de perdão.

A modinha, cheia dos moralismos e dos melodramas, cuida de uma realidade típica que durante séculos permaneceu na cultura popular europeia e brasileira: a da virgem pura que cede aos encantos daquele que jura eterno amor. Após consumado o ato e cedida a tentação, o varão despreza a quem tanto desejara, como se a cessão "desvalorizasse" a mulher, que, desgostosa, vem a morrer.

São as inevitáveis conexões entre sexo e culpa, presentes de maneira absolutamente dramática na cultura popular. E mostra um fato: a música é o reflexo da cultura de um país e de uma geração. E não foi á toa que a mesma modinha foi fravada e regravada, e até mesmo parodiada, diversas vezes ao longo do século XX.

Há referências de que seus autores verdadeiros sejam o português José Henrique da Silva e Juca Pedaço, no ano de 1889.



Perdão, Emília

Já tudo dorme, vem a noite em meio,
a turva lua vem surgindo além.
Tudo é silêncio, só se vê nas campas,
piar o mocho no cruel desdém.

Depois um vulto de roupagem preta,
no cemitério com vagar entrou.
Junto ao sepulcro, se curvando ao meio,
com tristes frases nesta voz falou:

"Perdão, Emília, se roubei-te a vida,
se fui impuro, fui cruel, ousado.
Perdão, Emília, se manchei teus lábios.
Perdão, Emília, para um desgraçado."

"Monstro tirano, por que vens agora,
lembrar-me as mágoas que por ti passei?
Lá nesse mundo em que vivi chorando,
desde o instante em que te vi e amei.

Chegou a hora de tomar vingança,
mas tu, ingrato, não terás perdão.
Deus não perdoa as tuas culpas todas,
castigo justo tu terás, então."

Mas eis que um corpo resvalando a terra,
tombou de chofre sobre a terra fria.
E quando a aurora despontou na lousa,
um corpo inerte a dormitar se via. (bis)

"Perdão, Emília, se roubei-te a vida,
se fui impuro, fui cruel, ousado.
Perdão, Emília, se manchei teus lábios.
Perdão, Emília, para um desgraçado."

Tá-hi (Pra Você Gostar de Mim)

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Título: Tá-hi (Taí)
Compositor: Joubert de Carvalho
Ano: 1930

Pensar que o autor do primeiro grande sucesso de Carmen Miranda foi Joubert de Carvalho já parece improvável. Joubert de Carvalho não era compositor de marchinhas carnavalescas, tanto que a sua segunda música mais conhecida é "Maringá", música que, inclusive, deu origem à cidade paranaense de mesmo nome.

A composição mais conhecida de Joubert de Carvalho, no entanto, ficou conhecida não pelo seu título original "Pra Você Gostar De Mim", mas como o simples e indefectível "Tá-hi". Ainda hoje, mais de 80 anos após a primeira gravação, se alguém lançar a primeira palavra da canção, "Tá-hi", vem imediatamente "eu fiz tudo pra você gostar de mim / ai meu Deus não faz assim comigo não / você tem, você tem que me dar seu coração".

E "Tá-hi" foi feito sob encomenda para Carmen Miranda. Segundo relata Ruy Castro, na biografia que escreveu sobre a cantora (Cia das Letras, 2005), Joubert de Carvalho passava pela rua quando o Srº Abreu, gerente da loja "A Melodia", o chamara com o intuito de fazê-lo ouvir um disco que acabara de sair. A canção era "Triste Jandaia", da então desconhecida Carmen Miranda. Depois de tocar o disco várias vezes, não é que a própria Carmen Miranda aparece na loja? Quando o Srº Abreu exclama: "Taí a nova cantora!".

Apresentados, Joubert de Carvalho falou de seu interesse em compor algo para Carmen Miranda, que prontamente lhe deu seu endereço.

Joubert de Carvalho saiu da loja com uma palavra - "Taí" - e uma melodia na cabeça. Menos de 24 horas depois, com a partitura debaixo do braço, tocou a campainha de Carmen Miranda na travessa do comércio.


