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Admirável Gado Novo

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Título: Admirável Gado Novo
Compositor: Zé Ramalho
Ano: 1980

"Admirável Gado Novo" foi escrita na terceira pessoa, ou seja, é um narrador onisciente e objetivo quanto aos fatos relatados. Não é influenciado pelas próprias emoções, até porque ele mesmo não faz parte da narração.

O título da música é notadamente uma referência ao livro "Admirável Mundo Novo" do escritor Audous Huxley. Neste best-seller o escritor defende a ideia de que a sociedade do futuro suprimirá valores como o família, religião, privacidade, dúvida, amor, insatisfação, e todos os momentos da vida de seus cidadãos serão expressamente controlados pelo Estado, como cultura, entretenimento, trabalho, relações sociais. Quando alguns desses valores passam a não fazer mais sentido para alguém, então é a hora desse alguém tomar a "soma" - um comprimido que anestesia e elimina qualquer sintoma de insatisfação - basicamente um droga.

Fazendo um paralelo entre o livro e a música vemos alguns elementos em comum. Ambos possuem sociedades estruturadas em uma ordem rígida e de certa maneira opressora. Enquanto uma suprime valores como privacidade a outra trata seus cidadãos com "vida de gado".

Podemos notar também a intenção e compromisso de ambos os Estados em manter a ordem instaurada. O do livro se utiliza de uma droga, a "soma", enquanto o outro de promessas que nunca são cumpridas - "Vocês que fazem parte dessa massa que passa nos projetos do futuro".

Entenda "projetos do futuro" como uma promessa de que "dias melhores virão". Se hoje você esta insatisfeito e infeliz com a vida e com o sistema, deve manter a calma, pois o sistema está trabalhando para no futuro inverter este quandro e tornar a sua vida melhor. Tenha paciência. Nessa história a opressão do sistema se mantem irretocável.



Admirável Gado Novo

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber

E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer

Êh, oô, vida de gado
Povo marcado êh
Povo feliz!

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal

E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!

Êh, oô, vida de gado
Povo marcado êh
Povo feliz!

O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela

Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar

Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!


Fonte: Flor do Lácio

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