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Channel: Eternas Músicas
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Canteiros

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Título: Canteiros
Letra Original: Cecília Meireles (Marcha)
Música e Versão: Fagner
Ano: 1973

A belíssima música "Canteiros" de "autoria" do cantor cearense Raimundo Fagneré uma das música mais polêmicas da história musical brasileira. Toda essa polêmica não tem a ver com a canção em si, mas com a autoria da mesma.

A canção foi lançada em 1973, no álbum de estreia do cantor, e, na ocasião, não fez lá muito sucesso. Posteriormente, quando o cantor já havia estourado lá na região sudeste, a música se tornou um grande sucesso. Na ocasião, foi aberto um processo criminal contra o cantor, pelas filhas da grande poetisa brasileira Cecília Meireles, por supostamente ter plagiado o poema "Marcha", de autoria da mesma.

Em 1979, durante uma audiência, ao ser interrogado no dia pelo Juiz Jaime Boente, na 16ª Vara Criminal, Fagner afirmou que ''sem tirar a beleza dos versos, procurou fazer uma adaptação à música'', reconhecendo o uso indevido do poema "Marcha", de Cecília Meireles, na composição "Canteiros". O próprio cantor, antes mesmo de ser acusado de plágio já tinha dividido a parceria da letra com Cecília Meireles e inclusive divulgando-a em release de show, em 1977.

Contudo, apesar deste fato, o processo continuou a se desenrolar, e em 1983, um jornal de circulação nacional destacou em letras garrafais:

''Caso Fagner: filhas de Cecília Meireles ganham na Justiça''

O título da matéria se referia ao fato de as herdeiras terem conseguido condenar as gravadoras Polygram, Polystar, Polifar, as Edições Saturno e o cantor Raimundo Fagner a pagar uma multa de Cr$ 101.000,00 por violação de direitos autorais.

A confusão envolvendo o cantor  e as herdeiras de Cecília Meireles somente chegou ao fim em 1999, quando a gravadora Sony Music fez um acordo com elas para a regravação da música, o que aconteceu em janeiro de 2000, em Fortaleza, no primeiro registro ao vivo das músicas do compositor cearense.


Para o Juiz Jaime Boente, Fagner violou a lei de número 5.988/73 que regula os direitos autorais e com a agravante de plágio, nos artigos 184 e 185 do Código Penal. Eis, a título de curiosidade e comparação com a letra cantada por Fagner, o poema ''Marcha'', original de Cecília Meireles:

''Quando penso no teu rosto, fecho os olhos de saudade
Tenho visto muita coisa, menos a felicidade
Soltam-se meus dedos tristes
dos sonhos claros que invento
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento"

Fagner mudou algumas coisas e o trecho da música ficou assim:

''Quando penso em você, fecho os olhos de saudade
Tenho visto muita coisa, menos a felicidade
Correm dos meus dedos longos
os versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
já me dá contentamento"



Canteiros

Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade

Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento

Pode ser até manhã
Sendo claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem
me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois se não chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração


Marcha

As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebram as formas do sono
com a idéia do movimento.


Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.


Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.


Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.


Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos ristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentameno.


Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lágrima nem grito:
apenas consentimento.



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