Nas palavras do próprio Joubert de Carvalho (Veja o vídeo no final desta postagem):

"É o seguinte... eu passava pela Rua do Ouvidor, ali tinha uma casa de música 'Melodias' e o gerente da casa chamou-me e disse:
- Joubert venha ouvir uma cantora nova aqui.
Ele botou então um disco da Carmen. Eu não sabia quem era, eu notei que havia presença no disco, e eu disse:
- Olha, Abreu eu gostaria de fazer uma música para essa cantora porque ela interpreta muito bem.
- Ué, isso é fácil!
- Onde é que ela mora?
- Ela costuma vir aqui de vez em quando, mas eu falo, ela deixa o endereço.
De repente ele (Abreu) disse assim:
- Taí, ó, ela taí chegando!
Eu não sei, aquele 'Taí' ficou na minha cabeça e no dia seguinte eu levava para ela a música..."


Relata Ruy Castro, no seu livro, que Carmen Miranda aprendeu a música prontamente, e, quando Joubert de Carvalho tentou orientar sua interpretação, ela disse, com um brilho no olhar:

"Não precisa me ensinar, não, que na hora da bossa, eu entro com a boçalidade!"

E, captando um certo choque no rosto do educado Joubert de Carvalho, logo se corrigiu:

"Desculpe, mas eu sou assim mesmo, meio desabrida!"

Tudo isso ocorreu no começo de 1930, e a música "Taí" tornou-se não apenas um grande sucesso daquele ano, mas também do carnaval seguinte. Foi a música que tornou Carmen Miranda conhecida nacionalmente. O resto é história!

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Joubert de Carvalho e Carmen Miranda, visite o blog Famosos Que Partiram.



Tá-hi

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Oh! meu bem não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração! (Bis)

Meu amor, não posso esquecer,
se dá alegria faz também sofrer.
A minha vida foi sempre assim,
só chorando as mágoas que não têm fim.

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Oh! meu bem não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração! (Bis)

Essa história de gostar de alguém,
já é mania que as pessoas têm.
Se me ajudasse Nosso Senhor,
eu não pensaria mais no amor.


Nervos de Aço

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Título: Nervos de Aço
Compositor: Lupicínio Rodrigues
Ano: 1947

"Nervos de Aço"é a dor-de-cotovelo clássica composta por Lupicínio Rodrigues para sua noiva Inah. A música trata do sofrimento de alguém que vê o ser amado na companhia de outra pessoa.

Lupicínio Rodrigues fez essa música em homenagem a um grande amor que teve na vida, a mulata Inah, que teria sido sua primeira namorada, sua primeira noiva e também sua primeira desilusão amorosa. Lupicínio Rodrigues e Inah namoraram durante seis anos, e Lupicínio não se decidia em casar, até que eles terminaram e Inah terminou se casando com outro. Disse Lupicínio Rodrigues que ela foi a única mulata de sua vida... depois disso, só teve problemas com loiras.

Certo dia, Lupicínio Rodrigues viu Inah de braço dado com o marido, sentindo um choque tremendo, misto de ciúme, despeito, amizade ou horror. Ficou assim com uma tremenda dor-de-cotovelo de uma vida, que virou dor-de-cotovelo de muitas vidas.

A música é direta, sem firulas e fala de alguém que tem um amor e se vê diante desse amor junto com um "outro qualquer". O personagem desdenha do rival, e consagra a velha expressão, "pessoas com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração", e dizendo que, talvez elas, ainda assim, reagiriam passando o que Lupicínio Rodrigues passara. E termina resumindo a sensação quando vê a moça... um desejo de morte ou de dor...

