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Nuvem Passageira

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Nuvem Passageira
Hermes Aquino
1976

Sucesso da novela "O Casarão" (1976), que tinha no elenco grandes nomes da dramaturgia brasileira, como Paulo Gracindo, Yara Côrtes e Mário Lago. A canção logo caiu no gosto do público pela beleza da música e letra coberta de figuras de linguagens românticas.

Do disco "Desencontro de Primavera" (1977) e com melodia para lá de intencional, cheia de elementos sonoros que ratificam a mensagem leve da letra, "Nuvem Passageira" é um belíssimo poema tematizando o efêmero da vida, defendendo a tese de que devemos viver intensamente cada oportunidade da nossa existência terrena.

Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.

Tudo na vida é transitório, nada do que somos ou fazemos é permanente, eterno. O próprio passar do tempo se encarrega de transformar. As nuvens são assim, elas passeiam pelo céu e nunca estão paradas e mudam de forma a cada momento que as vemos. O vento dá movimento e, quando você menos percebe, elas já desapareceram de sua vista. Assim somos nós. Por analogia podemos dizer que o tempo é o vento que provoca as alterações de nossas vidas. A relação pode ser feita também com um cristal em que se dedica cuidados especiais, como se fosse uma preciosidade que não se deprecia. Todo mundo sabe que um cristal quando se quebra não tem remendo. Jamais será o mesmo que foi antes da queda que o fez se quebrar.

Não adianta escrever meu nome numa pedra,
pois esta pedra em pó vai se transformar.

Nesses versos o autor realça a certeza de que nada é para sempre. Por mais que se imagine a solidez de algo, tornando-o permanente, comparando-o com a pedra, por exemplo, a realidade tem demonstrado que no decorrer do tempo o que era pedra pode virar pó. O nome escrito na pedra desaparecerá e ficará apenas a lembrança do que fez, na intenção de deixar um registro que nunca se apagaria.

Você não vê que a vida corre contra o tempo,
sou um castelo de areia na beira do mar.

O autor começa a valorizar a consciência de que a vida deve ser vivida intensamente a cada instante, porque ela passa rapidamente ao correr do tempo. Novamente usa a imagem de um castelo de areia construído à beira mar para denotar a fragilidade do nosso existir. Basta vir uma onda do mar para fazer ruir o castelo de areia. Então, que esse castelo seja útil enquanto estiver de pé, sem o risco de ser alcançado pelas águas da praia.


A lua cheia convida para um longo beijo,
mas o relógio te cobra o dia de amanhã.

Muitas vezes somos seduzidos por desejos circunstanciais e nos entregamos a eles como se fossem infinitos. Esquecemos que o amanhã já nos cobrará outras atitudes, outras posturas, outras formas de viver a vida. Daí a necessidade de aproveitar ao máximo cada momento da vida.

Estou sozinho, perdido e louco no meu leito,
e a namorada analisada por sobre o divã.

A ideia do sujeito sozinho e cheio de impulsos no leito, enquanto a namorada está analisada no divã, pontua a quebra radical diante das cobranças do tempo. Dizendo o que é, desenhando uma imagem para si, o sujeito investe naquilo que mina, que não tem forma fixa, a fim de convidar o ouvinte à vida: "Você não vê que a vida corre contra o tempo", diz.

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva,
não quero nem saber de me fazer, ou me matar.

Fugir das preocupações. "Dançar na chuva", quer dizer fazer o que lhe der prazer, atirar-se na vida. Não se angustiar com a possibilidade da morte ou com as dificuldades que possa enfrentar no dia a dia.

Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia,
sou um castelo de areia na beira do mar.

A decisão é fazer valer toda a sua capacidade de viver enquanto puder, para que não se arrependa quando "o castelo de areia" estiver sendo desmanchado pelas águas do mar. 

O sujeito se eterniza na vivência plena de cada ato, na experimentação cotidiana: aproveitar a lua cheia, por exemplo. Qualquer possível certeza de solidez é apresentada pela fragilidade que ela possui. É o caso da pedra que "em pó vai se transformar".

"A curta expectativa de vida é o trunfo dos impulsos, dando-lhes uma vantagem sobre os desejos", escreveu Zygmunt Bauman no livro "Amor Líquido". O sujeito de "Nuvem Passageira" quer guardar o mundo pelo transitório, na fragilidade dos laços, naquilo cujas consequências não ultrapassam a superfície da pele.


Nuvem Passageira

Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.

Não adianta escrever meu nome numa pedra,
pois esta pedra em pó vai se transformar.
Você não vê que a vida corre contra o tempo,
sou um castelo de areia na beira do mar.


Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.

A lua cheia convida para um longo beijo,
mas o relógio te cobra o dia de amanhã.
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito,
e a namorada analisada por sobre o divã.


Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva,
não quero nem saber de me fazer, vou me matar.
Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia,
sou um castelo de areia na beira do mar.


Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.



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