Nas próprias palavras de Lupicínio Rodrigues:

"'Nervos de Aço'é também uma das grandes "dor" de cotovelo. Essa é uma história muito complicada, quando eu fui noivo pela primeira vez e encontrei minha noiva de braços com um cidadão e ela me disse que se casaria com o primeiro sujeito que ela encontrasse, nem que tivesse que morrer de fome por causa deste ato. E eu então fiz esta música que intitula-se 'Nervos de Aço'".

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Nervos de Aço

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor,
ter loucura por uma mulher.
E depois encontrar esse amor, meu senhor,
nos braços de um outro qualquer.

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor,
e por ele quase morrer.
E depois encontrá-lo em um braço,
que nenhum pedaço do meu pode ser.

Há pessoas com nervos de aço,
sem sangue nas veias e sem coração.
Mas não sei se passando o que passo,
talvez não lhes venha qualquer reação.

Eu não sei se o que trago no peito,
é ciúme, despeito, amizade ou horror.
Eu só sei é que quando a vejo,
me dá um desejo de morte ou de dor.


Maracangalha

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Título: Maracangalha
Compositor: Dorival Caymmi
Ano: 1955

Poucas músicas de Dorival Caymmi são tão conhecidas quanto "Maracangalha". Na verdade, trata-se de uma letra simples, uma melodia também simples, que faz da música uma daquelas que parece ter sido feita desde sempre... Stella Caymmi, neta do compositor, contou assim a história da música, no seu livro "Dorival Caymmi: O Mar e o Tempo":

"O samba foi feito na tarde do dia 29 de julho de 1955, uma sexta-feira, em São Paulo, enquanto pintava um auto-retrato, em seu apartamento. De repente, veio em sua mente uma frase de Zezinho, seu amigo de infância em Salvador: 'Eu vou pra Maracangalha'.
Dorival Caymmi se lembra: 'Toda vez que eu dava a ideia dele vir ao Rio de Janeiro, ele desconversava. Isso me intrigava'. Mas logo depois o amigo se abriu. Zezinho tinha uma amante em Itapagipe, Áurea, e com ele tinha quatro filhos.
- Como é que você sustenta essa filharada? - O compositor perguntou espantado.
- Eu me viro. Respondeu Zezinho.
Mas Dorival Caymmi queria saber mais.
- Como é que você faz para vê-la sem que Damiana desconfie?
- Eu forjo um telegrama para mim mesmo e digo: 'Eu vou pra Maracangalha'. É lá que eu compro saco de encher açúcar para embarcar, e ela não desconfia. - Explicou Zezinho.
'Maracangalha' saiu por isso. Fiquei apaixonado pela sonoridade da palavra. Agradeço tanto a Zezinho" - Comentou Dorival Caymmi, revelando a fonte de sua inspiração."

Zezinho, além de sua esposa e família, possuía com uma amante, quatro filhos, que moravam em outra parte de sua cidade. A desculpa que ele usava para visitar a segunda família era enviando para si mesmo um telegrama, informando de negócios precisando de atenção na comunidade de Maracangalha, na Bahia.

Após voltar para sua família "oficial", Zezinho sempre trazia um saco de açúcar - ele trabalhava na usina da comunidade - como prova de onde havia ido.

Dorival Caymmi, intrigado com a poesia nesse subterfúgio de usar o nome da comunidade, compôs "Maracangalha" de uma só vez.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Dorival Caymmi, visite o blog Famosos Que Partiram.



Maracangalha

Eu vou pra Maracangalha eu vou.
Eu vou de uniforme branco eu vou.
Eu vou de chapéu de palha eu vou.
Eu vou convidar Anália eu vou.

Se Anália não quiser ir eu vou só,
eu vou só,
eu vou só.

Se Anália não quiser ir eu vou só,
eu vou só,
eu vou só sem Analia,
mais eu vou.

Eu vou pra Maracangalha eu vou
Eu vou de uniforme branco eu vou
Eu vou de chapéu de palha eu vou
Eu vou convidar Anália eu vou

Se Anália não quiser ir eu vou só,
eu vou só,
eu vou só.

Se Anália não quiser ir eu vou só,
eu vou só,
eu vou só sem Analia,
mais eu vou.


Sentado à Beira do Caminho

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Título: Sentado à Beira do Caminho
Compositor: Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Ano: 1969

"Sentado à Beira do Caminho"é uma canção composta,  letra e música, por Roberto Carlos e Erasmo Carlos e lançada no formato compacto simples em maio de 1969 por Erasmo Carlos. É considerada um marco na vida do compositor Erasmo Carlos e ele chegou a declarar no programa "Sarau", apresentado pelo jornalista Chico Pinheiro, tratar-se da música mais importante da sua vida.

Inspirada em uma canção sucesso no ano de 1968, "Honey (I Miss You)" de Bobby Russell, interpretada por Bobby Goldsboro.

"Sentado à Beira do Caminho" é uma canção romântica descrevendo o desespero e a desesperança de um apaixonado que se encontra na "beira de uma estrada" aguardando por sua amada. Nesta situação, a letra descreve o que se passa na estrada - movimento, chuva, sol, trânsito - enquanto o personagem espera por sua grande paixão.

O refrão "Preciso acabar logo com isto, preciso lembrar que eu existo", segundo uma entrevista de Erasmo Carlos, foi criação de Roberto Carlos, após uma madrugada inteira atrás das "palavras certas", e que surgiu após um breve cochilo.

O arranjo da primeira versão da música é valorizada pelo teclado Hammond B-3 de Lafayette Coelho Varges Limp, bastante original e criativo e também pelo guitarra base de Aristeu Alves dos Reis.


A canção, para Erasmo Carlos, veio no momento certo, em um período de indefinição da sua carreira profissional, que começava a passar por dificuldades devido ao fim do sucesso do movimento da "Jovem Guarda". Para Nelson Mota, em seu livro "Noites Tropicais", a música"Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" simbolizou para o início da jovem guarda o que "Sentado à Beira do Caminho" representou para o ocaso dos belos momentos do movimento, também chamado de Iê-Iê-Iê, uma febre entre os jovens em meados da década de 1960.

O tema da balada foi uma ideia de Roberto Carlos, parceiro na música, que percebendo o desgaste da fórmula juvenil da Jovem Guarda, já havia abandonado o programa homônimo em que se apresentava, partindo para uma fase mais madura, rumo ao título de maior ídolo da música brasileira. Erasmo Carlos e Wanderléia permaneceriam por pouco tempo no comando do programa que, àquela altura, era mais um entre tantos outros e se arrastava em um verdadeiro clima de melancolia.

Para alegria de Erasmo Carlos o sucesso da música foi imediato e mereceu destaque em um capítulo completo da novela "Beto Rockfeller" (1968-1969), um grande sucesso da TV Tupi, onde o ator Luís Gustavo, o protagonista principal, andava pelas ruas ao som do hit, naquilo que Nelson Mota chamaria capítulo-clip, marcando uma reviravolta na carreira do cantor. A novela chegou a executá-la na íntegra em um capítulo, enquanto o personagem principal caminhava pelas ruas de São Paulo.

O sucesso inquestionável da música esta refletido nas dezenas de regravações, nos mais diferentes estilos, com direito a versões em espanhol e italiano.

Na época, a gravação de Erasmo Carlos foi um estrondoso sucesso, tornando a colocar o cantor nas paradas de sucessos nacionais. As rádios não paravam de tocar a canção em todo o Brasil.


Versões

Em 1980, Erasmo Carlos regravou esta canção, com participação de Roberto Carlos, e outras versões em castelhano foram gravadas pela dupla.

Uma versão em italiano foi gravada por Ornella Vanoni. A regravação, chamada de "L'Appuntamento", foi um dos sucessos da cantora em 1970. Esta versão fez parte da trilha sonora do filme "Doze Homens e Outro Segredo", de 2004.

Em 2006, Andrea Bocelli e Roberto Carlos regravaram a versão em italiano. Outra versão em italiano foi gravada em 2012 por Raul Malo, no álbum ao vivo "Around The World".

Em 2012 a banda Fresno gravou como parte do projeto "Muda Rock".



Sentado á Beira do Caminho

Eu não posso mais ficar aqui a esperar
Que um dia, de repente, você volte para mim
Vejo caminhões e carros apressados a passar por mim
Estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim
Meu olhar se perde na poeira dessa estrada triste
Onde a tristeza e a saudade de você ainda existe
Esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança
De ao menos ver de perto o seu olhar que eu trago na lembrança

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo

Vem a chuva, molha o meu rosto e então eu choro tanto
Minhas lágrimas e os pingos dessa chuva
Se confundem com o meu pranto
Olho pra mim mesmo me procuro e não encontro nada
Sou um pobre resto de esperança à beira de uma estrada

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo

Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo
Se confunde em minha mente
Minha sombra me acompanha e vê que eu
estou morrendo lentamente
Só você não vê que eu não posso mais ficar aqui sozinho
Esperando a vida inteira por você
sentado à beira do caminho

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo


Vingança e Nunca

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Títulos: Vingança e Nunca
Compositor: Lupicínio Rodrigues
Ano: 1951 e 1952

"Vingança"é um dos clássicos de Lupicínio Rodrigues, juntamente com "Nunca", inspirados em Mercedes, também conhecida por Dona Carioca.

"Vingança" foi o maior sucesso comercial de Lupicínio Rodrigues. Composta como um desabafo diante da traição de Mercedes, uma de suas muitas namoradas, foi gravada por Linda Batista em 1951 e fez sucesso até no Japão.

Com o dinheiro que ganhou naquele ano, Lupicínio Rodrigues comprou um carro e batizou-o com o mesmo nome da canção.

"Toda vez que uma mulher me trai, eu ganho dinheiro", costumava dizer Lupicínio Rodrigues, afirmando que só escrevia sobre experiências vividas por ele ou por seus amigos. "As mulheres boazinhas nunca me deram dinheiro, só as que me traíram!".

"O Som do Pasquim" (Ed. Desiderata, 2009) é um livro organizado por Tárik de Souza, reunindo algumas antológicas entrevistas que o pessoal do Pasquim, Ziraldo, Jaguar e Henfil, fez com cantores e compositores nos anos 70. Segundo Jaguar, "quando o jornaleco e a MPB estavam no auge, nem a Censura conseguia segurar!".

Uma das entrevistas antológicas foi com Lupicínio Rodrigues, um dos cinco maiores compositores gaúchos de todos os tempos, que contou a história de uma série de suas canções. Lupicínio Rodrigues, pra quem não sabe, foi quem criou a expressão "dor de cotovelo", sendo ainda responsável por classificá-las em dor de cotovelo federal (que só poderia ser curada com embriaguez total),  estadual (suportável, que se ajeitava com o passar do tempo) e  municipal (incapaz até mesmo de inspirar um samba).

Duas das  músicas inspiradas numa "Dor-de-cotovelo Federal" são "Vingança" e "Nunca" , ambas inspiradas numa mesma mulher. Lupicínio contou ao pasquim a história:

Lupicínio: A mulher que me inspirou "Vingança" viveu comigo seis anos. E depois terminou namorando um garoto que era meu empregado, que tinha 16, 17 anos.
Pasquim: Foi passado pra trás por um garoto de 17 anos?
Lupicínio: Não foi bem assim. É que eu tinha viajado, ela mandou chamar o garoto. Disse que queria falar com ele. Ela mandou um bilhete. O garoto com medo de mim, quando eu cheguei, me entregou o bilhete. Disse: "Olha, a Dona Carioca me mandou esse bilhete. Eu não sabia o que ela queria comigo. Não fui!". Entregou a mulher. Aí eu não disse nada, fiquei quietinho, inventei outra viagem, peguei a mala e fui embora.
Pasquim: Endoidou?
Lupicínio: Era época de carnaval, ela endoidou. Botou um "Dominó". Dominó é aquela fantasia preta que cobre tudo. No carnaval, feito louca, foi me procurar. Uma certa madrugada, ela, num fogo danado - parece que deu fome, entrou num bar onde a gente costumava comer. Foi obrigada a tirar o "Dominó" pra comer, e o pessoal a reconheceu. Perguntaram: "Ué, Carioca, que você está fazendo aqui a essa hora? Cadê o Lupi?".
Pasquim: Carioca por quê? Ela é carioca?
Lupicínio: É sim. Ela é viva, mora aqui. Aí ela começou a chorar. Eu estava num restaurante do outro lado. Uns amigos chegaram e me disseram: "Ô, encontramos a Carioca vestida de 'Dominó', num fogo tremendo. Começou a chorar e perguntar por ti. O que houve, vocês estão brigados?". Aí foi que eu fiz "Vingança". Na mesma hora, comecei, saiu (cantando): "Gostei tanto, tanto, quando me contaram..."
Pasquim: Foi uma ruptura pra valer?
Lupicínio: Eu sou muito amigo dos pais de santo, os batuqueiros lá de Porto Alegre. em cada lugar que chegava ela botava fotografia minha, cabritas, aquele negócio todo para fazer as pazes. Aí eu fiz (canta) "Nunca, nem que o mundo caia sobre mim / Nem se deus mandar nem mesmo assim."
Pasquim: O que essa mulher contribuiu para a Música Popular Brasileira não foi normal.

Quem ouve "Vingança" e "Nunca" percebe o quanto são canções amargas, de mágoa e desamor.

"Vingança" relata justamente um prazer pelo sofrimento do ser outrora amado, mas que não cede à vergonha, que na verdade é o orgulho, o sentimento da honra decorrente de uma traição. E por isso luta internamente, dizendo que, enquanto força houver no peito, o eu-lírico quer apenas vingar-se e querer o mal de quem lhe traíra.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Vingança

Eu gostei tanto,
tanto, quando me contaram.
Que lhe encontraram
bebendo e chorando
na mesa de um bar.

E que quando os amigos do peito
por mim perguntaram.
Um soluço cortou sua voz,
não lhe deixou falar.

Eu gostei tanto,
tanto, quando me contaram.
Que tive mesmo de fazer esforço
pra ninguém notar.

O remorso talvez seja a causa
do seu desespero.
Você deve estar bem consciente
do que praticou.

Me fazer passar tanta vergonha
com um companheiro.
E a vergonha
é a herança maior que meu pai me deixou.

Mas enquanto houver força em meu peito
eu não quero mais nada.
Só vingança, vingança, vingança
aos santos clamar.

Você há de rolar como as pedras
que rolam na estrada.
Sem ter nunca um cantinho de seu
pra poder descansar.

Mas enquanto houver força em meu peito
eu não quero mais nada.
Só vingança, vingança, vingança
aos santos clamar.

Você há de rolar como as pedras
que rolam na estrada.
Sem ter nunca um cantinho de seu
pra poder descansar.


Nunca

"Nunca", por sua vez, relata aquele que sofreu por amor e se recusa a perdoar, pois a perda da ilusão faz sepultar o coração... mas ao final recorre à saudade, como mensageira de um amor que o eu-lírico insiste em dizer que é passado (como foi sincero o meu amor / como eu a adorei, tempos atrás) mas que se confessa presente no final.



Nunca

Nunca!
Nem que o mundo caia sobre mim,
Nem se Deus mandar,
Nem mesmo assim,
As pazes contigo eu farei.

Nunca!
Quando a gente perde a ilusão,
Deve sepultar o coração,
Como eu sepultei.

Saudade,
Diga a esse moço, por favor,
Como foi sincero o meu amor,
Quanto eu te adorei
Tempos atrás.

Saudade,
Não se esqueça também de dizer
Que é você quem me faz adormecer
Pra que eu viva em paz.

Esses Moços

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Títulos: Esses Moços
Compositor: Lupicínio Rodrigues
Ano: 1948

"Esses Moços" retrata o desencanto amoroso na canção de Lupicínio Rodrigues.

Dizem que Lupicínio Rodrigues é o rei da dor-de-cotovelo, aliás, foi ele quem cunhou a expressão, para quem crava os cotovelos na mesa de um bar, pede uma bebida e chora a perda da pessoa amada.

Como poucos, ele retratou a dor, muitas vezes trechos confessionais de sua própria vida. Mesmo cantando as dores de cotovelo, ele dizia que "é melhor brigar junto do que chorar separado".

Uma das suas músicas que revela maior descrença com o amor é "Esses Moços". Dizem que foi composta depois que seu amigo Hamilton Chaves, então com 22 anos, resolveu casar-se. Lupicínio Rodrigues tentou dissuadi-lo, e aí surgiu então surgiu "Esses Moços".

Os namorados Nilce e Hamilton
Vamos a história:

Hamilton e Nilce começaram a namorar em 1944. Ela se formava em Música, pela Escola de Belas Artes, e no baile de formatura eles dançaram uma vez, depois mais uma, depois uma terceira… Como todos os namorados da época, passeavam na Rua da Praia e tomavam sorvete. Em 1948, o namoro já ia longe e, depois de noivar, o casal cogitava seriamente casar-se.

Foi então que veio o conselho do amigo deles, o compositor Lupicínio Rodrigues, na forma da canção "Esses Moços". Numa primeira e inesperada audição durante a festa de aniversário de HamiltonLupicínio Rodrigues - em pé, no centro da roda de violão - convocou Nilce, deu o tom e disse: "Fiz uma musiquinha pro seu noivo!".

Desconcertada e irritada, Nilce confessaria anos mais tarde ao repórter Eduardo Veras:

"Fiquei furiosa! Eu querendo casar, e o Lupicínio me vem com essa… Quando ele terminou, me aproximei dele e só consegui dizer: Que ursada, hein?"

Mas o jovem Hamilton, felizmente, era teimoso e não deu ouvidos ao poeta.

O casamento de Hamilton e Nilce, em 1948.
"Esses Moços" parece o lamento de alguém castigado pelas dores do amor ("estas rugas que o amor me deixou"), que tenta alertar àqueles que pretendem vivenciar esse amor romântico que eles "deixam o céu, por ser escuro", e "vão ao inferno, à procura de luz". O eu-lírico, que neste caso, parece personificado no próprio Lupicínio Rodrigues, diz que já sonhou, já amou, e tudo o que lhe restou foram mágoas guardadas, de um sofrimento que passou pelos olhos, destruiu-lhe os sonhos e corrompeu-lhe o sangue.

"Esses Moços" é uma música pessimista. Quem ouvi-la com a frieza necessária, verá o lirismo e a beleza da canção. Recomendada para quem acaba de ter uma decepção amorosa, e que deve passar longe dos casais apaixonados. Fez sucesso com Francisco Alves, e foi lindamente gravada por Gilberto Gil.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Esses Moços

Esses moços, pobres moços,
ah! Se soubessem o que eu sei.
Não amavam, não passavam,
aquilo que já passei.

Por meu olhos, por meus sonhos,
por meu sangue, tudo enfim.
É que peço a esses moços,
que acreditem em mim.

Se eles julgam que há um lindo futuro,
só o amor nesta vida conduz.
Saibam que deixam o céu por ser escuro,
e vão ao inferno à procura de luz.

Eu também tive nos meus belos dias,
essa mania e muito me custou.
Pois só as mágoas que trago hoje em dia,
e estas rugas o amor me deixou.

Esses moços, pobres moços,
ah! Se soubessem o que eu sei.
Não amavam, não passavam,
aquilo que já passei.

Por meu olhos, por meus sonhos,
por meu sangue, tudo enfim.
É que peço a esses moços,
que acreditem em mim.


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